2022 ኦገስት 17, ረቡዕ

PHENIX CAIXEIRAL - ALUNS ANTECEDENTES


PHENIX CAIXEIRAL

Associação dos Empregados do Comércio do Ceará

 

Fundada em 24 de maio de 1891 e instalada em 24 de junho do mesmo ano.
Considerada de utilidade pública pelo Decreto Federal n 3523, de 28 de agosto de 1891.


O motivo principal que suscitou a ideia de uma agremiação que salvaguardasse a classe caixeiral em Fortaleza foi o elevado grau de exploração dos empregados do comércio por parte dos comerciantes que chegou a termos insuportáveis, sendo essa atividade comparada à escravidão por muitos dos seus representantes, entre os quais cito Rodolfo Teófilo.  Os patrões por sua vez justificavam tal situação devido ao fato de serem os comerciários desprovidos de instrução e cultura. Cientes de serem agentes pagadores de impostos ao Estado, os patrões não demonstravam qualquer sinal de negociação com os empregados. Esses por sua vista não possuíam qualquer entidade coletiva que os representasse.

Eram lastimáveis as condições de trabalho dos auxiliares do comércio em Fortaleza. Os mesmos não tinham direito ao voto, e eram equiparados aos criados de servir. As fontes conhecidas nos indicam que o perfil da maioria dos caixeiros era de jovens migrantes, filhos de pequenos pecuaristas e agricultores do sertão, que deixavam suas localidades por falta de perspectivas. Esses jovens eram compelidos à profissão de caixeiros de balcão ou a pequenos comerciantes.

Em Fortaleza, a partir do terceiro quartel do século XIX, configura-se um ambiente sócio econômico favorável ao surgimento de uma incipiente classe média, que se formava por conta da baixa atividade econômica em todo o estado que à época girava em torno da cultura do algodão.

Os reflexos da plantação, logística e exportação do algodão em uma Fortaleza ainda provinciana, propiciam saltos de desenvolvimento significativo. Intelectualmente forma-se um caldeirão de ideias na mente dos jovens que se materializam na forma de várias agremiações culturais e recreativas.

Engajados na campanha abolicionista os caixeiros fundam o Clube Abolicionista Caixeiral em 1873 sob a direção de Antonio Papi Junior.

Em 1870 a classe caixeiral cria a Sociedade Beneficente, tendo seus estatutos aprovados em 1871, com o nome de 8 de Dezembro.

Nesse contexto os caixeiros, assim eram chamados os comerciários à época, iniciaram uma movimentação no sentido de criar uma instituição que fosse capaz de representá-los, trazer visibilidade à categoria, instrução e beneficência. O engajamento de Miguel Teixeira da Costa Sobrinho, Bemvindo Alves Pereira, Heraclito Domingues da Silva, Raymundo Cabral, Januário Augusto Fernandes e Cesar A. da Silva e demais caixeiros materializou os anseios da classe dos auxiliares do comércio e fundou a 24 de maio de 1891 a Sociedade Phenix Caixeiral, reunião ocorrida nas dependências do imóvel de n° 193 da Rua Formosa. Ato contínuo proclamou o Presidente Provisório que foi o Sr. José Vieira da Mota, que instalou nesse momento a mesa provisória com seus componentes.

Analisando os nomes de seus idealizadores percebe-se quão humilde era essa recém-criada associação. Talvez essa suposta fragilidade tenha suscitado oposição à ideia, capitaneada por alguns patrões que encontrou eco em uns poucos colegas comerciários. Superados os obstáculos os seis jovens acima citados instalaram solenemente no dia 24 de junho seguinte a Phenix Caixeiral, Instituição sociocultural, educacional, beneficente e filantrópica que rapidamente alçou elevado grau de reconhecimento por parte de toda a sociedade de Fortaleza e prestígio de seus associados.

Após a eleição foi nomeado presidente Antônio Alves Brasil.

Em agosto do mesmo ano de 1891 abriram-se as aulas da sua Escola de Comércio, um dos cursos mais concorridos à época em Fortaleza.

Atingindo grande êxito a Phenix Caixeiral inaugura a primeira sede própria em 1905, localizada na esquina da Rua Guilherme Rocha com General Sampaio (demolida) e com a expansão das atividades a segunda e maior sede que ficava Na Rua 24 de Maio esquina com Guilherme Rocha (demolida).  

Existiu a Phenix Caixeiral de 1881 a 1979.

O Instituto do Ceará, que é considerado o repositório de nossa memória e coexistiu a Phenix, nada produziu sobre a Instituição. Exceto uma revista de tiragem ocasional, não houve na época nenhuma publicação contemplando sua atuação.

Não se questiona o mérito do final de suas atividades fim. Porém a falta de registros históricos e fontes documentais primárias, provavelmente extraviadas, Impossibilitam uma análise mais aprofundada do seu apogeu com reflexos na área sociológica.  A nulidade da conservação do seu patrimônio material constitui-se em perda significativa de importante capítulo da História de Fortaleza.



Fac-símiles da folha de rosto, página 2 (dedicatória ao Barão de Studart) e página 3, do Discurso proferido por Assis Bezerra Filho, na sessão comemorativa do 14º aniversário da Phenix Caixeiral.
Fonte: Arquivo da Biblioteca Nacional, cedido via pesquisa em 2015. 

Armando Farias


CEARÁ. Governo do Estado. Terra cearense: álbum de propaganda em geral, organizado no governo do Eminente Desembargador José Moreira da Roca,1925.

