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ቅዳሜ 16 ጃንዋሪ 2021

O Dia do Ceará

Nos séculos XVIII e XIX a economia da Capitania do Sairá era predominantemente a indústria pastoril. Os rebanhos eram transportados por estradas aos grandes mercados, feiras de Pernambuco e da Bahia. O principal ator era o boiadeiro, o vaqueiro e o tangerino. Das praças consumidoras vinham instrumentos, panos e escravos. Essa modalidade de comércio causava diversos prejuízos por conta da longa jornada. A solução foi a comercialização do produto semi-industrializado na forma de mantas conservadas pelo sal. Com a grande aceitação do produto surgiu a venda através da navegação de cabotagem, assim as reses eram transportadas por menores distâncias, somente até os portos a serem carneadas. Os mais importantes eram os da embocadura do Rio Jaguaribe, Acaraú e Coreaú. 

Pintura de vaqueiro no sertão
Imagem do acervo particular

Até o final do século XVIII a Capitania do Siará continuava subordinada a Pernambuco. Sujeição que muito prejudicava o desenvolvimento local principalmente no tocante ao comércio com o Reino, que era obrigatório ser feito através de Pernambuco por intermédio do porto do Recife. 
 
Nesse período parte do comércio era constituído por gêneros da agricultura. A consequência desse processo de “baldeação” era a pequena margem de lucro que os produtores cearenses alcançavam visto que tinham que despender somas significativas com o frete até Pernambuco e para Portugal, encarecendo também ao consumidor final. Outro fator que inibia esse comércio era os naufrágios, que anualmente eram frequentes atribuídos a imperícia dos práticos. Esses altos custos também prejudicavam as trocas dos produtos locais com os importados, que alcançavam cifras elevadas e eram necessários no dia a dia da colônia. 

Tais fatores prejudicavam o desenvolvimento da Capitania do Siará, desestimulando um incremento na produção local. Foram muitos os clamores por parte dos cearenses e demais habitantes radicados na capitania ao Reino de Portugal com objetivo de pôr fim a essa condição. 

Porém nem todos perdiam. Os atravessadores tiravam vultosos lucros como verdadeiros especuladores sobre a situação. 

Essas demandas também enfrentaram a negativa dos Governadores de Pernambuco, que por motivos óbvios não queriam perder suas receitas advindas dos produtos do Siará e não queriam abrir mão dos domínios de uma jurisdição que compreendia mais de mil e duzentas léguas quadradas. Mesmo após o Decreto Real havia tentativas contrárias, chegando ao ponto de tentar burlar a medida régia. “Insistiam na velha prática de mandar por terra os seus cavalos e bois as feiras pernambucanas, fazendo voltar por via marítima artigos e panos para suas lojas.” (GIRÃO, 1959, p. 96)

A solução veio através do Decreto assinado pela Rainha Dona Maria I com data de 17 de janeiro de 1799 ordenando a separação. 

“Considerando os inconvenientes que se seguem, tanto ao meu Real serviço como ao bem dos povos, da inteira dependência em que os governos e as capitanias do Siará e da Paraíba se acham do Governador Geral da Capitania de Pernambuco, que pela distância em que reside não pode dar com prontidão as providências necessárias para a melhor economia interior daquelas capitanias.” (GIRÃO, 1959, p. 93)

“Em tudo que diz respeito a proposta de oficiais militares, nomeações interinas de oficiais e outros atos do governo”. Excluindo “defesa interior das três capitanias e a policia exterior interior das mesmas.”  (GIRÃO, 1959, p. 93)

E acrescentou “Igualmente determino que do Siará e da Paraíba se possa fazer um comércio direto com o Reino, para o que se estabelecerão, em tempo e luar convenientes, as bases da arrecadação que forem precisas e se darão as outras providencias, que a experiência mostra, para a comunicação imediata e o comercio da dita capitania com esse Reino.” (GIRÃO, 1959, p. 95)

De pronto foi nomeado Bernardo Manuel de Vasconcelos para o cargo de Governador da Capitania do Siará. Embarcou no comboy que tinha por comandante o chefe de esquadra Paulo José da Silva Gama, no dia 23 de maio de 1779. Decorridos quase três meses de navegação, chegou ao porto de Pernambuco no dia 11 de agosto, onde se demorou por trinta e nove dias, tempo necessário para preparar as embarcações que deveriam comboiar demais empregados e gêneros e pretextos da Real Fazenda. 

