Divulga-se maciçamente a alcunha de “louca” a D. Maria, Rainha de Portugal, porém poucos sabem que foi Ela a autora do Decreto que separou o Ceará das “peias” de Pernambuco, fato ocorrido ao apagar das luzes do século XVlll.
Porém só no início do século XlX se consubstanciou de fato os efeitos positivos desse ato, que a anterior dependência relegou a capitania mais de 200 anos de atraso, somado ao abandono que ficou pelo seu respectivo donatário, acarretando grandes prejuízos a mesma em relação a outras capitanias que formam o atual território do Nordeste brasileiro.
Muitas são as justificativas que conhecemos para tanto. Dizia-se terra de “bárbaros” e criminosos, praias vãs e imensidões arenosas, isolamento geográfico, tudo para justificar a situação de abandono.
Varnhagen teve informações de documentos para dizer-nos que a pequena praça de Martin Soares Moreno não ia além de uma aldeia de ranchos, além de índios uns 20 soldados que faziam a guarnição de um forte quadrado.
Não souberam os holandeses melhora-la. No diário de Beck ler-se sobre a região circunvizinha ao forte, “Não havia perto os veeiros para as catas, não se prestava a terra para a criação dos gados, não aflorava o massapé suculento para os canaviais de açúcar, sobre não correr nenhum rio de grande curso que levasse ao sertão. Não havia fontes, nem contrastes mais eloquentes que lembrasse o soberbo”.
Depois da reconquista lusa encontram-se atas no conselho ultramarino repletas das lamurias dos Capitães-mores do Ceará, solicitando meios e medidas para a mais elementar sustentação da pequena e distanciada colônia. Nem sequer se encorajavam eles a trazer as famílias, que não haviam de jogá-las, sujeitas a mil percalços, em lugarejo tão mísero, perdido no litoral descampado.
Não se instalou na Capitania do Ceará as ricas ordens religiosas com o fausto de seus conventos, monastérios e igrejas revestidas de ouro, mármores e azulejos. A escassa e rarefeita passagem dos jesuítas pouco legado nos deixou.
As vilas sertanejas que conheceram algum desenvolvimento econômico viviam envoltas na rusticidade e absoluta ignorância por falta de instituições de ensino.
A disputa de poder entre Capitães-mores e ouvidores gerava violência e conflitos, agravava a disputa por terras entre sesmeiros e colonos que diante da parcialidade dessas autoridades faziam justiça com as "próprias mãos". A exploração da mão de obra dos índios era grave problema.
O decreto real estabelecendo a separação não operou milagres. A situação de abandono é uma constante na realidade do Ceará. Assim foi com a metrópole no período colonial, no período regencial com Dom João Vl e todo o império. Reflexão para os dias atuais.
O que de rico tivemos foi a bravura e dedicação de homens que tudo deram por esse torrão. Hoje Viva a Heróis como Pero Coelho de Sousa, Martim Soares Moreno, Mathias Beck, o português e pioneiro no plantio de algodão Antônio José Moreira Gomes, Bernardo Manuel de Vasconcelos primeiro governador do Ceará, José Martiniano de Alencar o Senador Alencar, Senador Pompeu, Antônio Diogo de Siqueira, Guilherme Studart o Barão de Studart, o Reitor Martins Filho, o General Sampaio, General Tibúrcio e tantos outros que em seus mister buscaram incansavelmente o desenvolvimento econômico, intelectual e disciplina militar do Ceará.
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