ማክሰኞ 7 ማርች 2023

DIA INTERNACIONAL DA MULHER – HEROINAS DE TEJUCUPAPO.

 

Um fato Histórico ligado à invasão holandesa no Nordeste traz a figura da mulher para o centro dos acontecimentos. Trata-se do que entrou para a História como a Batalha das Heroínas de Tejucupapo ocorrida em 3 de abril de 1646 no atual distrito de Tejucupapo localizado no município de Goiana a 63 quilômetros do Recife.

Acuados e com fome, os holandeses tentaram ocupar Tejucupapo, vinham da Ilha de Itamaracá. Escolheu um dia de domingo, estratégia foi pensada diante do fato do lugarejo está vulnerável, encontrando-se apenas mulheres e crianças. Tradicionalmente os homens escolhiam o domingo para comercializar seus produtos de pesca no Recife.

O major de milícia Agostinho Nunes de posse da informação que o exercito flamengo se aproximava repassou para nativos. De conhecimento da notícia quatro mulheres iniciaram e lideraram a reação. Eram elas, Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Maria Joaquina.

A batalha se deu no alto de uma colina, de lá pode-se ver o caminho marítimo por onde os holandês tiveram acesso ao distrito, toda a extensão do litoral norte do Estado.

Os poucos homens que permaneceram agiram com armas de fogo por emboscada contra os holandeses. As mulheres puseram água para ferver, acrescentando pimenta em tachos e panelas de barro. Escondidas em trincheiras jamais esperada pelos holandeses. Os olhos dos inimigos eram o principal alvo, e a surpresa o melhor ataque. Um utensílio usado para a coleta de mariscos conhecido como chuço, paus e inchadas também foram utilizados. Eram aproximadamente 600 homens do exercito holandês, Depois de horas de lutas mais de 300 cadáveres ficaram espalhados pelo vilarejo, sobretudo flamengos que bateram em retirada,  as mulheres saíram vitoriosas.

No local que se deu a Batalha, o Monte das Trincheiras há hoje um obelisco, marco em referencia a data. Uma grande trincheira, provavelmente utilizada pelas heroínas, ainda persiste e pode ser observada. A pesquisa arqueológica permitiu a recuperação do perímetro do fosso e a identificação da localização da paliçada que o cercava.

Reportagem extraída do Jornal do Comércio - Caderno de Turismo p 3.

 

Na atualidade ocorre o Espetáculo A Batalha das Heroínas. A peça encenada todos os anos no distrito de Tejucupapo, Goiana-PE conta com um elenco de aproximadamente 150 pessoas – todas da comunidade.

Além da participação de possíveis descendentes dos resistentes do século XVII, o espectador tem o privilégio de conhecer a história no local onde o fato realmente aconteceu, de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Geográfico de Pernambuco: a Fazenda Megaó.

Diário de Pernambuco, 17 de abril de 2005 – Caderno Vida Urbana p.3.




Armando Farias

እሑድ 5 ማርች 2023

A REVOLUÇAO PERNAMBUCANA – ALGUNS DETALHES

 

Hoje, 6 de Março, comemora-se a Revolução Pernambucana. Tema riquíssimo da nossa História que merece mais estudos e maior divulgação. Para o Historiador e Doutor pela Universidade Federal de Pernambuco Alberon Lemos, a Revolução Pernambucana foi escolhida para representar a Data Magna do Estado porque "é a única que, de fato, mostrou a área do Brasil que teve independência de Portugal".

Pernambuco tinha uma balança comercial bem equilibrada e a exportação superava de longe a importação. Sendo assim, estava em condições de se tornar uma república independente. 

Diante de vasto conteúdo selecionei trecho da reportagem do Jornal do Comércio, Recife 16 de Abril de 1998 do Médico Cardiologista Rostand Paraíso onde repercute análise do Imortal Oliveira Lima sobre o tema.

Havia durado apenas 74 dias o regime republicano nascido em Pernambuco. Quando as armas e munições enviadas por Cruz Cabugá, chegaram a terras brasileiras, a revolução já havia sido desbaratada.

Estava sepultado o sonho de liberdade acalentado pelos pernambucanos. E, pior ainda, Pernambuco teve por castigo, o seu território mutilado: as terras de Alagoas e Rio Grande no Norte foram desligados de sua tutela, tornando-se livres.

Analisando a posteriori, o movimento de 1817, Oliveira Lima diz que havia se baseado “numa explosão frenética de sentimento nacional desdenhado, brotada de cérebros exaltados pelos sucessos da Revolução Francesa, afervoados em seus sonhos por uma misteriosa solidariedade, e ansiosos pela interação da libertação americana”, “que o movimento não tinha condições e delas não se preocuparam os que num momento de ímpeto lançaram a um governador irresoluto e moleirão o desafio de sua impaciência patriótica”, e que o futuro, desde o início, não se mostrava risonho para os republicanos de Pernambuco, “militares cansados das prepotências portugueses, sacerdotes em que seus consistórios foliavam o grande livro das aspirações liberais, brasileiros que nos peitos viris sentiam vibrar o afeto virem da pátria”.

E ele conclui sua análise com palavras que bem demonstram o espírito forte do pernambucano: “Bem, souberam, porém, morrer, os que tal mal souberam conspirar”.

Por Rostand Paraíso


Em 1817 este era o mapa de Pernambuco, com as comarcas de Alagoas e São Francisco, essa ultima desliada em 1824 por decreto de Dom Pedro I após as tropas imperiais sufocarem a Confederação do Equador. 