Em 25 de setembro, desembarcou no Porto de Mucuripe e em 29 do mesmo mês tomou posse do Governo. Bernardo de Vasconcelos demonstrou seu comprometimento ao novo cargo pondo-se ao par das necessidades da capitania que iria administrar, cercando-se de pessoas que nela já haviam habitado, destacando-se pelo elevado grau de instrução. Francisco Bento Maria Targine, que o encontrou ainda no Recife e tornou-se seu verdadeiro mentor. 

Bernardo de Vasconcelos mostrou-se deveras empenhado em dar cabo às ordens de Dona Maria I, bem como efetuou diversas benfeitorias na capital abrindo estradas para ligá-la ao interior, estimulando a produção de arroz, proibindo a devastação das matas e preservação da madeira de lei. Nesse período houve um incremento na construção de casas na capital, se deu a instalação da Junta da Fazenda em 1 de outubro de 1799, e das baterias levantadas no Mucuripe com o nome de Forte de São Bernardo. 

Bernardo de Vasconcelos faleceu no exercício das funções em 10 de março de 1802, não chegando portanto a ver a entrada do primeiro navio proveniente da Europa, fato que ocorreu em 10 de março de 1803, quando aportou no Mucuripe a Escuna “Flor do Mar”. 

De imediato, substituiu Bernardo Vasconcelos uma Junta Provisória. Deu continuidade ao seu trabalho o novo Governador nomeado João Carlos Augusto de Oeynhausen, militar ilustre e homem de Estado, aqui chegando em 11 de novembro de 1803. Foi durante a sua gestão que saiu do porto do Aracati o primeiro carregamento de algodão transportado pelo navio “Cobra”. Oeynhausen regularizou definitivamente o comércio entre o Siará e o Reino, livrando-se da incômoda obrigação de fazê-lo por Pernambuco. 

Não se pode deixar de mencionar o nome do rico português Antonio José Moreira Gomes, pioneiro empreendedor que desde 1777 estabeleceu-se em Fortaleza e foi grande incentivador e financiador do plantio de algodão, produto que após 1808 passou a comerciar também com a Inglaterra.

Armando Farias

GIRÃO, Raimundo. Geografia estética de Fortaleza. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1959.
GIRÃO, Raimundo. Pequena história do Ceará. 2. ed. Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1962.

እሑድ 10 ጃንዋሪ 2021

Antecedentes da Invasão Holandesa. O Açúcar. Primeiras Tentativas

Na Capitania do Siará são escassos os documentos que abordam o período que antecedeu o domínio Holandês. Há relatos de neerlandês comerciando com indígenas já no início do século XVII. Dos Países Baixos para o Brasil no período entre 1600 e 1630 eram embarcados vários itens, sendo o machado o principal. Facas, facões e canivetes eram transportados em grande quantidade e em menor escala foices, pás e enchós. 

Um artigo particular era o berimbau de boca, chamado de tromp que era um instrumento musical popular na Europa medieval e tornava-se popular entre os índios.

Berimbau
Berimbau
Amorim (2014, p. 31)

O Siará entrou na rota dos neerlandeses por conter em sua costa vários pontos que serviam de referencial e auxílio a marinheiros e cartógrafos para a navegação no Atlântico, como serras, serrotes, cabos e pontas. Outro fator é que entre o Forte dos Reis Magos e a Ilha de São Luis só existia essa fortificação. 

Mapa da região compreendida entre o Rio Grande do Norte e o Piauí
Mapa da região compreendida entre o Rio Grande do Norte e o Piauí
Amorim (2014, p. 44)

Reijnier Pietersz visitou o Siará em 1630 e descreveu um assentamento de 12 casas com um castelinho cercado de paliçadas. Os produtos locais eram algodão, peles, madeira nobre, pedras, e outros. 