SILVA, Pedro Alberto de Oliveira. A “Phenix Caixeiral” (1891 – 1979) e como desapareceram dois testemunhos importantes da História de Fortaleza. Revista do Instituto do Ceará, 2008.

2022 ኦገስት 16, ማክሰኞ

PHENIX CAIXEIRAL - ÚLTIMOS REMANESCENTES EM FORTALEZA

Hoje, dia 17 de agosto, se comemora o dia do Patrimônio Histórico, com algumas conquistas nessa área podemos citar a Lei PL 128/2016 aprovada pelo Senado Federal, que torna crime a depredação de bens tombados.

Em nível de Estado do Ceará, mais especificamente falando de Fortaleza, observa-se a falta de lastro no que toca a proteção ao Patrimônio.

Em dezembro de 2014, registrei uma visita ao último imóvel que abrigou a sede da Fênix Caixeiral em Fortaleza, ou "Phenix Caixeiral" na ocasião já desativada, bem como o colégio homônimo. Trata-se da casa onde residiu o ex Governador Meneses Pimentel, sito à Avenida do Imperador n° 636 – Centro.




Fotos do acervo particular

O imóvel já havia sido vendido e a preocupação voltou-se para as esculturas que ainda remanesciam no local, visto que a parte documental estava em local ignorado. Diante da eminente possibilidade de uma perca acionei a reportagem da TV Diário que foi de pronto ao local registrar o fato. Deslocou-se a competente jornalista Quilvia Muniz e seu cinegrafista.

Também fiz a propositura dotombamento junto a SECULTFOR n° de Processo P420051/2014 contemplando as peças escultóricas que eram na ocasião em número de quatro, sendo três esculturas femininas em tamanho natural e a simbólica ave em formato de águia. Peças que ornava a fachada da mais antiga sede da Instituição, imóvel próprio que fora construído em 1905 e se localizava na esquina da Rua Guilherme Rocha com General Sampaio.

Como mencionado anteriormente a falta de proteção é observada em vários casos semelhantes. Passados quase oito anos não se sabe onde estão essas centenárias e simbólicas esculturas. Se é que ainda existem.

Para além das esculturas a própria Instituição Phenix Caixeiral merece grande destaque nos anais da História do Ceará visto a magnitude de abrangência da sua atuação bem como as décadas que trabalhou em prol do bem estar da classe comerciária em Fortaleza.

Armando Farias.

2022 ሜይ 17, ማክሰኞ

SEMANA NACIONAL DOS MUSEUS - 20a. EDIÇÃO

Dia 18 de maio se comemora o Dia Internacional do Museu. A pergunta que não quer calar, Fortaleza tem algo a comemorar nesse dia tão importante que celebra a memória e a História? 

O fortalezense se depara nesse dia, ou em toda a semana dedicada aos museus com o seu principal equipamento fechado. O Museu do Ceará está de portas fechadas e sem previsão de volta a sua atividade fim. 

O Farol do Mucuripe, um espaço por si museológico em total estado de abandono. Há ainda a destruição por demolição de importantes edificações de relevante interesse para a Cidade de Fortaleza, e muitas na iminência de ruir. 

Fortaleza não conta até hoje com um único equipamento alçado à competência do Ibram – Instituto Brasileiro de Museus. Em uma perspectiva otimista fica a esperança que com a implementação do novo complexo museológico da Praça Castro Carreira (da Estação), batizado de Complexo Cultural Estação das Artes, possa o Ceará e a cidade de Fortaleza dispor de um equipamento de fato voltado para a museologia. 



Futuras instalações do Complexo Cultural das Artes
  Fotos do acervo particular

Seria interessante dispormos de um museu temático com referenciais específicos à Cidade de Fortaleza. Um espaço que contasse a História da cidade. Seus aspectos físicos e históricos. A evolução política, comercial, a criação da diocese, a evolução urbana, seus vultos heroicos, enfim, os pormenores interessantíssimos e peculiares que são intrínsecos a nossa cidade, enumerando as referências materiais que desapareceram na urbe ao longo dos anos, assim ficariam de forma documental registrada para a atualidade e a posteridade.

2022 ሜይ 12, ሐሙስ

13 de MAIO Alguns Antecedentes

Hoje, 13 de Maio, quando se comemora a abolição dos escravos de imediato vem a mente dos brasileiros a fulgurante imagem da Princesa Isabel, mais que justamente laureada com título de A Princesa Redentora. 

Para se efetivar esse fato consubstanciado na Lei Áurea muitos acontecimentos na labuta dos abolicionistas ocorreram, entre os quais a abolição dos escravos na Província do Ceará em 1884 e a intensificação do movimento abolicionista em Pernambuco e no Rio de Janeiro.

Figuras proeminentes como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Rui Barbosa são galardoados e fielmente reconhecidos como tal. É a História fazendo suas escolhas. Aqui trarei outros vultos e fatos que igualmente se destacaram nessa árdua luta e são pouco ou nada lembrados.

O Instituto  Histórico e Geográfico de Pernambuco possui uma relíquia do abolicionista Joaquim Nabuco. Trata-se do primeiro processo em que o jurista defende um escravo, no caso Thomás. O responsável pela descoberta foi o historiador João Paulo Costa. O processo com pouco mais de 80 páginas, é de 1869 e versa sobre o assassinato pelo escravo do farmacêutico Brás Pimentel em 1867 por ter mandado açoita-lo. Thomás foi preso julgado e condenado a morte. Fugiu do presídio e na perseguição matou o guarda Afonso Honorato Bastos e feriu o barqueiro Manoel Tavares Ribeiro. Foi novamente preso e condenado.



