Capitania Siará Grande é um blog destinado à divulgação de fatos pitorescos da história do Ceará.
ረቡዕ 21 ኤፕሪል 2021
ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA, HOMENAGENS PROSSEGUEM EM ABRIL
ሰኞ 12 ኤፕሪል 2021
ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA HOJE
ሐሙስ 8 ኤፕሪል 2021
ANIVERSÁRIO DE FORTALEZA (2021)
ረቡዕ 24 ማርች 2021
25 DE MARÇO: ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA NO CEARÁ
ሐሙስ 18 ማርች 2021
DIA DE SÃO JOSÉ NO CEARÁ
Quando dos primeiros dias da Vila, como os habitantes somente dispunham da capela da Fortaleza para assistir aos ofícios religiosos, as mulheres muitas vezes se sentiam constrangidas pela importunação dos soldados. A fim de contornar a situação desagradável e para geral alívio dos aborrecimentos, foi erguida uma Igrejinha no exterior do quartel, em suas proximidades, dedicada a São José. A população logo demonstrou simpatia pela nova capela e por seu orago, cuja devoção fortaleceu-se com o estabelecimento de correlações entre o dia da festa do santo e a confirmação do inverno ou da deflagração de uma seca. Transcorrido o tempo, a pequena igreja de São José, demolida, reconstruída e aumentada mais de uma vez, tornou-se matriz da Vila, transformando-se, por fim, na atual Catedral Metropolitana fortalezense.
Nota: Para atender às determinações legais e criar instrumentos adequados ao reconhecimento e à preservação desses bens imateriais, o Iphan coordenou os estudos que resultaram na edição do Decreto nº. 3.551, de 4 de agosto de 2000 - que instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) - e consolidou o Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR). (IPHAN, online).
Armando Farias
ሐሙስ 11 ማርች 2021
ANIVERSÁRIO DO RECIFE E DE OLINDA
Com a permissão da Deusa Clio, empanando a História, evocando a prosa e poesia a espraiar-se, e erguendo-se exaltar suas belezas, riquezas e grandezas. Olinda, Recife.
እሑድ 7 ማርች 2021
DIA INTERNACIONAL DA MULHER – BEATRIZ DE ALBUQUERQUE A PRIMEIRA GOVERNANTE DAS AMÉRICAS
Foram inúmeras as mulheres que fizeram História no Nordeste do Brasil. Falar de todas seria tarefa impossível. Assim optei por citar apenas uma, porém emblemática. Beatriz (Brites na grafia da época) de Albuquerque.
Dona Brites de Albuquerque era uma nobre portuguesa, esposa do primeiro donatário de Pernambuco, Duarte Coelho e filha de Dona Joana de Bulhões e Lopo de Albuquerque, Conde de Penamacor. Por ter assumido o governo da capitania por mais de uma vês é reconhecida como a primeira governante das Américas.
Brites de Albuquerque nasceu em Portugal em 1517, portanto chegou bem jovem ao Brasil. Beatriz fazia parte da poderosa Família dos Albuquerque, arrolados entre os “barões assinalados” do poema Os Lusíadas.
Brites de Albuquerque teve dois filhos, ambos nasceram em Olinda, Duarte Coelho de Albuquerque e Jorge de Albuquerque Coelho. Assumiu interinamente o governo da capitania de Pernambuco pela primeira vês quando o marido, Duarte Coelho foi envolvido em uma intriga e teve que viajar a Lisboa, ocasião que aproveitou para levar os filhos pequenos para completar os estudos no Reino.
Principiou-se esse mal entendido quando da criação do governo Geral do Brasil com sede em Salvador em 1549. Essa forma de governo fora criada pela coroa pelo fato de terem arruinado o sistema de capitanias, porém Pernambuco ficara de fora por ter tido pleno êxito. Administrativamente Olinda passou a ser assistida com uma Câmara Municipal, uma das primeiras criada no Brasil, o Senado de Olinda, informações que constam em carta datada de 15 de abril de 1548 de Duarte Coelho para o Rei Dom João III. Em 1554 Duarte Coelho viaja para Portugal para audiência com o rei, porém como já era idoso vem a falecer em Lisboa.
Com a morte do marido Dona Brites permanece como regente, ocupando o cargo com todas as honras e obrigações devidas, recebendo, inclusive o título de Capitoa. Brites permanece governando até a maioridade dos filhos. Estes regressaram de Portugal por volta de 1660, quando Duarte de Albuquerque assume como segundo donatário. Os dois filhos de Dona Brites tiveram que voltar a Portugal para serem incorporados a armada do rei Dom Sebastião em 1572, aonde feridos vieram a falecer.