Martim Soares Moreno por vezes repeliu ataques de invasores. Em 1625 Moreno impediu que barcos flamengos aportassem no Ceará. Teve ajuda do soldado Manuel Álvares da Cunha bem como de indígenas aliados. Quando Martin Soares Moreno deixou o Siará em 1631 os holandeses já haviam dominado e se instalado em parte da Capitania de Pernambuco. Com a saída de Moreno entra a frágil fortificação de São Sebastião em franca ruína. Recebe seu pequeno continente, cerca de 20 soldados a recomendação de migrar para o Maranhão, considerando estarem suas vidas em perigo. Uma carta de Jácome de Noronha, Capitão Mor da Capitania do Maranhão datada de 1637 informa ao Rei que há dois anos não enviava quaisquer mantimentos ao Siará. Também indica que não havia padre para atender aos soldados. 

Na Bahia os governos de Tomé de Sousa e Mem de Sá inauguraram o início da atividade açucareira. Nos anos de 1560 já estavam instalados e em funcionamento engenhos ao redor de Salvador. Gabriel Soares de Sousa, em 1587, em seu Tratado descritivo do Brasil escreve que o Recôncavo possuía 36 engenhos com uma produtividade de 1.750 toneladas de açúcar. 

Na Bahia, em 1624, uma armada comandada pelos Almirantes Jacob Willeken e Piet Henry, financiada pela Companhia das Índias Ocidentais ataca Salvador. O ataque teve êxito, alguns erros administrativos e militares como a demora no envio de reforços fazem com que essa primeira base seja perdida em 1625 diante de tropas enviadas por Pernambuco e de um reforço armado enviado pela Espanha, que derrota e expulsa os holandeses em 1º de maio daquele ano. 

Em Pernambuco, a cana de açúcar já era cultivada desde o tempo da feitoria de Cristovão Jaques que ficava às margens do Canal de Itamaracá. Essa atividade já era recorrente em 1526 como comprova documentos da Alfândega de Lisboa com pagamentos de direitos sobre o açúcar proveniente de Pernambuco. Informações reveladas por F. A. Varnhagen. 1 

Alegoria dos produtos de Pernambuco em gravura em cobre
Alegoria dos produtos de Pernambuco em gravura em cobre
Diário de Pernambuco (jul. 2003, F. 5)


A Capitania de Pernambuco foi doação feita por Dom João III a Duarte Coelho Pereira em 10 de março de 1534, e compreendia extensa área territorial. Na observação de F. A. Varnhagen a capitania possuía doze mil léguas quadradas, a maior entre todas. Visionário e empreendedor, Duarte Coelho veio disposto a fixar-se em seus domínios. Trouxe a família, parentes do norte de Portugal, aprimoradas técnicas de fabrico do açúcar com a vinda dos engenhos e dos mestres especializados da Ilha da Madeira e capital de financiamento judeu. 

Mapa da costa do Brasil com a divisão das Capitanias Hereditárias, até o estreito de Magalhães
Mapa da costa do Brasil com a divisão das Capitanias Hereditárias, até o estreito de Magalhães (c1572)
Diário de Pernambuco (jul. 2003, D. 4)

Duarte Coelho chega a Pernambuco em 12 de março de 1535 e, após fazer reconhecimento de área, escolhe uma colina à beira mar para implantação de sua cidade. No documento Foral de Olinda de 12 de março 1537 Duarte Coelho enumera suas realizações e menciona pela primeira vez o Arrecife dos Navios, porto da vila que daria origem a cidade do Recife. 

Situação de Olinda, Recife e terras de engenhos das cercanias.
Situação de Olinda, Recife e terras de engenhos das cercanias. Livro que dá Razão no Estado \do Brasil (1616)
Diário de Pernambuco (jul. 2003, D. 4)


Logo o primeiro engenho de Pernambuco foi instalado. Denominado de Engenho Velho de Beberibe foi erguido por Jerônimo de Albuquerque, cunhado de Coelho. Diante do fértil massapé e condições pluviométricas favoráveis às culturas da cana, rapidamente se multiplicarão. Em 1583 um total de 66 engenhos já produzia açúcar. Frei Vicente de Salvador (c. 1564/c. 1636/39) informa que no início do século XVII a situação econômica da capitania era das melhores, o porto mais frequentado do Brasil e uma renda de vinte mil cruzados. Com o aumento da produção, o açúcar passa de item de luxo a produto acessível a todas as classes. Nos museus do Recife encontra-se uma peça chamada polvilhador de açúcar, demonstrando que a princípio seu uso era racional. 