Nabuco defendeu o escravo cujo novo julgamento ocorreu em 18 de Julho de 1869. "O jovem conseguiu livrar o escravo da pena de morte, mas não da prisão perpétua". Um grande feito para quem era um acadêmico de direito. 

Na publicação Abolição: A Liberdade veio do Norte, Fernando da Cruz Gouvêa traz um bem elaborado cronológico dos anos que antecederam o “13 de Maio” no que toca a política emancipacionista praticada pelos então partidos Liberal e Conservador, que ora se alternavam no Poder Legislativo do Império, que era uma monarquia parlamentar. Esclarecendo que “Norte” na época era o que se compreende hoje por Norte e Nordeste.

O autor foca sua narrativa através de consultas nos jornais ligados às facções que dominavam o cenário político, com destaque para publicações na cidade do Recife e da Corte acerca dos acontecimentos correlatos ao processo abolicionista, apresentado de forma genérica a Província de Pernambuco como protagonista nessa luta. A Província da Bahia com posição ao centro e o Rio de Janeiro contrário ao movimento.

Em meio a essa “ebulição” ocorre a terceira viagem de Pedro II a Europa no ano de 1887 com propósito de tratar da saúde, bastante abalada. Assume a Regência a Princesa Imperial já imbuída do propósito de conduzir a causa da abolição ao seu desfecho final. Isabel depara-se com o Barão de Cotegipe na presidência do Conselho. Cotegipe era natural da Bahia e fazia parte da política da velha guarda, considerado um dos principais estadistas do Segundo Reinado pelo Partido Conservador.
  
Cotegipe fora alertado pela Princesa Regente quando esta assumir o poder “que chegara a hora de se fazer alguma coisa para a abolição, pois o país inteiro discutia o problema e o clima de agitação que envolvia todas as classes não podia continuar” (GOUVÊA, 1988. p. 171). Cotegipe ficara indiferente, parecendo que queria ganhar tempo até a volta do Imperador. Cotegipe enfrentava duras críticas também por parte da imprensa abolicionista e problemas com oficiais da Marinha de Guerra, o que tornou inviável a manutenção do gabinete, sendo dissolvido no dia 10 de Março de 1888.
 
A  Regente escolhe o conselheiro e senador pernambucano João Alfredo Correia de Oliveira para chefiar e escolher os integrantes do novo gabinete a se formar, o que ocorreu no dia 10 de março de 1888. 
 
O jornalista José do Patrocínio militante do movimento de libertação do elemento servil,  reconhecendo que o político pernambucano encontrara  uma situação política caótica, não hesitaria em afirmar no seu jornal Cidade do Rio, que com a participação decisiva de Joaquim Nabuco, José Mariano, Dantas, Rui e tantos outros, a liberdade afinal viria do Norte”. 

No dia 8 de maio de 1888 o governo através do Gabinete Alfredo Correia na pessoa do ministro da Agricultura, conselheiro Rodrigo Silva apresenta ao parlamento em nome da Princesa Imperial Regente sua proposta de abolição em uma memorável sessão da câmara. À época presidia a câmara o Sr. Henrique Pereira de Lucena, futuro Barão de Lucena, político de Pernambuco e membro do Partido Conservador.

No dia 10 de maio, o projeto abolicionista aprovado fora emitido ao senado

O projeto foi aprovado no senado. O senhor presidente Cruz Machado nomeou a comissão que levaria o mesmo para a sanção da Princesa Imperial Regente no dia 13 de maio.

“O vaticínio de José do Patrocínio não demorou dois meses para se tornar realidade: A Abolição, a Liberdade veio do Norte”.(GOUVÊA, 1988, p. 11-14)
 

Armando Farias

GOUVÊA, Fernando da Cruz. Abolição: a liberdade veio do Norte. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 1988.

Diário de Pernambuco C8, 31 de Outubro de 2004.

2022 ኤፕሪል 12, ማክሰኞ

ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA 296 anos

No dia do aniversário de Fortaleza o blog Capitania Siará Grande dedica mais um espaço para mostrar a cidade com suas modificações ao longo das décadas. Referência histórica, arquitetônica e sociológica.

Três fotografias de épocas diferentes nos mostram mudança significativa.

A mais antiga está sem data, em uma análise do documento em si podemos atribuir início dos anos de 1910. A imagem dos trechos iniciais da então Rua Formosa (Barão do Rio Branco) foi capturada dos altos do Palacete Guarani que fora inaugurado em 1908. O transporte predominantemente era de tração animal, e vê-se os trilhos dos bondes que se utilizavam desse modal desativado em 1913, quando foram substituídos pelos bondes elétricos.

Antiga Rua Formosa (aprox. 1910), atual Rua Barão do Rio Branco
Rua Formosa (atual Rua Barão do Rio Branco)
Acervo particular

Rua Barão do Rio Branco, Centro de Fortaleza/CE
Rua Barão do Rio Branco - atualidade 
Acervo particular

A segunda traz a data de 1931. Temos a Praça do Ferreira ainda com os vestígios da Belle Époque em seu coreto ornamentado e o quarteirão do prédio da antiga Intendência incorrupto, hoje desaparecido. Esse edifício fora o primeiro de dois pavimentos construído em Fortaleza em 1825, lembrando a antiga crendice popular da época que repetia a censo comum que o solo arenoso de Fortaleza não suportava construções além do pavimento térreo.