Armando Farias

ሰኞ 16 ጃንዋሪ 2023

DIA DO CEARÁ – A CAPITANIA ABANDONADA

Diante do dia que entrou para o calendário cívico como “Dia do Ceará” fica o vazio, uma comemoração apenas protocolar e pouco conteúdo acerca do fato histórico para a população, que na grande maioria ignora data tão importante.

Divulga-se maciçamente a alcunha de “louca” a D. Maria, Rainha de Portugal, porém poucos sabem que foi Ela a autora do Decreto que separou o Ceará das “peias” de Pernambuco, fato ocorrido ao apagar das luzes do século XVlll.

Porém só no início do século XlX se consubstanciou de fato os efeitos positivos desse ato, que a anterior dependência relegou a capitania mais de 200 anos de atraso, somado ao abandono que ficou  pelo seu respectivo donatário, acarretando grandes prejuízos a mesma em relação a outras capitanias que formam o atual território do Nordeste brasileiro.

Muitas são as justificativas que conhecemos para tanto. Dizia-se terra de “bárbaros” e criminosos, praias vãs e imensidões arenosas, isolamento geográfico, tudo para justificar a situação de abandono.

Varnhagen teve informações de documentos para dizer-nos que a pequena praça de Martin Soares Moreno não ia além de uma aldeia de ranchos, além de índios uns 20 soldados que faziam a guarnição de um forte quadrado.

Não souberam os holandeses melhora-la. No diário de Beck ler-se sobre a região circunvizinha ao forte, “Não havia perto os veeiros para as catas, não se prestava a terra para a criação dos gados, não aflorava o massapé suculento para os canaviais de açúcar, sobre não correr nenhum rio de grande curso que levasse ao sertão. Não havia fontes, nem contrastes mais eloquentes que lembrasse o soberbo”.

Depois da reconquista lusa encontram-se atas no conselho ultramarino repletas das lamurias dos Capitães-mores do Ceará, solicitando meios e medidas para a mais elementar sustentação da pequena e distanciada colônia. Nem sequer se encorajavam eles a trazer as famílias, que não haviam de jogá-las, sujeitas a mil percalços, em lugarejo tão mísero, perdido no litoral descampado.

Não se instalou na Capitania do Ceará as ricas ordens religiosas com o fausto de seus conventos, monastérios e igrejas revestidas de ouro, mármores e azulejos. A escassa e rarefeita passagem dos jesuítas pouco legado nos deixou.

As vilas sertanejas que conheceram algum desenvolvimento econômico viviam envoltas na rusticidade e absoluta ignorância por falta de instituições de ensino.

A disputa de poder entre Capitães-mores e ouvidores gerava violência e conflitos, agravava a disputa por terras entre sesmeiros e colonos que diante da parcialidade dessas autoridades faziam justiça com as "próprias mãos". A exploração da mão de obra dos índios era grave problema.

O decreto real estabelecendo a separação não operou milagres. A situação de abandono é uma constante na realidade do Ceará. Assim foi com a metrópole no período colonial, no período regencial com Dom João Vl e todo o império. Reflexão para os dias atuais.

O que de rico tivemos foi a bravura e dedicação de homens que tudo deram por esse torrão. Hoje Viva a Heróis como Pero Coelho de Sousa, Martim Soares Moreno, Mathias Beck, o português e pioneiro no plantio de algodão Antônio José Moreira Gomes, Bernardo Manuel de Vasconcelos primeiro governador do Ceará, José Martiniano de Alencar o Senador Alencar, Senador Pompeu, Antônio Diogo de Siqueira, Guilherme Studart o Barão de Studart, o Reitor Martins Filho, o General Sampaio, General Tibúrcio e tantos outros que em seus mister buscaram incansavelmente o desenvolvimento econômico, intelectual e disciplina militar do Ceará.

  
Jucá Neto (2012)

Jucá Neto (2012)
Armando Farias

GIRÃO, Raimundo. Pequena história do Ceará. 2. ed. Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1962.
GIRÃO, Raimundo. Geografia estética de Fortaleza. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1959.
JUCÁ NETO, Clovis Ramiro. Primórdios da urbanização no Ceará. Fortaleza: Banco do Nordeste; Imprensa Universitária UFC, 2012.

ቅዳሜ 14 ጃንዋሪ 2023

O LICEU DO CEARÁ E O PROFESSOR OTÁVIO FARIAS

Brasão do Liceu - Foto cedida pela família

Prédio antigo do Liceu do Ceará - Foto cedida pela família

A historiografia de Fortaleza faz justa homenagem o Colégio Liceu do Ceará, porém pouco lembrado é um volto de grande saber intelectual e que está diretamente ligado à direção do Liceu do Ceará no período que vai de 1934 a 1945. Trata-se do Dr. Professor Otávio Farias. Sua formação era de Bacharel em Ciências Jurídicas e possuía grande conhecimento sobre a língua portuguesa.

Trago aqui um mine currículo que foi gentilmente cedido pela família bem como fotos do Liceu no período de sua atuação.

Otávio Terceiro de Farias - Foto cedida pela família

OTÁVIO TERCEIRO DE FARIAS

Filho de José Ribeiro de Farias e Maria Terceiro de Farias. Nasceu em Sana Quitéria no dia 24 de Julho de 1899. Alfabetizado por uma sua Irmã, em fazenda onde morava com a família, próxima a vila, nesta iniciou ele os estudos primários em escola particular. Em 1911, a chamado do Padre Tabosa, continuou os estudos no Colégio São Luiz, de Pacoti, sob a direção do Dr. Meneses Pimentel. Com algumas interrupções, estudou nesse colégio até 1918.