Cana-de-açúcar, aquarela de Smalkalden
Cana-de-açúcar, aquarela de Smalkalden
Diário de Pernambuco (jul. 2003, D.2)


Outra evidência da grande produção de açúcar em Pernambuco e Bahia eram os ataques piratas a navios com carregamento procedentes desses portos. K. R. Andrews informa que entre 1589 a 1591 Portugal perdeu para corsários ingleses 34 navios. Fontes jesuíticas indicam que em 1589 foram capturados por ingleses e franceses 73 navios carregados. 

Esses ataques levaram os portugueses a adotar um outro tipo de embarcação. Trocaram as frágeis caravelas por um grande e pesado navio de origem alemã chamado urca (em alemão e holandês hulk). Entre 1595 e 1605 saíram do porto do Recife 34 deles carregados. 

Toda essa riqueza proporcionou a Olinda um desenvolvimento social, religioso e urbano com “bons edifícios e famosos templos”. Instalaram-se os Padres da Companhia de Jesus (1551) com sua respectiva igreja e colégio, os Padres de São Francisco da Ordem Capucha de Santo Antônio com seu convento e igreja (1585), o Mosteiro dos Carmelitas e sua igreja (1588) e o Mosteiro de São Bento (1592) com seus religiosos e respectivo templo. Além da igreja do Salvador do Mundo, uma das primeiras paróquias do Brasil. 

Como se depreende foi o açúcar o suporte econômico a fomentar os primórdios de desenvolvimento do que seria o Nordeste do Brasil. No caso da Capitania do Siará a consequência foi a introdução da criação de gado para abastecer de carne os centros produtores de cana de açúcar, atividade que impulsionou o povoamento e economia cearense.

Armando Farias

AMORIM, J. Terto de (Org.). O Siara na rota dos neerlandeses.Utrecht/Fortaleza: Augusto César Barbosa, 2014.
DIÁRIO DE PERNANBUCO. Os Holandeses em Pernambuco: uma história de 24 anos, Recife, jul. 2003.



እሑድ 3 ጃንዋሪ 2021

PENSATA: Os Prelúdios do povo cearense

Vimos os primórdios da Capitania do Siará Grande. Percebe-se o quão incipiente e pobre mostrou-se essa gleba de terra aos olhos do colonizador. Talvez por conta de sua localização geográfica e latitude, temos mais de 90% inclusos no semiárido. Os primeiros colonizadores aplicavam seus próprios recursos na empresa que se disponham. Os padres que aqui aportaram não eram diferentes e submeteram-se a grandes privações diante de total falta de estrutura e apoio por parte da Coroa e Estado para missionar. 
 
Estamos olhando para um recorte da história em que Pernambuco já era uma capitania rica com uma área territorial bem maior que hoje conhecemos. 

Engenho de açúcar
Sette (1953, p. 46) 

A Bahia continha a sede do governo. Em ambos os casos já havia muitos engenhos de produção de açúcar que era a maior economia de então, ricas igrejas e conventos. Bem projetadas e guarnecidas estruturas defensivas. 

Cidade de Salvador
Sette (1953, p. 24)

Olinda era equiparada a uma pequena Lisboa. O Maranhão despontou com a ocupação francesa que entre 1612 e 1615 fundou São Luis e nela aplicou recursos, fato que provocou a coroa portuguesa, forçando uma movimentação de reconquista envolvendo forças militares.
                                        
Brasão de Olinda Brasão de São Luis
     Vieira (s.d, n.p)                                      Meireles (1964, n.p.)

A Capitania do Siará estava no centro geográfico desses acontecimentos. Desde Pero Coelho o objetivo era atingir o Maranhão. Depois foge de uma seca para o Rio Grande do Norte onde havia o portentoso e antigo Forte dos Reis Magos, sólida construção ainda do século XVI. Martin Soares Moreno foi convocado para lutar no Maranhão, contra franceses. O Siará parecia invisível. 