Praça do Ferreira
Praça do Ferreira
Acervo particular

Praça do Ferreira, Centro de Fortaze/CE
Praça do Ferreira - atualidade 
Acervo particular

A ultima foto é de 1970 nos revela o segundo endereço da fonte dos “cavalinhos”. Como manda a tradição tudo em Fortaleza tem que ser mudado. A fonte que fora comprada na Europa para ornamentar a Praça da Lagoinha (Jardim Comendador Teodorico) foi relocada para o Benfica (foto). Anos depois foi retirada, passou mais de uma década recolhida até ressurgir na Praça Murilo Borges, seu atual endereço. 

Fonte dos cavalinhos e Escola de Engenharia UFC
Fonte dos cavalinhos e Escola de Engenharia UFC
Acervo particular

Fonte dos Cavalinhos, Praça Murilo Borges - Fortaleza/CE
Fonte dos cavalinhos Praça Murilo Bordas- atualidade
Acervo particular

As intervensões na malha urbana nem sempre são positivas. A dinâmica é uma característica das cidades, porém certas modificações, ou modificações constantes e radicais podem levar uma cidade e seus habitantes a uma perca de memória. A maneira contemporânea de rever espaços vazios ou decadentes nada mais é que a revitalização, ação que vem ocorrendo em vários países e cidades do Brasil evita o apagamento total de um passado que muito interessa a todos os cidadãos.

Viva Fortaleza!

Armando Farias

2022 ኤፕሪል 10, እሑድ

ARACATI COMEMORA DIA DE FUNDAÇAO.

Hoje se comemora a data do decreto real de criação da Vila da Santa Cruz do Aracati, ocorrido em 11 de abril de 1747. Sua instalação deu-se em 24 de fevereiro de 1748. Porém sua história remonta a princípios do século XVIII. Corrobora com essa informação o professor Geraldo da Silva Nobre (p. 119) “o abate e salga, dando origem as oficinas de carne do Ceará” datam provavelmente, do “ano de 1707, em uma atividade que foi crescendo na medida da conquista do mercado mais próximo, o de Pernambuco”. O lugar era conhecido por São José do Porto dos Barcos.

Uma História de muitos fatos importantes ligados à economia da Capitania do Ceará Grande. A Indústria e o Comércio do charque foi o que propiciou a instalação da vila. O progresso veio rápido, os mercados consumidores de Pernambuco e Bahia eram crescentes. Registros históricos apontam negociantes de Aracati sócios de firmas inglesas.

O crescimento econômico acarretou o crescimento populacional e adiantamento cultural de sua elite, esse movimento repercutiu na arquitetura de seus casarões, igrejas e demais edifícios públicos que  facilmente ainda hoje identificamos em seu centro histórico, antigas referências de importante valor arquitetônico do final do século XVIII e princípios do século XIX.

Foi uma prolongada estiagem (1790 – 1794) que minou a indústria da carne seca. Após esse período a cultura do algodão deu uma sobrevida e impulsionou o crescimento da vila.

O viajante inglês Henry Koster visitou a Aracati em 1811 e de seus detalhados diários depreende-se que o que mais lhe chamou atenção foi à boa acolhida e a predominância de edificações com dois pavimentos. Com relação à mobília nada mencionou, apenas que dormira em uma rede.

Esteve Koster visitando o sobrado do comerciante José Fidelis Barroso associado à Firma Dourado de Londres. Entre seus negócios explorava salinas, era exportador e importador. Na descrição de Gustavo Barroso bisneto do Coronel Fidelis, cita,

“o vasto sobrado de azulejos ainda hoje existe na rua principal, atualmente propriedade da família Costa Lima”.

Segundo João Brígido conservou-se Aracati até 1850 como a primeira praça de comércio e mais opulento povoado da província. Após sobreveio um período longo de decadência e esquecimento. A reboque veio a mutilação e destruição de parte do seu patrimônio material.

Aqui cito o desaparecimento da importante edificação da Casa da Alfândega de Aracati obra de 1800, edificação construída para atender a estrutura de arrecadação do imposto do algodão que saia do porto local. Abandonado pelo poder publico, arruinado, desapareceu por completo em 1911 para dar lugar a uma pequena praça.

Outra perca foi o sobrado das Corujas, cujos detalhes foram sublinhados pelo Professor José Liberal de Castro,

“basta citar o antigo sobrado dito das Corujas, abandonado e impiedosamente demolido na década de 40. Desse conjunto, o mais impressionante do Estado, nem mesmo o portão nobre, de padieira barroca, no muro lateral, foi poupado da destruição” (op. Cit.).

Importante perca foi a demolição do Solar das Correias situado na Rua Santos Dumont, 1208, muito repercutiu. O Jornal O POVO na edição de 7 de novembro de 1980 denunciou a demolição.

Também ressaltou sua importância o Professor José Liberal de Castro,

“Era um inconfundível exemplar de arquitetura oitocentista, de aspecto neoclássico. Mantinha fachada de azulejos importados de Portugal e portões laterais para a entrada de carruagens, aquela, criminosamente destruída na madrugada do dia 1* de novembro de 1980”.

No momento a sociedade aracatiense aguarda a restauração do solar dos Zaranza localizado na Avenida Coronel Alexanzito, 353 que fora desapropriado em 2018 através de Decreto-Lei n* 3.365 onde declara ser o imóvel de utilidade pública.