Mais uma vez dona Brites assume o comando da capitania de Pernambuco permanecendo no cargo até a sua morte em 1584.
A revista do IAHGP, (Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco) ano 1947, transcreveu o registro da transmissão de poder do filho para a mãe:
“Passar cartas de ofícios e serventes deles e de confirmações, e de tudo o mais que ela vir que é necessário e que cumpra a governança da terra, e possa dar terras de sesmarias, e licenças para se fazer engenhos de águas, e trapiches, e marinhas de sal, e todos os engenhos que se houverem de fazerem toda essa capitania, conforme capítulo de doação...” (CAVALCANTI, 2012, p. 223)
Diante de tão importantes fatos relacionados ao pioneirismo de Dona Brites fica o orgulho de nós nordestinos por termos acolhido em nossa região uma mulher admirável sob todos os aspectos de sua personalidade.
"Dona Beatriz é considerada pelos especialistas como uma das mais ilustres brasileiras, sendo que durante o seu governo, manteve a ordem e a paz da Capitania de Pernambuco, combatendo as insurreições indígenas, legislando e controlando os assuntos dos colonos e construindo e urbanizando núcleos, como Olinda, onde faleceu, provavelmente entre junho e outubro de 1584." (WIKIPÉDIA)
Armando Farias
CAVALCANTI, Carlos Bezerra. Olinda: um presente do passado. Olinda: 2012.
FREYRE, Gilberto. Olinda: 2º guia prático, histórico e sentimental de cidade brasileira. 3. ed. rev. atual. aum. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1960.
ዓርብ 5 ማርች 2021
A "PARTICIPAÇAO" do Ceará na REVOLUÇAO PERNAMBUCANA
Considerada por historiadores como o único movimento reacionário no Brasil colônia que se pode chamar revolução foi a Revolução Pernambucana ou “Revolução dos padres” que, de fato, trouxe a independência do país de Portugal.
Foi gestada no Seminário de Olinda por padres e seminaristas entre os quais o cearense subdiácono José Martiniano de Alencar. Também teve adesão de ricos comerciantes ligados a maçonaria e militares, ganhou a participação imediata do Rio Grande do Norte e Paraíba.
O Ceará não chegou de fato a aderir, pois o que seria seu representante, o seminarista e membro da Academia do Paraíso Martiniano de Alencar fora preso em sua terra natal logo que começara a divulgação dos ideais do movimento.
O estopim foi o motim de 6 de março de 1817 no Recife que culminou com o assassinato do comandante da guarda por um oficial. As causas principais que levaram ao movimento foi a insatisfação com as regalias das elites e com a elevação de impostos desde a chegada da família real portuguesa.
Após derrotarem as tropas de Portugal, os revoltosos formaram um governo provisório e difundiram as ideias em outras regiões do Brasil.
Na capitania do Siará foi sob as ordens do governador Francisco Sampaio que o coronel Alexandre Leite Chaves de Melo se aquartelou em Ruças com as forças de Linha, Milícias e até de índios auxiliares do seu comando de fronteira para combater os revoltosos. Dali partira toda a sua ação, prendendo posteriormente no Crato os padres Carlos de Alencar, José Martiniano, Tristão Gonçalves e Dona Bárbara de Alencar, todos engajados no movimento emancipado republicano. Segundo o Historiador Paulino Nogueira, presos, os três últimos foram trazidos para Fortaleza onde ficaram reclusos “em estreitíssimo e imundo calabouço no antigo quartel da 1* linha, entre a cadeia do crime e a fortaleza”. Dona Bárbara ocupou cela separada dos dois filhos que ficaram juntos. Posteriormente por ordem do governador Sampaio todos foram conduzidos a acomodações mais espaçosas e arejadas. Por fim os presos foram conduzidos à Bahia para julgamento.
Em 19 de maio de 1817 o governo provisório da República de Pernambuco apresenta sua capitulação perante o comando da esquadra que havia sitiado o porto do Recife.
Pernambuco teve por castigo imposto por Dom Joao VI a perca territorial referente ao hoje estado de Alagoas onde alguns senhores de engenho não aderiram ao movimento, território então de Pernambuco, passando a constituir uma capitania autônoma.
Armando Farias
BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.