A Capitania do Siará era a princípio subalterna à Capitania do Maranhão, depois a de Pernambuco. É evidente o grau de inferioridade de nossa capitania em relação as suas congêneres. Doravante, inicia-se um longo processo envolvendo autoridades militares e judiciais. Civis empreendedores, religiosos e indígenas na busca do progresso em uma terra que, aparentemente, se mostrava inóspita. Só aparentemente, o cearense sabe que de suas entranhas brota fertilidade. 

r
Carnaubal
Foto do acervo particular

Assim é o que se propõe mostrar na sequência com o engajamento de todos esses atores na árdua jornada de construção do Ceará que hoje temos.

Armando Farias


MEIRELES, Mário M. São Luis, cidade dos azulejos. São Luis: Departamento de Cultura do Estado do Maranhão, 1964.
SETTE, Mário. Brasil, minha terra: leituras cívicas. 14. ed. Rio de Janeiro: Melhoramentos,1953.
VIEIRA, Ana Maria Trevia. Olinda: guia e mapa turístico (trabalho de história da arte guia artístico e turístico, 1º ano). [s.l: s.n, s.d.]

ሐሙስ 31 ዲሴምበር 2020

O “Panteão” de heróis que inauguraram a Capitania do Siará

Não se pode negar a primazia de Pero Coelho de Sousa quando se fala em Inauguração da Capitania do Siará Grande. Em parte desafortunado por ter se deparado com terrível seca que obrigou sua retirada, a primeira que a história cearense registra (1605-1606). (GIRÃO, 1962). Em parte exitoso por ter banido os franceses do Ceará. 

Uma constante na História da Capitania do Siará Grande foi a situação de extrema pobreza que perduraria por séculos. Deixou então Coelho o Siará e seu paupérrimo Forte de São Tiago, que segundo informações documentais era uma simples paliçada. 

Barroso (1962, p. 29)
Catequese no Ceará
Num segundo momento figuram os Padres Francisco Pinto e Luis Figueira. Partiram de Pernambuco nos primeiros dias de 1607 em uma embarcação acompanhados por 60 índios de várias tribos. Pertenciam à Companhia de Jesus, a expedição tinha caráter evangélico e objetivava catequizar os gentis até o Maranhão. Atingiram até a Serra da Ibiapaba, porém devido a muitos percalços abortaram a ideia de ter até aquele estado. Decididos a retornarem junto ao mar, sofreram furioso ataque dos Tocarijus, no dia 11 de janeiro de 1608, ocasionando a morte de Padre Pinto. Luis Figueira após meses de retirada foi socorrido por uma embarcação a mando de Jerônimo de Albuquerque. Relatos em detalhes do Padre Figueira constam na Relação do Maranhão. Após deixar o Siará o Padre Luis Figueira passa anos em Pernambuco. Morre trucidado por índios Aruãs como náufrago na Ilha de Marajó, em 1643. 

Por fim, Martin Soares Moreno, que entre os anos de 1612 a 1631, entre idas e vindas não poupou esforços para prover a Capitania do Siará. Escreveu a Relação do Siará onde deparamos com realizações como a vinda do Padre Baltasar, luta contra flibusteiros e a construção do Forte de São Sebastião. 

Após anos afastado, Martin Soares Moreno retorna ao Siará em 1621 retomando antigas demandas, entre elas a remodelação do Forte de São Sebastião. Em 1624 solicitou e conseguiu junto ao Frei Cristovam Severim de Lisboa dois padres, e com o governador Francisco de Carvalho, artilharia e munição, bem como a atualização dos soldos que se encontravam em atraso. Também são suas realizações a criação de cavalgaduras e gado vacum e a plantação de canas de açúcar. 

Martin Soares Moreno deixou o Siará em 1631 ao término de sua provisão. Em Pernambuco lutou heroicamente contra os holandeses. Foi agraciado com o título de Mestre de Campo.

Armando Farias

BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.
GIRÃO, Raimundo. Pequena história do Ceará. 2. ed. Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1962.

ረቡዕ 30 ዲሴምበር 2020

De capitania subalterna a um dos estados mais promissores da região

Como já mencionado, após a criação do sistema de capitanias para assegurar a posse portuguesa sobre o Brasil, a Capitania do Siará Grande permaneceu em relativo abandono até o início do século XVII (1603). 