Relatos da aracatiense Dra. Tarsila Zaranza, Advogada, dão conta que o sobrado ficava ao lado do sobrado das corujas e que fora construído por volta de 1800 pelo político conhecido por Barros, que posteriormente foi assassinado na vizinha cidade de Russas. Os herdeiros então o venderam ao tio de Tarsila, Senhor José Adrião Zaranza Filho que acomodou no imóvel os pais e as cinco irmãs solteironas. Ficou na família Zaranza até o ano de 2002 quando faleceu sua ultima irmã solteira que residia no imóvel.

Segundo Tarsila o edifício tinha muitos cômodos e seus pavimentos distribuídos da seguinte maneira; no térreo funcionava a oficina de marcenaria do avô, José Adrião Zaranza e garagem para carruagens, no primeiro andar acomodavam-se as mulheres e no terceiro e ultimo piso os homens. Ainda havia um sótão. Depois de anos de abandono foi alçado pelo município conforme citado acima.

Recentemente a que se comemorar a entrega do Teatro Francisca Clotilde.

Lamenta-se a falta de referencia as oficinas de carne no município de Aracati, atividade extinta, mas que a ela poderia ser atribuído um valor de patrimônio imaterial para a região e de forma lúdica receber e ilustrar nativos e visitantes dando a conhecer o processo inteligente de preservar as carnes em distantes épocas que deu origem a cidade. Certamente todos nós teríamos mais um motivo para orgulhar-se de Aracati.

Viva Aracati!

Armando Farias

BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.

CASTRO, José Liberal de. Pequena informação relativa à arquitetura antiga no Ceará. Fortaleza, 1977.

LEAL, Hélio Ideburque Carneiro. Singelo Documentário de Alguns Atentados ao Patrimônio Cultural da Cidade de Aracati. Fortaleza: Fundação Edson Queiroz / Universidade de Fortaleza 1995.

2022 ማርች 24, ሐሙስ

DIA 25 DE MARÇO - Data Magna do Ceará.

A data que hoje se comemora vale sublinhar é resultado de longo processo de lutas e embates ideológicos da sociedade cearense do século XIX contra a lei de propriedade do elemento servil. Processo esse que teve início tempos antes do galardoado engajamento do Dragão do Mar.

O cearense sempre deu mostras comportamentais contrários à escravidão, prevalecendo historicamente entre a população sentimentos de igualdade entre conterrâneos e irmãos de outras terras.  

Emprestando um olhar sociológico nota-se que não se constituiu no Ceará nos séculos XVIII e XIX costumes no trato urbano e rural que correspondessem a uma sociedade escravocrata como a estabelecida nos moldes das antigas capitanias, posteriormente, províncias a exemplo Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, tema esse estilizado no clássico (Casa Grande e Senzala) de Gilberto Freire.

A índole do cearense sempre apontou para uma desconstrução do processo escravista. Em meados do século XIX, O Padre Martiniano de Alencar já propusera a substituição de nossos escravos por colonos estrangeiros, antecipando uma ideia que só seria efetivada no final da centúria vigente.

No ano de 1850, nosso parlamentar Pedro Pereira da Silva Guimarães, nos honrou com um projeto na Câmara Geral, que deveria beneficiar daquela data em diante o nascituro filho de escravo.   Óbvio que os escravistas de plantão barraram.

Efetivamente as alforrias espontâneas tornaram-se frequentes no Ceará após a emancipação norte-americana em 1865.

Em 1868 em Resolução nº 1.254 da Assembleia Provincial sancionada em 28 de dezembro pelo presidente Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque autorizava o Executivo a

“despender a quantia de quinze contos de réis com a emancipação de cem escravos que forem nascendo, de preferência os de sexo feminino, os quais serão libertados na pia, cem mil réis cada um” (art. 1º ).

O governo deveria distribuir a quantia pelas diferentes comarcas da Província, disso encarregada em cada termo uma comissão constituída do pároco, do juiz municipal e do presidente da Câmara do Município (ART. 2º).

Logo o sertão imita a capital, e quase todas as comarcas do Ceará passaram a criar comissões semelhantes a de Fortaleza, prosseguindo com as indenizações.  Essa Resolução, com algumas emendas, torna-se a Lei de nº 1.334, de 22 de outubro.

No ano de 1870, surge no Ceará a primeira sociedade libertadora, a de Baturité, instalada em 29 de junho daquele ano, e tem entre o seu quadro de sócios pessoas gradas e intelectuais da época. No mesmo ano (25 de junho), Sobral funda a Sociedade Manumissora Sobralense.

A seca dos três anos 1877-1879, fora inclemente. Houve muitos que se valeram desse triste episódio vendendo clandestinamente escravos a províncias do Vale do Paraíba. Muitas fugas também ocorreram nesse período diminuindo consideravelmente o número de cativos na província.

De sorte prevaleceu entre cearenses o ideal da liberdade o que propiciou a criação da Perseverança e Porvir, que foi oficialmente instalada em 28 de setembro de 1879, data escolhida em homenagem aos oito anos de existência da Lei do Ventre Livre. A sociedade idealizada por dez moços de fé manteria um fundo de emancipação, que ia sendo alimentada com a contribuição espontânea dos associados e uma percentagem nos ganhos obtidos em cada operação mercantil.

Durante a sessão de dia 28 de novembro de 1880, fica determinada uma reunião para o dia 8 de dezembro seguinte, onde seria inaugurada a Sociedade Cearense Libertadora. Essa nova agremiação de pronto recebeu o engajamento de todo o povo cearense na luta sem trégua contra o fim da escravidão negra em nossa província.

Muito contribui a causa libertadora as greves da praia lideradas pelo liberto Antônio Napoleão e Chico da Matilde.