Já em Fortaleza prestou exames parcelados (preparatórios) no Liceu do Ceará. Matriculou-se na Faculdade de Direito em 1923 e colou grau no dia 11 de agosto de 1927, quando se celebrava o primeiro centenário de instalação dos cursos jurídicos no Brasil.

 Nomeado Adjunto de Professor da Capital, como quintanista de direito, teve oportunidade de substituir mais de uma vês os titulares Dr. Clodoaldo Pinto e Dr. J.J. Pontes Vieira. Foi seu primeiro emprego publico.

No Colégio São Luiz, de Fortaleza, serviu em todos os postos; econômico, auxiliar de disciplina (prefeito naquele tempo), secretário, tesoureiro, professor primário e secundário, vice-diretor e diretor, sempre em colaboração com o Dr. Meneses Pimentel.

Com a transferência do estabelecimento para outro proprietário negou-se a continuar no seu quadro docente.

Apresentando as teses “Colocação de Pronomes” e “Conjunções” em 1929 fez concurso para a primeira cadeira de Português do Liceu do Ceará, vaga com a morte do Professor Armando Monteiro e ocupada, interinamente, pelo Professor Hermínio Barroso, também diretor da casa na época. Foram seus examinadores; Martinz de Aguiar, Guilherme Moreira de Sousa e Joel Linhares. Aprovado assumiu o caro naquele mesmo ano.

Nomeado Vice-Diretor do Liceu em 1934, assumiu a direção em 1935, quando o titular Dr. Luis Costa foi transferido para igual cargo na Escola Normal. Já como Diretor, esteve a frente do estabelecimento desde 1935 a outubro de 1945. Sua direção está ligada a dois fatos importantes para a vida e história do Liceu: a transferência da sede da Praça das Mongubeiras (Voluntários) para a Praça Fernandes Vieira, hoje Gustavo Barroso; as festas comemorativas de seu primeiro centenário, para as quais organizou variado programa, com banquete competições esportivas, paradas e reuniões cívicas, encerrando-se com a seção mana do dia 19 de Outubro de 1945.

Naquela época foram criados os cursos noturnos, que foi Professor e Diretor. Igualmente, instalaram-se  os cursos complementares, Pré-Técnico e Pré-Jurídico, de que foi também Diretor e os quais seriam depois substituídos pelo curso colegial  2* ciclo.

Convidado pela União Norte- Brasileira de Educação, dos Irmãos Maristas, um dos fundadores da Faculdade Católica de Filosofia, em 1947 como professor de Língua Portuguesa. Exerceu a chefia do Departamento de Línguas Clássicas e, de 1956 a 1961, o caro de Diretor, eleito por 32 dos 37 membros da Congregação, presentes a sessão.

Agregada a Universidade, a Faculdade foi encampada pelo Estado em 1965, com a designação de Faculdade de Filosofia do Ceará. Apesar de nomeado de acordo com o ato de encampação, não assumiu o exercício do novo cargo oficial, por não lhe permitir a lei de acumulação.

Com a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, em 1962, foi convidado pelo Reitor Martins Filho para a cadeira de Língua Portuguesa, nomeado pelo Presidente da República como catedrático interino. Ai foi chefe do Departamento de Letras com mandato anual renovado por eleição de seus pares, até o seu afastamento da faculdade, a qual dirigiu eventualmente em substituição ao Diretor.

Estabilizado segundo disposições da Constituição de 1967, passou a ser professor titular da Faculdade de Letras.

Depois de tomar parte na experiência do ano vestibular, como representante da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, ainda com essas mesmas credenciais, interou a Comissão de Coordenação Geral do Concurso de Habilitação, criada em 1963 pela Resolução 139 do Conselho Universitário. Inicialmente designado como Presidente pelo Vice- Reitor Renato Braga, nos anos subsequentes teve seu mandato renovado pelo voo de seus colegas até 1971, quando, com a restauração da Comissão foi designado pelo atual Reitor como seu Presidente, com mandato de dois anos.

Outras atividades e títulos ao magistério: 

  1. Durante o ano de 1937, professor contratado para turmas suplementares de Português do Colégio Militar. 
  2. Por alguns anos recente de turmas suplementares de Português da antiga Escola Normal Justiniano de Serpa e professor interino na Cadeira de Português, durante o afastamento do titular – Professor José Valdivino, quando este exercia o cargo de Diretor. 
  3. Examinador do Concurso de Português da Escola Normal do Ceará, quando um dos candidatos era o Professor Ermino Araujo, vencedor. 
  4. Examinador do Concurso de Português da Escola Normal do Recife em 1934, no qual saiu vencedor o Professor Aníbal Bruno, Diretor da Instituição do Estado de Pernambuco. 
  5. Professor de Português (conteúdo) da C A. DES, Fortaleza, São Luis em 1959; Salvador em 1960. 
  6. De 1964 a 1966, Diretor do Departamento de Ensino do 2* Grau, tendo por várias vezes substituído  o Secretário de Educação, por designação do Governador do Estado. 
  7. Até 1971, Coordenador da Junta do Planejamento da Secretaria de Educação. 
  8. Assessor da Secretaria de Educação para assuntos Universitários.


Obs. Aposentado como Professor EM-4, por ato do Governador do Estado, datado de 3.4.1968 e como Professor Titular da Faculdade de Letras da UFC, por ato do Magnífico Reitor de 18.8.1969.

“Professor Emérito” título concedido pela Universidade Federal do Ceará em 1970, e pela Faculdade de Filosofia do Ceará em 1972.

Faleceu em 1977 aos 78 anos de idade no Hospital Regional da Asa Sul na Capital Federal vítima de Acidente Vascular Encefálico.