Parte desse desinteresse deu-se ao fato que o solo da chamada “costa Leste-Oeste” mostrava-se impróprio para a indústria açucareira, que movia a economia desse período. Contudo a costa cearense era visitada por flibusteiros à procura de recursos extrativistas, que propiciavam um lucro rápido no comércio europeu. Um maior continente e uma maior frequência de franceses nas imediações do litoral, levou Pernambuco a crer na existência de minerais na região. Esse fato motivou a vinda da primeira expedição exploradora chefiada por Pero Coelho de Sousa, que, para tanto, recebera o título de Capitão Mor. 

Encontrava-se o território que compreende o atual Ceará habitado por tribos indígenas de diversas denominações. Estavam os vales cobertos por vegetação arbórea tais como o oitizeiro, jatobá e cedro. Nas áreas mais secas e tabuleiros encontrava-se em abundância, pau ferro, mulungus, jenipapeiros e cajueiros; nas várzeas, o carnaubal. Rios e lagoas também abundavam, visto que nas proximidades do litoral havia maior volume de chuvas. 

A princípio a capitania do Siará Grande ficou vinculada ao Estado do Grão Pará e Maranhão, que eram administrativamente separados do Estado do Brasil. Isso se deu por conta das correntes oceânicas que propiciavam maior facilidade na comunicação de São Luis e Belém direto com Portugal. Posteriormente, a capitania do Siará foi transferida para a administração do Estado do Brasil, passando à condição de capitania subalterna aos governadores de Pernambuco. 

Por Jhonatan Gomes Diniz - Obra do próprio, CC BY-SA 4.0. 
Disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=94840275

Como se pode depreender, todo o contexto histórico do que hoje é o Nordeste se encontra interligado. Ao longo da exposição dos fatos históricos pode-se discorrer sobre o fato de alguns estados da região estarem menos desenvolvidos que outros, e mais ainda, os que estão em melhor situação deveriam estar equiparados aos mais desenvolvidos. 

No caso específico do Ceará contamos ao longo dos séculos com a paixão e dedicação de homens e mulheres que através de suas mais variadas atuações alçaram uma inexpressiva capitania, que mais se assemelhava a um entreposto militar ao promissor Estado do Ceará.

Armando Farias

ሰኞ 28 ዲሴምበር 2020

Capitania Siará Grande: um convite diferente para conhecer a história do Ceará

Capitania Siará Grande, esse pode ser o termo mais antigo do que hoje se conhece por Estado do Ceará.


A Capitania do Siará Grande figura entre as primeiras donatarias criadas pela coroa portuguesa com objetivo de salvaguardar o “imenso patrimônio que recebera de Cabral.” (Girão, 1962)

Procedendo com seu objetivo D. João III, de Portugal determina que o atual território cearense fosse dividido em três doações. Os seus respectivos donatários fizeram a primeira tentativa de explorar seus legados juntando-se em uma expedição (1535), que teve a frota de navios arrasada em uma tempestade na costa do Maranhão, antes de tocar o solo cearense. Nova tentativa em 1550 não logrou êxito. Oficialmente falando, foi Pero Coelho de Sousa que em 1603 de fato concretizou e tomou posse da Capitania do Siará Grande.

Com a proposta de revisitar  fatos referentes a Capitania do Siará Grande, o Ceará provincial e ao atual Estado do Ceará que estão diretamente imbricados com o Nordeste Brasileiro fica aqui um espaço de valorização e visibilidade da Região. Região essa que então constituía-se a mais rica do Brasil, conservando-se diversificada em todos os aspectos e historicamente pouco noticiada.

Por motivos políticos a capital Salvador foi deslocada para outra região passando então a coroa a favorecer uma mudança no eixo político e econômico da colônia em detrimento as capitanias do Norte, penalizadas com altos impostos. Essa postura permeou todo o período imperial e consolidou-se na república.

Não um texto didático, cronológico e enfadonho, e sim algo leve que interesse ao “leitor” para os importantes fatos históricos que permanecem obscuros por razões quaisquer.


 
Armando Farias

GIRÃO, Raimundo. Pequena história do Ceará. 2. ed. Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1962.