Anos mais tarde, no dia 25 de Março de 1884 uma campanha de êxito encheu de orgulho, luz e glória o povo cearense com a conquista da liberdade do elemento servil na província do Ceará.

Fac símile Revista do Instituto Ceará  publicado no Libertador


Armando Farias 

GIRÃO Raimundo. Abolição no Ceará. 3a. ed. melhorada. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1984.


2022 ማርች 18, ዓርብ

DIA DE SÃO JOSÉ

O dia 19 de março é dedicado a São José, instituído desde o ano de 1621 por decreto do Papa Gregório XV. No Ceará ele é padroeiro oficial do estado. Para o cearense, no folclore local, determina se haverá estação chuvosa abundante naquele ano, caso ocorram precipitações pluviométricas em seu dia.

São José em madeira policromada, lírio e resplendor em prata, olhos de vidro. Escultura proveniente de Pernambuco, 1° quartel do Século 18.

Não se pode dissociar São José a fé católica e consequentemente a estruturas físicas que o fiel construiu ao longo dos séculos para abrigar essa devoção.

No Ceará temos vários templos católicos tendo São José por orago. Por razões óbvias as mais notáveis são a Sé de Fortaleza e a Matriz de Aquiraz Igreja de São José de Ribamar, essa última exemplarmente preservada.

Junto ao santo ao qual se dedica no caso São José, o termo “Ribamar” complementa o nome do templo. Originalmente “riba-mar”, a palavra significa local próximo ou à beira do mar e revela detalhes da geografia local na época de construção do monumento.

Em outras capitais do Nordeste também encontramos aspectos a essa devoção.

Em Salvador também existiu uma igreja por invocação de São José de Ribamar, infelizmente foi demolida em meados do século XX. Nos dias atuais uma forte devoção a São José ocorre em dependências da Igreja do Corpo Santo, local que abriga a imagem do santo a cerca de 200 anos.

Em São Luis existe a Igreja de São José do Desterro. Sua história remonta ao ano de 1640 quando era apenas uma ermida. Arruinada e reconstruída por vezes. O edifício atual é de 1869. O templo sem um estilo definido apresenta simplicidade tanto no exterior quanto no interior (MEIRELES, 1964, p. 40).

No Recife duas importantes igrejas podem ser citadas: A Igreja Matriz de São José, sede paroquial do bairro homônimo e a Igreja de São José de Ribamar.

A Matriz de São José teve sua construção iniciada em setembro de 1845 a partir da criação da paróquia. Seu grande benfeitor foi o Bispo Dom João da Purificação Marques Perdigão e foi inaugurada em dezembro de 1864 com grandiosa solenidade para prestigiar o monumento de grandes dimensões, beleza arquitetônica e primorosos aspectos construtivos.

Matriz de São José, Recife-PE
Foto do acervo particular

A Matriz de São José de severo aspecto neoclássico foi tombada por sua importância cultural para o estado de Pernambuco. Atualmente passa por processo de restauração (SALAZAR, 1995, p. 12)

As origens da Igreja de São José de Ribamar remontam ao ano de 1653 quando existia no local uma capelinha mantida por carpinteiros. A atual irmandade constituiu-se no século XVlll. A pedra fundamental do atual templo foi lançada em 1752 tendo a obra se estendido por várias décadas. O surgimento desse templo, portanto, representou uma obra de devoção popular a São José.

Igreja de São José de Ribamar, Recife-PE
Foto do acervo particular

A Igreja de São José de Ribamar apresenta feições barrocas com destaque ao trabalho de cantaria lavrada em seu frontispício. Atualmente encontra-se em processo de restauração pelo IPHAN.

O conjunto encontra-se inscrito como Monumento Nacional nos livros das Belas Artes v. 1, sob o n* 535, em 8 de abril de 1980; Histórico, v. 1, n* 469, em 8 de abril de 1980 (Processo n* 923-T/75). (SILVA, 2002, p. 211)

Apesar de antigas e grandiloquentes as igrejas do Recife, é na simplicidade do Ceará que São José reina absoluto com direito a dia feriado, procissões e festejos.

Viva São José!

Armando Farias

MEIRELES, Mario M. São Luis, Cidade dos Azulejos. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1964.
SALAZAR, Alberto Neves. Memória: um passeio pelas igrejas de nossa arquidiocese, Jornal A Mensagem Católica, Recife, Arquidiocese de Olinda e Recife,1995.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados do Estado de Pernambuco. 2002. 

2022 ማርች 14, ሰኞ

DIA NACIONAL DA POESIA 14 de Março

PASSEIO PELA HISTÓRIA


 








Á História à deusa Clio exalto

Dos cimos montes o nosso arauto.

Admirar as Três Graças ao pedestal, não falto

Apreciar a exuberante Agláia, bem ao alto.

 

Foi um capítulo da História

 

O pálio episcopal ricamente bordado reluz

Eminentes prelados, Torquemada e a cruz.

No fausto Rodrigo Borgia conduz

Alexandre VI a santidade papal, sombrio capuz.

 

Foi um capítulo da História

 

As torres da Fortaleza de Médici fascina.

Hoje prisão nos altos de Volterra, para além a Cochinchina.

Velho mundo, antigos castelos, a bruxa vaticina

Cruzados e seus estandartes, chacina.  

 

Foi um capítulo da História

 

No tinir de pretéritos chicotes sofre,

No bruxulear de antigos archotes, ocre.

Grave ferimento se abre

Em duelos de antanho, no acutilar do sabre.

 

 Foi um capítulo da História

 

Na península Ibérica a gente moura arcabuzada

Sob o exército sangrento da última cruzada

Expulsava a população em vestes andrajada

Fugindo, deixaram tesouros, em Granada.

