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ሐሙስ 24 ማርች 2022

DIA 25 DE MARÇO - Data Magna do Ceará.

A data que hoje se comemora vale sublinhar é resultado de longo processo de lutas e embates ideológicos da sociedade cearense do século XIX contra a lei de propriedade do elemento servil. Processo esse que teve início tempos antes do galardoado engajamento do Dragão do Mar.

O cearense sempre deu mostras comportamentais contrários à escravidão, prevalecendo historicamente entre a população sentimentos de igualdade entre conterrâneos e irmãos de outras terras.  

Emprestando um olhar sociológico nota-se que não se constituiu no Ceará nos séculos XVIII e XIX costumes no trato urbano e rural que correspondessem a uma sociedade escravocrata como a estabelecida nos moldes das antigas capitanias, posteriormente, províncias a exemplo Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, tema esse estilizado no clássico (Casa Grande e Senzala) de Gilberto Freire.

A índole do cearense sempre apontou para uma desconstrução do processo escravista. Em meados do século XIX, O Padre Martiniano de Alencar já propusera a substituição de nossos escravos por colonos estrangeiros, antecipando uma ideia que só seria efetivada no final da centúria vigente.

No ano de 1850, nosso parlamentar Pedro Pereira da Silva Guimarães, nos honrou com um projeto na Câmara Geral, que deveria beneficiar daquela data em diante o nascituro filho de escravo.   Óbvio que os escravistas de plantão barraram.

Efetivamente as alforrias espontâneas tornaram-se frequentes no Ceará após a emancipação norte-americana em 1865.

Em 1868 em Resolução nº 1.254 da Assembleia Provincial sancionada em 28 de dezembro pelo presidente Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque autorizava o Executivo a

“despender a quantia de quinze contos de réis com a emancipação de cem escravos que forem nascendo, de preferência os de sexo feminino, os quais serão libertados na pia, cem mil réis cada um” (art. 1º ).

O governo deveria distribuir a quantia pelas diferentes comarcas da Província, disso encarregada em cada termo uma comissão constituída do pároco, do juiz municipal e do presidente da Câmara do Município (ART. 2º).

Logo o sertão imita a capital, e quase todas as comarcas do Ceará passaram a criar comissões semelhantes a de Fortaleza, prosseguindo com as indenizações.  Essa Resolução, com algumas emendas, torna-se a Lei de nº 1.334, de 22 de outubro.

No ano de 1870, surge no Ceará a primeira sociedade libertadora, a de Baturité, instalada em 29 de junho daquele ano, e tem entre o seu quadro de sócios pessoas gradas e intelectuais da época. No mesmo ano (25 de junho), Sobral funda a Sociedade Manumissora Sobralense.

A seca dos três anos 1877-1879, fora inclemente. Houve muitos que se valeram desse triste episódio vendendo clandestinamente escravos a províncias do Vale do Paraíba. Muitas fugas também ocorreram nesse período diminuindo consideravelmente o número de cativos na província.

De sorte prevaleceu entre cearenses o ideal da liberdade o que propiciou a criação da Perseverança e Porvir, que foi oficialmente instalada em 28 de setembro de 1879, data escolhida em homenagem aos oito anos de existência da Lei do Ventre Livre. A sociedade idealizada por dez moços de fé manteria um fundo de emancipação, que ia sendo alimentada com a contribuição espontânea dos associados e uma percentagem nos ganhos obtidos em cada operação mercantil.

Durante a sessão de dia 28 de novembro de 1880, fica determinada uma reunião para o dia 8 de dezembro seguinte, onde seria inaugurada a Sociedade Cearense Libertadora. Essa nova agremiação de pronto recebeu o engajamento de todo o povo cearense na luta sem trégua contra o fim da escravidão negra em nossa província.

Muito contribui a causa libertadora as greves da praia lideradas pelo liberto Antônio Napoleão e Chico da Matilde.

Anos mais tarde, no dia 25 de Março de 1884 uma campanha de êxito encheu de orgulho, luz e glória o povo cearense com a conquista da liberdade do elemento servil na província do Ceará.

Fac símile Revista do Instituto Ceará  publicado no Libertador


Armando Farias 

GIRÃO Raimundo. Abolição no Ceará. 3a. ed. melhorada. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1984.


ዓርብ 18 ማርች 2022

DIA DE SÃO JOSÉ

O dia 19 de março é dedicado a São José, instituído desde o ano de 1621 por decreto do Papa Gregório XV. No Ceará ele é padroeiro oficial do estado. Para o cearense, no folclore local, determina se haverá estação chuvosa abundante naquele ano, caso ocorram precipitações pluviométricas em seu dia.

São José em madeira policromada, lírio e resplendor em prata, olhos de vidro. Escultura proveniente de Pernambuco, 1° quartel do Século 18.

Não se pode dissociar São José a fé católica e consequentemente a estruturas físicas que o fiel construiu ao longo dos séculos para abrigar essa devoção.

No Ceará temos vários templos católicos tendo São José por orago. Por razões óbvias as mais notáveis são a Sé de Fortaleza e a Matriz de Aquiraz Igreja de São José de Ribamar, essa última exemplarmente preservada.