Galeria de fotos Liceu do Ceará

 

 














Fotos cedidas pela família
 

ረቡዕ 17 ኦገስት 2022

PHENIX CAIXEIRAL - ALUNS ANTECEDENTES


PHENIX CAIXEIRAL

Associação dos Empregados do Comércio do Ceará

 

Fundada em 24 de maio de 1891 e instalada em 24 de junho do mesmo ano.
Considerada de utilidade pública pelo Decreto Federal n 3523, de 28 de agosto de 1891.


O motivo principal que suscitou a ideia de uma agremiação que salvaguardasse a classe caixeiral em Fortaleza foi o elevado grau de exploração dos empregados do comércio por parte dos comerciantes que chegou a termos insuportáveis, sendo essa atividade comparada à escravidão por muitos dos seus representantes, entre os quais cito Rodolfo Teófilo.  Os patrões por sua vez justificavam tal situação devido ao fato de serem os comerciários desprovidos de instrução e cultura. Cientes de serem agentes pagadores de impostos ao Estado, os patrões não demonstravam qualquer sinal de negociação com os empregados. Esses por sua vista não possuíam qualquer entidade coletiva que os representasse.

Eram lastimáveis as condições de trabalho dos auxiliares do comércio em Fortaleza. Os mesmos não tinham direito ao voto, e eram equiparados aos criados de servir. As fontes conhecidas nos indicam que o perfil da maioria dos caixeiros era de jovens migrantes, filhos de pequenos pecuaristas e agricultores do sertão, que deixavam suas localidades por falta de perspectivas. Esses jovens eram compelidos à profissão de caixeiros de balcão ou a pequenos comerciantes.

Em Fortaleza, a partir do terceiro quartel do século XIX, configura-se um ambiente sócio econômico favorável ao surgimento de uma incipiente classe média, que se formava por conta da baixa atividade econômica em todo o estado que à época girava em torno da cultura do algodão.

Os reflexos da plantação, logística e exportação do algodão em uma Fortaleza ainda provinciana, propiciam saltos de desenvolvimento significativo. Intelectualmente forma-se um caldeirão de ideias na mente dos jovens que se materializam na forma de várias agremiações culturais e recreativas.

Engajados na campanha abolicionista os caixeiros fundam o Clube Abolicionista Caixeiral em 1873 sob a direção de Antonio Papi Junior.

Em 1870 a classe caixeiral cria a Sociedade Beneficente, tendo seus estatutos aprovados em 1871, com o nome de 8 de Dezembro.

Nesse contexto os caixeiros, assim eram chamados os comerciários à época, iniciaram uma movimentação no sentido de criar uma instituição que fosse capaz de representá-los, trazer visibilidade à categoria, instrução e beneficência. O engajamento de Miguel Teixeira da Costa Sobrinho, Bemvindo Alves Pereira, Heraclito Domingues da Silva, Raymundo Cabral, Januário Augusto Fernandes e Cesar A. da Silva e demais caixeiros materializou os anseios da classe dos auxiliares do comércio e fundou a 24 de maio de 1891 a Sociedade Phenix Caixeiral, reunião ocorrida nas dependências do imóvel de n° 193 da Rua Formosa. Ato contínuo proclamou o Presidente Provisório que foi o Sr. José Vieira da Mota, que instalou nesse momento a mesa provisória com seus componentes.

Analisando os nomes de seus idealizadores percebe-se quão humilde era essa recém-criada associação. Talvez essa suposta fragilidade tenha suscitado oposição à ideia, capitaneada por alguns patrões que encontrou eco em uns poucos colegas comerciários. Superados os obstáculos os seis jovens acima citados instalaram solenemente no dia 24 de junho seguinte a Phenix Caixeiral, Instituição sociocultural, educacional, beneficente e filantrópica que rapidamente alçou elevado grau de reconhecimento por parte de toda a sociedade de Fortaleza e prestígio de seus associados.

Após a eleição foi nomeado presidente Antônio Alves Brasil.

Em agosto do mesmo ano de 1891 abriram-se as aulas da sua Escola de Comércio, um dos cursos mais concorridos à época em Fortaleza.

Atingindo grande êxito a Phenix Caixeiral inaugura a primeira sede própria em 1905, localizada na esquina da Rua Guilherme Rocha com General Sampaio (demolida) e com a expansão das atividades a segunda e maior sede que ficava Na Rua 24 de Maio esquina com Guilherme Rocha (demolida).  

Existiu a Phenix Caixeiral de 1881 a 1979.

O Instituto do Ceará, que é considerado o repositório de nossa memória e coexistiu a Phenix, nada produziu sobre a Instituição. Exceto uma revista de tiragem ocasional, não houve na época nenhuma publicação contemplando sua atuação.

Não se questiona o mérito do final de suas atividades fim. Porém a falta de registros históricos e fontes documentais primárias, provavelmente extraviadas, Impossibilitam uma análise mais aprofundada do seu apogeu com reflexos na área sociológica.  A nulidade da conservação do seu patrimônio material constitui-se em perda significativa de importante capítulo da História de Fortaleza.



Fac-símiles da folha de rosto, página 2 (dedicatória ao Barão de Studart) e página 3, do Discurso proferido por Assis Bezerra Filho, na sessão comemorativa do 14º aniversário da Phenix Caixeiral.
Fonte: Arquivo da Biblioteca Nacional, cedido via pesquisa em 2015. 

Armando Farias


CEARÁ. Governo do Estado. Terra cearense: álbum de propaganda em geral, organizado no governo do Eminente Desembargador José Moreira da Roca,1925.