 

Foi um capítulo da História

 

Os contrafortes do Alcazar de Sevilha aprofunda

O Palácio de Mafra a feiticeira Blimunda,

Bartolomeu e Baltazar mente fecunda

Todos envoltos em magia profunda.

 

Foi um capítulo da História

 

Reis, rainhas e ducados, cobertos de joias, engastado

Envoltos em névoa, no passado.

No farfalhar de amareladas sedas, amassado.

Fulgurante arquitetural ficou de legado.  

 

 Foi um capítulo da História.

 

O Castelo Grande Trianon uma época ecoou

A flor de lis, fé sabedoria e valor.

Na Avenud Foch o Palácio Rosa tombou

Amantes, intrigas, carruagens, tudo em Versalhes a Madame de Pompadour

 

Foi um capítulo da História

 

Em Viena surge ideia exortativa

Transfigurada na colossal Igreja Votiva.

Torres em agulha, vitral cadeiral refletem a fé que cultiva

Pobre romeira, procissão extensa e rica comitiva.

 

Foi um capítulo da História

 

Martin Soares Moreno destino heroico a desbravar,

O Padre Antonio Vieira Inaugurando o Ceará.

Vetusto José de Alencar a brilhar

E o ilustre Coronel Antonio Diogo de Siqueira a nos brindar; empreendedorismo, fortuna e milhar.

 

Foi um capítulo da História


Armando Farias,14 de março 2022.

2022 ማርች 11, ዓርብ

ANIVERSÁRIO DO RECIFE E DE OLINDA 2022

Data especial tem que ser memorada.
Parabéns às Cidades Irmãs RECIFE/OLINDA.
Recife 485 anos – Olinda 487 anos.

Vista de Olinda com Recife ao fundo
Foto do acervo particular

Homenagem do Atacadão de Papelaria
Diário de Pernambuco, 12 de Março de 1999.

Armando Farias

2022 ማርች 8, ማክሰኞ

DIA INTERNACIONAL DA MULHER 2022: Dona Ana Paes senhora do Engenho Casa Forte

É com grande satisfação que trazemos a história de vida de uma mulher do século XVII, Dona Ana Paes. Exemplo de empreendedorismo, bravura e coragem quebrando as regras de submissão às mulheres ao mundo luso-brasileiro.

Ana Paes Gonsalves de Azevedo nasceu em 1617. Os pais Jerônimo Paes de Azevedo e Isabel Gonsalves Paes tinham muitas posses e concedeu uma educação primorosa à Ana que além da leitura, falava e escrevia em latim, aprendeu a lidar com os fornecedores de cana, feitores, escravos, comerciantes etc. Posteriormente aprendeu o idioma alemão.

Ana Paes recebeu o engenho que fora batizado originalmente de Casa Forte, o maior da Várzea do Capibaribe, como dote nupcial ao casar-se com o fidalgo português Pedro Correia da Silva. Pedro faleceu precocemente em 1635, lutando contra a invasão holandesa a Pernambuco.

Nesse momento, Ana Paes mostra seu lado de bravura e empreendedorismo. Ao contrário da maioria das famílias de posses que nesse período de conflitos migram para a Bahia, Ana permanece viúva na propriedade. Como senhora de engenho Ana conhece e casa-se no ano de 1637 com o Capitão Carlos de Toulon, oficial do exército inimigo. Por razões óbvias esse fato escandalizou a sociedade da época, acrescido do fato de serem os invasores considerados hereges pela igreja católica e a conversão de  Ana ao calvinismo.

Acusado de conspirar contra o governo holandês, Toulon é deportado para Amsterdã por ordens de Nassau. Ao chagar na Europa Toulon vem a falecer.

Ana Paes mais uma vês surpreende ao casar-se novamente com outro oficial da infantaria holandesa: Gilbert de With. O casamento ocorre em uma extensa área do engenho chamada de Campina de Casa Forte, hoje Praça de Casa Forte.

O engenho sofreu várias alterações de nome chamou-se Toulon, Nassau e por último Engenho de With. Voltando a chamar-se Casa Forte após a Restauração Portuguesa.

Ocorre que o Engenho de Casa Forte é tomado pelos flamengos em 3 de agosto de 1645 e nele encarceradas como reféns várias mulheres de chefes revolucionários pernambucanos. Esse fato propiciou uma das batalhas mais importantes e sangrentas travadas entre lusos brasileiros e holandeses no dia 17 de agosto. Os lusos saíram vitoriosos.

Vemos que estamos diante de fatos de extrema relevância para a formação do Brasil como nação e um lugar de muita importância histórica. Em seu livro “Arredores do Recife” o historiador Pereira da Costa afirma que o local era uma das melhores propriedades agrícolas de Pernambuco “pela sua vantajosa situação, com matas, terras, vales férteis e facilidade de comunicação fluvial com a Praça do Recife. Ao seu lado a capela belamente construída”.

Com a capitulação holandesa Ana foi considerada da mesma nacionalidade que o marido e partiu com ele para a Holanda local que faleceu em 1674 em Dondrecht onde morava.

Com a partida de Ana Paes o engenho passa a ser administrado por seu sobrinho João de Freitas da Silva, filho de sua irmã D. Jerônima Paes de Azevedo.

O legado de Ana Paes vai para além dos remanescentes do seu engenho, bairro de Casa Forte e a Avenida 17 de agosto. Fica o exemplo de alguém que soube conquistar um lugar na sociedade como mulher, mãe e administradora em distante época.  

