É com grande satisfação que trazemos a história de vida de
uma mulher do século XVII, Dona Ana Paes. Exemplo de empreendedorismo, bravura
e coragem quebrando as regras de submissão às mulheres ao mundo
luso-brasileiro.
Ana Paes Gonsalves de Azevedo nasceu em 1617. Os pais Jerônimo
Paes de Azevedo e Isabel Gonsalves Paes tinham muitas posses e concedeu uma
educação primorosa à Ana que além da leitura, falava e escrevia em latim, aprendeu
a lidar com os fornecedores de cana, feitores, escravos, comerciantes etc. Posteriormente
aprendeu o idioma alemão.
Ana Paes recebeu o engenho que fora batizado originalmente de
Casa Forte, o maior da Várzea do Capibaribe, como dote nupcial ao casar-se com o
fidalgo português Pedro Correia da Silva. Pedro faleceu precocemente em 1635, lutando
contra a invasão holandesa a Pernambuco.
Nesse momento, Ana Paes mostra seu lado de bravura e
empreendedorismo. Ao contrário da maioria das famílias de posses que nesse
período de conflitos migram para a Bahia, Ana permanece viúva na propriedade. Como
senhora de engenho Ana conhece e casa-se no ano de 1637 com o Capitão Carlos de
Toulon, oficial do exército inimigo. Por razões óbvias esse fato escandalizou a
sociedade da época, acrescido do fato de serem os invasores considerados
hereges pela igreja católica e a conversão de Ana ao calvinismo.
Acusado de conspirar contra o governo holandês, Toulon é
deportado para Amsterdã por ordens de Nassau. Ao chagar na Europa Toulon vem a
falecer.
Ana Paes mais uma vês surpreende ao casar-se novamente com
outro oficial da infantaria holandesa: Gilbert de With. O casamento ocorre em
uma extensa área do engenho chamada de Campina de Casa Forte, hoje Praça de
Casa Forte.
O engenho sofreu várias alterações de nome chamou-se Toulon,
Nassau e por último Engenho de With. Voltando a chamar-se Casa Forte após a Restauração
Portuguesa.
Ocorre que o Engenho de Casa Forte é tomado pelos flamengos
em 3 de agosto de 1645 e nele encarceradas como reféns várias mulheres de
chefes revolucionários pernambucanos. Esse fato propiciou uma das batalhas mais
importantes e sangrentas travadas entre lusos brasileiros e holandeses no dia
17 de agosto. Os lusos saíram vitoriosos.
Vemos que estamos diante de fatos de extrema relevância para a formação do Brasil como nação e um lugar de muita importância histórica. Em seu livro “Arredores do Recife” o historiador Pereira da Costa afirma que o local era uma das melhores propriedades agrícolas de Pernambuco “pela sua vantajosa situação, com matas, terras, vales férteis e facilidade de comunicação fluvial com a Praça do Recife. Ao seu lado a capela belamente construída”.
O legado de Ana Paes vai para além
dos remanescentes do seu engenho, bairro de Casa Forte e a Avenida 17 de
agosto. Fica o exemplo de alguém que soube conquistar um lugar na sociedade
como mulher, mãe e administradora em distante época.
A capela tornou-se a Matriz de Casa Forte (1911) e no local da casa grande, adquirida em 1907 e reformada foi instalado o Colégio da Sagrada Família. A área relativa a Campina de Casa Forte como já foi dito hoje Praça de Casa Forte que foi o primeiro jardim público projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx em 1935.
Matriz de Casa Forte
A decisão
do tombamento foi do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se reuniu
em Brasília. O pedido foi realizado pelo Laboratório da Paisagem da
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2008, com o apoio da Associação
Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) e do Committee on Historical
Gardens and Cultural Landscapes, organismo britânico que presta consultoria
para a Unesco.
Armando Farias
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