SILVA, Pedro Alberto de Oliveira. A “Phenix Caixeiral” (1891 – 1979) e como desapareceram dois testemunhos importantes da História de Fortaleza. Revista do Instituto do Ceará, 2008.

ማክሰኞ 16 ኦገስት 2022

PHENIX CAIXEIRAL - ÚLTIMOS REMANESCENTES EM FORTALEZA

Hoje, dia 17 de agosto, se comemora o dia do Patrimônio Histórico, com algumas conquistas nessa área podemos citar a Lei PL 128/2016 aprovada pelo Senado Federal, que torna crime a depredação de bens tombados.

Em nível de Estado do Ceará, mais especificamente falando de Fortaleza, observa-se a falta de lastro no que toca a proteção ao Patrimônio.

Em dezembro de 2014, registrei uma visita ao último imóvel que abrigou a sede da Fênix Caixeiral em Fortaleza, ou "Phenix Caixeiral" na ocasião já desativada, bem como o colégio homônimo. Trata-se da casa onde residiu o ex Governador Meneses Pimentel, sito à Avenida do Imperador n° 636 – Centro.




Fotos do acervo particular

O imóvel já havia sido vendido e a preocupação voltou-se para as esculturas que ainda remanesciam no local, visto que a parte documental estava em local ignorado. Diante da eminente possibilidade de uma perca acionei a reportagem da TV Diário que foi de pronto ao local registrar o fato. Deslocou-se a competente jornalista Quilvia Muniz e seu cinegrafista.

Também fiz a propositura dotombamento junto a SECULTFOR n° de Processo P420051/2014 contemplando as peças escultóricas que eram na ocasião em número de quatro, sendo três esculturas femininas em tamanho natural e a simbólica ave em formato de águia. Peças que ornava a fachada da mais antiga sede da Instituição, imóvel próprio que fora construído em 1905 e se localizava na esquina da Rua Guilherme Rocha com General Sampaio.

Como mencionado anteriormente a falta de proteção é observada em vários casos semelhantes. Passados quase oito anos não se sabe onde estão essas centenárias e simbólicas esculturas. Se é que ainda existem.

Para além das esculturas a própria Instituição Phenix Caixeiral merece grande destaque nos anais da História do Ceará visto a magnitude de abrangência da sua atuação bem como as décadas que trabalhou em prol do bem estar da classe comerciária em Fortaleza.

Armando Farias.

ማክሰኞ 17 ሜይ 2022

SEMANA NACIONAL DOS MUSEUS - 20a. EDIÇÃO

Dia 18 de maio se comemora o Dia Internacional do Museu. A pergunta que não quer calar, Fortaleza tem algo a comemorar nesse dia tão importante que celebra a memória e a História? 

O fortalezense se depara nesse dia, ou em toda a semana dedicada aos museus com o seu principal equipamento fechado. O Museu do Ceará está de portas fechadas e sem previsão de volta a sua atividade fim. 

O Farol do Mucuripe, um espaço por si museológico em total estado de abandono. Há ainda a destruição por demolição de importantes edificações de relevante interesse para a Cidade de Fortaleza, e muitas na iminência de ruir. 

Fortaleza não conta até hoje com um único equipamento alçado à competência do Ibram – Instituto Brasileiro de Museus. Em uma perspectiva otimista fica a esperança que com a implementação do novo complexo museológico da Praça Castro Carreira (da Estação), batizado de Complexo Cultural Estação das Artes, possa o Ceará e a cidade de Fortaleza dispor de um equipamento de fato voltado para a museologia. 



Futuras instalações do Complexo Cultural das Artes
  Fotos do acervo particular

Seria interessante dispormos de um museu temático com referenciais específicos à Cidade de Fortaleza. Um espaço que contasse a História da cidade. Seus aspectos físicos e históricos. A evolução política, comercial, a criação da diocese, a evolução urbana, seus vultos heroicos, enfim, os pormenores interessantíssimos e peculiares que são intrínsecos a nossa cidade, enumerando as referências materiais que desapareceram na urbe ao longo dos anos, assim ficariam de forma documental registrada para a atualidade e a posteridade.

ሐሙስ 12 ሜይ 2022

13 de MAIO Alguns Antecedentes

Hoje, 13 de Maio, quando se comemora a abolição dos escravos de imediato vem a mente dos brasileiros a fulgurante imagem da Princesa Isabel, mais que justamente laureada com título de A Princesa Redentora. 

Para se efetivar esse fato consubstanciado na Lei Áurea muitos acontecimentos na labuta dos abolicionistas ocorreram, entre os quais a abolição dos escravos na Província do Ceará em 1884 e a intensificação do movimento abolicionista em Pernambuco e no Rio de Janeiro.

Figuras proeminentes como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Rui Barbosa são galardoados e fielmente reconhecidos como tal. É a História fazendo suas escolhas. Aqui trarei outros vultos e fatos que igualmente se destacaram nessa árdua luta e são pouco ou nada lembrados.

O Instituto  Histórico e Geográfico de Pernambuco possui uma relíquia do abolicionista Joaquim Nabuco. Trata-se do primeiro processo em que o jurista defende um escravo, no caso Thomás. O responsável pela descoberta foi o historiador João Paulo Costa. O processo com pouco mais de 80 páginas, é de 1869 e versa sobre o assassinato pelo escravo do farmacêutico Brás Pimentel em 1867 por ter mandado açoita-lo. Thomás foi preso julgado e condenado a morte. Fugiu do presídio e na perseguição matou o guarda Afonso Honorato Bastos e feriu o barqueiro Manoel Tavares Ribeiro. Foi novamente preso e condenado.