A capela tornou-se a Matriz de Casa Forte (1911) e no local da casa grande, adquirida em 1907 e reformada foi instalado o Colégio da Sagrada Família. A área relativa a Campina de Casa Forte como já foi dito hoje Praça de Casa Forte que foi o primeiro jardim público projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx em 1935.

Matriz de Casa Forte

Os tanques da Praça de Casa Forte
Pintura de André Nóbrega.

 
IPHAN inicia processo de tombamento de jardins de Burle Marx no Recife.

A decisão do tombamento foi do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se reuniu em Brasília. O pedido foi realizado pelo Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2008, com o apoio da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) e do Committee on Historical Gardens and Cultural Landscapes, organismo britânico que presta consultoria para a Unesco.

Armando Farias

 

DANTAS, Rafael. A batalha que se fez barro. Publicado em 15 de setembro, 2015. https://revista.algomais.com/a-batalha-que-se-fez-barro/. Acesso em: 07 Mar. 2022.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO (Blog). Ana Paes, uma mulher à frente do seu tempo. Disponível em: Ana Paes, uma mulher à frente do seu tempo | Pernambuco, História & Personagens (diariodepernambuco.com.br). Acesso em: 07 Mar. 2022.

G1 PE. Iphan inicia processo de tombamento dos Jardins de Burle Marx no Recife. 22/11/2014 Disponível em: G1 - Iphan inicia processo de tombamento dos Jardins de Burle Marx no Recife - notícias em Pernambuco (globo.com). Acesso em: 07 Mar. 2022.

JORNAL DO COMÉRCIO. Dona Ana Paes senhora do Engenho Casa Forte – Uma mulher a frente do seu tempo. Recife, 18 de fevereiro de 1999. p. 2.

RODRIGUES, Maria de Lourdes Neves Baptista. Engenhos de Pernambuco. Casa Forte/Recife - Casa Forte. 03/11/2014. Disponível em: http://engenhosdepernambuco.blogspot.com/2014/11/engenhode-jeronimo-paes-de-gonsalves.html. Acesso em: 07 Mar. 2022.

2022 ፌብሩዋሪ 13, እሑድ

PATRIMÔNIO PRESERVADO

Fortaleza recebeu o Parque da Liberdade restaurado.

Entre períodos de abandono e revitalizações ao longo de sua existência o Parque na sua fase atual conserva de forma satisfatória parte de seus elementos decorativos originais.

 
Acervo particular
 
Acervo particular

Não foi sempre assim. A edição da Gazeta de Notícias do dia 17 de março de 1973 traz reportagem “CIDADE DA CRIANÇA, Um Barreiro Cercado de Detritos por todos os lados”. Foi um período de total abandono desse espaço.

Gazeta de Notícias, março / 1973

Gustavo Barroso nos informa no seu livro A Margem da História do Ceará que existiu no centro da “lagoa” do Parque uma escultura de Netuno com seu respectivo tridente. Era proveniente do antigo Passeio Público, onde ornamentava o nível mais baixo correspondente à praia. Quando do seu desmanche foi levado para o Parque e de lá desapareceu. (BARROSO,  1962, p. 278)

Já Otacílio de Azevedo nos informa em seu livro Fortaleza Descalça alguns detalhes anteriores à urbanização do logradouro, “Em frente a Igreja do Coração de Jesus existia em 1913, um grande quadrilátero de muro bem alto, sem portões e cheio de árvores.” (AZEVÊDO, 1992, p. 82)
[...]
“Ao lado do castelo, quatro fileiras de muro baixo revestidas de pedrinhas acastanhadas e, ao lado, uma imensa estátua de uns dez metros, de ferro, oca e toda enferrujada. Ao seu lado outra menor, também ameaçada peã ferrugem. Está ultima, anos depois, vim a saber que representava Netuno, o deus do mar, com o seu tridente. A maior era Apolo – O Apolo de Belvedere." (AZEVÊDO, 1992, p. 82)

Pelo que se depreende dos textos é que a escultura do Netuno teve uma sobrevida antes de desaparecer, sorte igual não teve a do Apolo, que não fosse a crônica de Otacílio de Azevedo o fortalezense jamais saberia da sua breve existência.

O Parque da Liberdade foi inaugurado em 26 de maio de 1937 fazendo parte dos atos comemorativos do segundo ano de administração do Interventor Menezes Pimentel, construído na gestão do Prefeito Raimundo de Alencar Araripe. Dentre seus visitantes ilustres consta o Presidente Getúlio Vargas, que na ocasião “teceu os maiores elogios”. As duas primeiras décadas seguintes a sua inauguração manteve-se bem cuidado e bem frequentado, época que eram concorridos os seus eventos como a comemoração da Libertação dos Escravos, apresentação de um coral e uma orquestra de cordas que davam espetáculos aos domingos.
 
Foto aérea da Igreja do Sagrado Coração de Jesus
Foto aérea  do Parque da Liberdade, Igreja do Sagrado Coração de Jesus e adjacências
Foto do acervo particular
 
Fica o apelo à população para manter o excelente grau de qualidade da obra que nos foi entregue, para nós, turistas e futuras gerações.

Armando Farias

AZEVÊDO, Otacílio. Fortaleza Descalça. 2, ed. Fortaleza: UFC / Casa José de Alencar, 1992.
BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.
CIDADE da Criança: um barreiro cercado de detritos por todos os lados. Gazeta de Notícias, Fortaleza, 26 março 1973. Caderno Cidade, p. 5.