ረቡዕ 24 ፌብሩዋሪ 2021
VIÇOSA DO CEARÁ Monumento Nacional
Em agosto de 2003, o Sítio Histórico de Viçosa do Ceará passou a ser considerado patrimônio nacional. Isso significa o reconhecimento do valor da nossa cidade para todo o país. Durante os séculos XVII E XVIII, a atividade missionária dos jesuítas tornou-se o principal fator para a ocupação e colonização daquelas terras tabajaras da Ibiapaba. Das dezenas de aldeias ali existentes quando da chagada do europeu, apenas duas não sucumbiram a sua ambição. Estas, dominadas pela primeira missão jesuítica para ali enviada, constituíram a formação de uma aldeia-mãe, fundamental para a expansão do projeto colonial lusitano. Assim prefixou-se a célebre Aldeia da Ibiapaba, onde conviveram, por cerca de um século, mais de 6.000 índios, um dos maiores continentes indígenas da América Latina.
Ibiapaba, serra talhada, na linguagem indígena, foi o sítio onde originou-se a cidade de Viçosa do Ceará, primitivamente a Aldeia de Nossa Senhora da Assunção. Situada em local estratégico, na divisa entre duas zonas administrativas do Brasil-colônia e relativamente próxima do mar, Viçosa configurou-se num importante entreposto comercial e de comunicação, tendo por isso grande importância aos olhos portugueses. Dessa forma, a cidade contribuiu para a conquista e o povoamento do Nordeste brasileiro.
As ruas de Viçosa do Ceará, seu casario, sua igreja matriz e tantas outras edificações que permaneceram, contam melhor do que ninguém como era essa época e como viviam as gerações passadas. Para o país, Viçosa é um exemplo muito importante desse período, que só chegou aos nossos dias porque a cidade foi preservada.
Você já parou para pensar no que isso significa? Qual a importância de tudo isso para nossa cidade? Por que é preciso preservar o patrimônio cultural de Viçosa do Ceará para as futuras gerações? É sobre isso que queremos conversar com você. (PAIVA, 2004, p. 05)
Vista do Theatro Pedo II - Desenho de Domingos Linheiro, 1999. (PAIVA, 2004, p.12-13)
PAIVA, Olga Gomes (coord.); LINHEIRO, Domingos Cruz; DUARTE JR., Romeu. Viçosa do Ceará: roteiro para a preservação do Patrimônio Cultural. Fortaleza: IPHAN 2004.
ማክሰኞ 23 ፌብሩዋሪ 2021
Padre Antonio Vieira no Ceará
Muito se lê acerca dos dois períodos em que o Padre Antonio Vieira esteve em missão no Brasil, Maranhão e Grão Pará, (1653) e (1654/1661). Sobre o ano que esteve no Ceará mais precisamente na Serra da Ibiapaba quase nada. Gustavo Barroso dedica um capítulo do seu livro À Margem da História do Ceará (p. 36) ao “insigne jesuíta”.
Vieira foi deveras perseguido por combater a escravidão indígena chegando ao ponto de ter que regressar a Portugal. Retornou ao Brasil “armado com poderes extraordinários” dados por sua majestade Dom João IV que o nomeou Pregador Régio para dar continuidade a sua missão.
Foi nessa segunda permanência no Brasil que perdurou por seis anos e meio (maio de 1654 até fins de 1661), que Vieira em sua derradeira missão se deslocou para o Siará. O Padre Antonio Vieira partiu de São Luis para a Ibiapaba em 3 de março de 1660 acompanhado de dois jesuítas, Dom Jorge e o Padre Gonçalo de Veras e aproximadamente 50 índios pacíficos. Percorreu 600 léguas do Tapajós a Ibiapaba intercalando jornadas a pé e embarcado, costeando o litoral alguns dias, terminou a travessia por terra. Chegaram descalços, com os pés em chagas após 21 dias de jornada.
Chegaram na serra na quarta-feira de treva da semana santa que logo seguiu-se uma celebração, bem como em todos os dias da semana maior. Foi eleito padroeiro da missão da serra São Francisco Xavier, que teve sua imagem introduzida no altar da igreja.
João Francisco Lisboa anota o quão era difícil essa travessia do Maranhão para o Ceará, “senão como coisa impossível, ao menos como dificultosíssima”.
Vieira otimizou o percurso de viagem fazendo um reconhecimento do relevo, vegetação e hidrografia da região. Levantou 16 igrejas ao longo desse trajeto, produziu vários compêndios em sete idiomas indígenas e em português entre formulários e catecismos. Pacificou, converteu e civilizou diversas nações indígenas.