Nabuco defendeu o escravo cujo novo julgamento ocorreu em 18 de Julho de 1869. "O jovem conseguiu livrar o escravo da pena de morte, mas não da prisão perpétua". Um grande feito para quem era um acadêmico de direito. 

Na publicação Abolição: A Liberdade veio do Norte, Fernando da Cruz Gouvêa traz um bem elaborado cronológico dos anos que antecederam o “13 de Maio” no que toca a política emancipacionista praticada pelos então partidos Liberal e Conservador, que ora se alternavam no Poder Legislativo do Império, que era uma monarquia parlamentar. Esclarecendo que “Norte” na época era o que se compreende hoje por Norte e Nordeste.

O autor foca sua narrativa através de consultas nos jornais ligados às facções que dominavam o cenário político, com destaque para publicações na cidade do Recife e da Corte acerca dos acontecimentos correlatos ao processo abolicionista, apresentado de forma genérica a Província de Pernambuco como protagonista nessa luta. A Província da Bahia com posição ao centro e o Rio de Janeiro contrário ao movimento.

Em meio a essa “ebulição” ocorre a terceira viagem de Pedro II a Europa no ano de 1887 com propósito de tratar da saúde, bastante abalada. Assume a Regência a Princesa Imperial já imbuída do propósito de conduzir a causa da abolição ao seu desfecho final. Isabel depara-se com o Barão de Cotegipe na presidência do Conselho. Cotegipe era natural da Bahia e fazia parte da política da velha guarda, considerado um dos principais estadistas do Segundo Reinado pelo Partido Conservador.
  
Cotegipe fora alertado pela Princesa Regente quando esta assumir o poder “que chegara a hora de se fazer alguma coisa para a abolição, pois o país inteiro discutia o problema e o clima de agitação que envolvia todas as classes não podia continuar” (GOUVÊA, 1988. p. 171). Cotegipe ficara indiferente, parecendo que queria ganhar tempo até a volta do Imperador. Cotegipe enfrentava duras críticas também por parte da imprensa abolicionista e problemas com oficiais da Marinha de Guerra, o que tornou inviável a manutenção do gabinete, sendo dissolvido no dia 10 de Março de 1888.
 
A  Regente escolhe o conselheiro e senador pernambucano João Alfredo Correia de Oliveira para chefiar e escolher os integrantes do novo gabinete a se formar, o que ocorreu no dia 10 de março de 1888. 
 
O jornalista José do Patrocínio militante do movimento de libertação do elemento servil,  reconhecendo que o político pernambucano encontrara  uma situação política caótica, não hesitaria em afirmar no seu jornal Cidade do Rio, que com a participação decisiva de Joaquim Nabuco, José Mariano, Dantas, Rui e tantos outros, a liberdade afinal viria do Norte”. 

No dia 8 de maio de 1888 o governo através do Gabinete Alfredo Correia na pessoa do ministro da Agricultura, conselheiro Rodrigo Silva apresenta ao parlamento em nome da Princesa Imperial Regente sua proposta de abolição em uma memorável sessão da câmara. À época presidia a câmara o Sr. Henrique Pereira de Lucena, futuro Barão de Lucena, político de Pernambuco e membro do Partido Conservador.

No dia 10 de maio, o projeto abolicionista aprovado fora emitido ao senado

O projeto foi aprovado no senado. O senhor presidente Cruz Machado nomeou a comissão que levaria o mesmo para a sanção da Princesa Imperial Regente no dia 13 de maio.

“O vaticínio de José do Patrocínio não demorou dois meses para se tornar realidade: A Abolição, a Liberdade veio do Norte”.(GOUVÊA, 1988, p. 11-14)
 

Armando Farias

GOUVÊA, Fernando da Cruz. Abolição: a liberdade veio do Norte. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 1988.

Diário de Pernambuco C8, 31 de Outubro de 2004.

ማክሰኞ 12 ኤፕሪል 2022

ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA 296 anos

No dia do aniversário de Fortaleza o blog Capitania Siará Grande dedica mais um espaço para mostrar a cidade com suas modificações ao longo das décadas. Referência histórica, arquitetônica e sociológica.

Três fotografias de épocas diferentes nos mostram mudança significativa.

A mais antiga está sem data, em uma análise do documento em si podemos atribuir início dos anos de 1910. A imagem dos trechos iniciais da então Rua Formosa (Barão do Rio Branco) foi capturada dos altos do Palacete Guarani que fora inaugurado em 1908. O transporte predominantemente era de tração animal, e vê-se os trilhos dos bondes que se utilizavam desse modal desativado em 1913, quando foram substituídos pelos bondes elétricos.

Antiga Rua Formosa (aprox. 1910), atual Rua Barão do Rio Branco
Rua Formosa (atual Rua Barão do Rio Branco)
Acervo particular

Rua Barão do Rio Branco, Centro de Fortaleza/CE
Rua Barão do Rio Branco - atualidade 
Acervo particular

A segunda traz a data de 1931. Temos a Praça do Ferreira ainda com os vestígios da Belle Époque em seu coreto ornamentado e o quarteirão do prédio da antiga Intendência incorrupto, hoje desaparecido. Esse edifício fora o primeiro de dois pavimentos construído em Fortaleza em 1825, lembrando a antiga crendice popular da época que repetia a censo comum que o solo arenoso de Fortaleza não suportava construções além do pavimento térreo.