Junto ao santo ao qual se dedica no caso São José, o termo “Ribamar” complementa o nome do templo. Originalmente “riba-mar”, a palavra significa local próximo ou à beira do mar e revela detalhes da geografia local na época de construção do monumento.

Em outras capitais do Nordeste também encontramos aspectos a essa devoção.

Em Salvador também existiu uma igreja por invocação de São José de Ribamar, infelizmente foi demolida em meados do século XX. Nos dias atuais uma forte devoção a São José ocorre em dependências da Igreja do Corpo Santo, local que abriga a imagem do santo a cerca de 200 anos.

Em São Luis existe a Igreja de São José do Desterro. Sua história remonta ao ano de 1640 quando era apenas uma ermida. Arruinada e reconstruída por vezes. O edifício atual é de 1869. O templo sem um estilo definido apresenta simplicidade tanto no exterior quanto no interior (MEIRELES, 1964, p. 40).

No Recife duas importantes igrejas podem ser citadas: A Igreja Matriz de São José, sede paroquial do bairro homônimo e a Igreja de São José de Ribamar.

A Matriz de São José teve sua construção iniciada em setembro de 1845 a partir da criação da paróquia. Seu grande benfeitor foi o Bispo Dom João da Purificação Marques Perdigão e foi inaugurada em dezembro de 1864 com grandiosa solenidade para prestigiar o monumento de grandes dimensões, beleza arquitetônica e primorosos aspectos construtivos.

Matriz de São José, Recife-PE
Foto do acervo particular

A Matriz de São José de severo aspecto neoclássico foi tombada por sua importância cultural para o estado de Pernambuco. Atualmente passa por processo de restauração (SALAZAR, 1995, p. 12)

As origens da Igreja de São José de Ribamar remontam ao ano de 1653 quando existia no local uma capelinha mantida por carpinteiros. A atual irmandade constituiu-se no século XVlll. A pedra fundamental do atual templo foi lançada em 1752 tendo a obra se estendido por várias décadas. O surgimento desse templo, portanto, representou uma obra de devoção popular a São José.

Igreja de São José de Ribamar, Recife-PE
Foto do acervo particular

A Igreja de São José de Ribamar apresenta feições barrocas com destaque ao trabalho de cantaria lavrada em seu frontispício. Atualmente encontra-se em processo de restauração pelo IPHAN.

O conjunto encontra-se inscrito como Monumento Nacional nos livros das Belas Artes v. 1, sob o n* 535, em 8 de abril de 1980; Histórico, v. 1, n* 469, em 8 de abril de 1980 (Processo n* 923-T/75). (SILVA, 2002, p. 211)

Apesar de antigas e grandiloquentes as igrejas do Recife, é na simplicidade do Ceará que São José reina absoluto com direito a dia feriado, procissões e festejos.

Viva São José!

Armando Farias

MEIRELES, Mario M. São Luis, Cidade dos Azulejos. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1964.
SALAZAR, Alberto Neves. Memória: um passeio pelas igrejas de nossa arquidiocese, Jornal A Mensagem Católica, Recife, Arquidiocese de Olinda e Recife,1995.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados do Estado de Pernambuco. 2002. 

ዓርብ 28 ጃንዋሪ 2022

PATRIMONIO HISTÓRICO DO CEARÁ

Hoje, 28 de janeiro, se comemora o dia da fundação do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco (160 anos). Exemplar instituição com alto grau de visibilidade que poderia ser “copiada” em sua expertise pelo nosso empedernido e escondido Instituto Histórico Cearense. 

Fotos do interior do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco
Acervo particular

O Ceará deveria, a exemplo de Pernambuco, dar maior destaque e acesso às instituições que abrigam e constituem em si elementos pertinentes ao nosso patrimônio histórico. Já vai longe a ideia de que o Instituto era do Barão de Studart. É do povo cearense e a ele tem que se voltar.

É praticamente impossível o cidadão conhecer o seu interior, inviolável e inexpugnável. Na mais favorável das hipóteses, até se consegue transpor suas “muralhas”, porém o pesquisador é induzido a uma edícula no fundo do lote, onde com muita sorte é recepcionado em um balcão, quase que nos jardins do prédio, e assim constrangido, tentar efetuar sua pesquisa. Fisicamente não consegue. O atendente promete enviar-lhe seu conteúdo via e-mail. Isso bem antes da pandemia. Hoje se encontra fechado. 

A ideia é copiar o que há de bom. O congênere pernambucano dispõe de um excelente espaço museológico aberto à visitação, democrático, fora a parte de pesquisas, também de fácil acesso. 

O fomento às tradições, à intimidade com nosso passado e o contato físico com esses aspectos que remanesceram só trarão fortalecimento à temática da conservação patrimonial, que não se faz apenas em gabinetes, faz-se com o conhecimento e engajamento da população. Alheia a esses elementos, o cidadão leigo não o valorizará, e por vezes até será um agente destruidor do mesmo, simplesmente por não compreender o significado da palavra PATRIMÔNIO.

Armando Farias