Praça do Ferreira
Praça do Ferreira
Acervo particular

Praça do Ferreira, Centro de Fortaze/CE
Praça do Ferreira - atualidade 
Acervo particular

A ultima foto é de 1970 nos revela o segundo endereço da fonte dos “cavalinhos”. Como manda a tradição tudo em Fortaleza tem que ser mudado. A fonte que fora comprada na Europa para ornamentar a Praça da Lagoinha (Jardim Comendador Teodorico) foi relocada para o Benfica (foto). Anos depois foi retirada, passou mais de uma década recolhida até ressurgir na Praça Murilo Borges, seu atual endereço. 

Fonte dos cavalinhos e Escola de Engenharia UFC
Fonte dos cavalinhos e Escola de Engenharia UFC
Acervo particular

Fonte dos Cavalinhos, Praça Murilo Borges - Fortaleza/CE
Fonte dos cavalinhos Praça Murilo Bordas- atualidade
Acervo particular

As intervensões na malha urbana nem sempre são positivas. A dinâmica é uma característica das cidades, porém certas modificações, ou modificações constantes e radicais podem levar uma cidade e seus habitantes a uma perca de memória. A maneira contemporânea de rever espaços vazios ou decadentes nada mais é que a revitalização, ação que vem ocorrendo em vários países e cidades do Brasil evita o apagamento total de um passado que muito interessa a todos os cidadãos.

Viva Fortaleza!

Armando Farias

እሑድ 10 ኤፕሪል 2022

ARACATI COMEMORA DIA DE FUNDAÇAO.

Hoje se comemora a data do decreto real de criação da Vila da Santa Cruz do Aracati, ocorrido em 11 de abril de 1747. Sua instalação deu-se em 24 de fevereiro de 1748. Porém sua história remonta a princípios do século XVIII. Corrobora com essa informação o professor Geraldo da Silva Nobre (p. 119) “o abate e salga, dando origem as oficinas de carne do Ceará” datam provavelmente, do “ano de 1707, em uma atividade que foi crescendo na medida da conquista do mercado mais próximo, o de Pernambuco”. O lugar era conhecido por São José do Porto dos Barcos.

Uma História de muitos fatos importantes ligados à economia da Capitania do Ceará Grande. A Indústria e o Comércio do charque foi o que propiciou a instalação da vila. O progresso veio rápido, os mercados consumidores de Pernambuco e Bahia eram crescentes. Registros históricos apontam negociantes de Aracati sócios de firmas inglesas.

O crescimento econômico acarretou o crescimento populacional e adiantamento cultural de sua elite, esse movimento repercutiu na arquitetura de seus casarões, igrejas e demais edifícios públicos que  facilmente ainda hoje identificamos em seu centro histórico, antigas referências de importante valor arquitetônico do final do século XVIII e princípios do século XIX.

Foi uma prolongada estiagem (1790 – 1794) que minou a indústria da carne seca. Após esse período a cultura do algodão deu uma sobrevida e impulsionou o crescimento da vila.

O viajante inglês Henry Koster visitou a Aracati em 1811 e de seus detalhados diários depreende-se que o que mais lhe chamou atenção foi à boa acolhida e a predominância de edificações com dois pavimentos. Com relação à mobília nada mencionou, apenas que dormira em uma rede.

Esteve Koster visitando o sobrado do comerciante José Fidelis Barroso associado à Firma Dourado de Londres. Entre seus negócios explorava salinas, era exportador e importador. Na descrição de Gustavo Barroso bisneto do Coronel Fidelis, cita,

“o vasto sobrado de azulejos ainda hoje existe na rua principal, atualmente propriedade da família Costa Lima”.

Segundo João Brígido conservou-se Aracati até 1850 como a primeira praça de comércio e mais opulento povoado da província. Após sobreveio um período longo de decadência e esquecimento. A reboque veio a mutilação e destruição de parte do seu patrimônio material.

Aqui cito o desaparecimento da importante edificação da Casa da Alfândega de Aracati obra de 1800, edificação construída para atender a estrutura de arrecadação do imposto do algodão que saia do porto local. Abandonado pelo poder publico, arruinado, desapareceu por completo em 1911 para dar lugar a uma pequena praça.

Outra perca foi o sobrado das Corujas, cujos detalhes foram sublinhados pelo Professor José Liberal de Castro,

“basta citar o antigo sobrado dito das Corujas, abandonado e impiedosamente demolido na década de 40. Desse conjunto, o mais impressionante do Estado, nem mesmo o portão nobre, de padieira barroca, no muro lateral, foi poupado da destruição” (op. Cit.).

Importante perca foi a demolição do Solar das Correias situado na Rua Santos Dumont, 1208, muito repercutiu. O Jornal O POVO na edição de 7 de novembro de 1980 denunciou a demolição.

Também ressaltou sua importância o Professor José Liberal de Castro,

“Era um inconfundível exemplar de arquitetura oitocentista, de aspecto neoclássico. Mantinha fachada de azulejos importados de Portugal e portões laterais para a entrada de carruagens, aquela, criminosamente destruída na madrugada do dia 1* de novembro de 1980”.

No momento a sociedade aracatiense aguarda a restauração do solar dos Zaranza localizado na Avenida Coronel Alexanzito, 353 que fora desapropriado em 2018 através de Decreto-Lei n* 3.365 onde declara ser o imóvel de utilidade pública.

Relatos da aracatiense Dra. Tarsila Zaranza, Advogada, dão conta que o sobrado ficava ao lado do sobrado das corujas e que fora construído por volta de 1800 pelo político conhecido por Barros, que posteriormente foi assassinado na vizinha cidade de Russas. Os herdeiros então o venderam ao tio de Tarsila, Senhor José Adrião Zaranza Filho que acomodou no imóvel os pais e as cinco irmãs solteironas. Ficou na família Zaranza até o ano de 2002 quando faleceu sua ultima irmã solteira que residia no imóvel.

Segundo Tarsila o edifício tinha muitos cômodos e seus pavimentos distribuídos da seguinte maneira; no térreo funcionava a oficina de marcenaria do avô, José Adrião Zaranza e garagem para carruagens, no primeiro andar acomodavam-se as mulheres e no terceiro e ultimo piso os homens. Ainda havia um sótão. Depois de anos de abandono foi alçado pelo município conforme citado acima.

Recentemente a que se comemorar a entrega do Teatro Francisca Clotilde.

Lamenta-se a falta de referencia as oficinas de carne no município de Aracati, atividade extinta, mas que a ela poderia ser atribuído um valor de patrimônio imaterial para a região e de forma lúdica receber e ilustrar nativos e visitantes dando a conhecer o processo inteligente de preservar as carnes em distantes épocas que deu origem a cidade. Certamente todos nós teríamos mais um motivo para orgulhar-se de Aracati.

Viva Aracati!

Armando Farias

BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.

CASTRO, José Liberal de. Pequena informação relativa à arquitetura antiga no Ceará. Fortaleza, 1977.

LEAL, Hélio Ideburque Carneiro. Singelo Documentário de Alguns Atentados ao Patrimônio Cultural da Cidade de Aracati. Fortaleza: Fundação Edson Queiroz / Universidade de Fortaleza 1995.

ሐሙስ 24 ማርች 2022

DIA 25 DE MARÇO - Data Magna do Ceará.

A data que hoje se comemora vale sublinhar é resultado de longo processo de lutas e embates ideológicos da sociedade cearense do século XIX contra a lei de propriedade do elemento servil. Processo esse que teve início tempos antes do galardoado engajamento do Dragão do Mar.

O cearense sempre deu mostras comportamentais contrários à escravidão, prevalecendo historicamente entre a população sentimentos de igualdade entre conterrâneos e irmãos de outras terras.  

Emprestando um olhar sociológico nota-se que não se constituiu no Ceará nos séculos XVIII e XIX costumes no trato urbano e rural que correspondessem a uma sociedade escravocrata como a estabelecida nos moldes das antigas capitanias, posteriormente, províncias a exemplo Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, tema esse estilizado no clássico (Casa Grande e Senzala) de Gilberto Freire.

A índole do cearense sempre apontou para uma desconstrução do processo escravista. Em meados do século XIX, O Padre Martiniano de Alencar já propusera a substituição de nossos escravos por colonos estrangeiros, antecipando uma ideia que só seria efetivada no final da centúria vigente.

No ano de 1850, nosso parlamentar Pedro Pereira da Silva Guimarães, nos honrou com um projeto na Câmara Geral, que deveria beneficiar daquela data em diante o nascituro filho de escravo.   Óbvio que os escravistas de plantão barraram.

Efetivamente as alforrias espontâneas tornaram-se frequentes no Ceará após a emancipação norte-americana em 1865.

Em 1868 em Resolução nº 1.254 da Assembleia Provincial sancionada em 28 de dezembro pelo presidente Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque autorizava o Executivo a

“despender a quantia de quinze contos de réis com a emancipação de cem escravos que forem nascendo, de preferência os de sexo feminino, os quais serão libertados na pia, cem mil réis cada um” (art. 1º ).

O governo deveria distribuir a quantia pelas diferentes comarcas da Província, disso encarregada em cada termo uma comissão constituída do pároco, do juiz municipal e do presidente da Câmara do Município (ART. 2º).

Logo o sertão imita a capital, e quase todas as comarcas do Ceará passaram a criar comissões semelhantes a de Fortaleza, prosseguindo com as indenizações.  Essa Resolução, com algumas emendas, torna-se a Lei de nº 1.334, de 22 de outubro.

No ano de 1870, surge no Ceará a primeira sociedade libertadora, a de Baturité, instalada em 29 de junho daquele ano, e tem entre o seu quadro de sócios pessoas gradas e intelectuais da época. No mesmo ano (25 de junho), Sobral funda a Sociedade Manumissora Sobralense.

A seca dos três anos 1877-1879, fora inclemente. Houve muitos que se valeram desse triste episódio vendendo clandestinamente escravos a províncias do Vale do Paraíba. Muitas fugas também ocorreram nesse período diminuindo consideravelmente o número de cativos na província.

De sorte prevaleceu entre cearenses o ideal da liberdade o que propiciou a criação da Perseverança e Porvir, que foi oficialmente instalada em 28 de setembro de 1879, data escolhida em homenagem aos oito anos de existência da Lei do Ventre Livre. A sociedade idealizada por dez moços de fé manteria um fundo de emancipação, que ia sendo alimentada com a contribuição espontânea dos associados e uma percentagem nos ganhos obtidos em cada operação mercantil.

Durante a sessão de dia 28 de novembro de 1880, fica determinada uma reunião para o dia 8 de dezembro seguinte, onde seria inaugurada a Sociedade Cearense Libertadora. Essa nova agremiação de pronto recebeu o engajamento de todo o povo cearense na luta sem trégua contra o fim da escravidão negra em nossa província.

Muito contribui a causa libertadora as greves da praia lideradas pelo liberto Antônio Napoleão e Chico da Matilde.

Anos mais tarde, no dia 25 de Março de 1884 uma campanha de êxito encheu de orgulho, luz e glória o povo cearense com a conquista da liberdade do elemento servil na província do Ceará.

Fac símile Revista do Instituto Ceará  publicado no Libertador


Armando Farias 

GIRÃO Raimundo. Abolição no Ceará. 3a. ed. melhorada. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1984.