Chegando à Ibiapaba Vieira fixou-se na aldeia de Viçosa hospedando-se no sítio da Companhia, o Tiaia, de que nos dá notícia Milliet de Saint Adolphe. Barroso assinala que são escassos os pormenores desse período.
Vieira nomeou “um superintendente índio que vigiasse a sua observância, ao qual intitulou Braço-dos-Prades”. Vieira de pronto realizou muitos prodígios entre os gentios, como batizados, casamentos e pacificação em geral.
Após a passagem de Vieira pela aldeamento de Viçosa, essa foi oficializada aldeia em 1700, depois se fez vila e finalmente cidade. Quase nada material ficou de testemunho dessa missão. Barroso nos informa “uma relíquia preciosa e gloriosa: a singela cadeira de braços seiscentista, de couro pregueado, em que ele costumava sentar-se e que, certamente, amarrada a dois varais, servia para transporta-lo, carregada pelos índios sob as ordens do Braço-dos-Padres”. “Durante séculos conservou-se guardada na capela de Nossa Senhora da Assunção, onde a vi na ultima vez em que estive em Viçosa, no ano de 1937. Dali transferiram para o rico e admirável Museu Diocesano de Sobral, criação do venerável e erudito bispo-conde d. José Tupinambá da Frota. Nele encontrei e fiz fotografar em 1955”.
Segue trecho da descrição poética de Vieira sobre a serra. “Ibiapaba, explica em carta, na linguagem dos naturais que dizer serra talhada, não é só uma serra como vulgarmente se chama, senão muitas, que se levantam ao sertão das praias de Camuci; e mais parecidas a ondas do mar alterado, que a montes, se vão sucedendo e encapelando umas após das outras, em distancia de mais de 40 léguas. São todas formadas de um só duríssimo rochedo; em partes escavado e medonho; em outras coberto de verdura e terra lavrada, como se a natureza retratasse nesses negros penhascos a condição de seus habitantes; que, sendo sempre duros como de pedra, às vezes dão esperanças, e se deixam cultivar. Da altura dessas serras não se pode dizer coisa certa, mais que são altíssimas, e que se sobem as que o permitem, com maior trabalho da respiração, que dos mesmos pés e mãos, e que é forçoso usar em muitas partes. Mas depois que se chega ao alto delas, pagam muito bem o trabalho da subida, mostrando aos olhos um dos mais formosos painéis, que por ventura pintou a natureza em outra parte do mundo; variando de motes, vales, rochedos, picos, bosques e campinas dilatadíssimas, e dos longes do mar no extremo dos horizontes...As águas são excelentes...” Sobretudo, olhando do alto para o fundo das serras, estão-se vendo as nuvens debaixo dos pés, que, como é coisa tão parecida ao céu, não só causam saudades, mas já parece que estão prometendo o mesmo que se vem buscar por êstes desertos. Os dias no povoado da serra são breves, porque às primeiras horas do sol cobrem-se com as névoas, que são contínuas, e muito espêssas. As últimas escondem-se antecipadamente nas sombras da serra, que para a parte do ocaso são mais vizinhas e levantadas. As noites, com ser tão dentro da Zona Tórrida, são frigidíssimas em todo o ano, e no inverno com tanto rigor, que igualam os grandes frios do Norte, e só se podem passar com a fogueira sempre ao lado.
Padre Antonio Vieira faleceu em Salvador, Bahia em 117 de junho de 1697.
Armando Farias
BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.
ሐሙስ 18 ፌብሩዋሪ 2021
PENSATA: A História não pode ser apagada
Infelizmente faltam informações sobre esse monumento tais como; quem idealizou? Quem patrocinou sua confecção? Qual gestão viabilizou sua instalação? Qual artista de fato o produziu? E finalmente o que foi feito de tão simbólica memória de nossa cidade?
As gerações mais recentes não coexistiram com o monumento que fora implantado na pracinha defronte ao Náutico Atlética Cearense. As mais velhas pouco se lembram de tão simplória homenagem. Nada impedia que nossa população convivesse pacificamente com esse marco histórico, hoje desaparecido.
O que temos hoje, se deparando com a documentação que chegou a nossos dias depreende-se do fragmentado diário de Beck, é que a quarta expedição às terras cearenses no século XVII tratou-se da maior e mais organizada empreendida até então. Liderados por Matias Beck aportaram nas encostas do Mucuripe em abril de 1649. Foi criterioso o projeto, implantação e construção do antigo Forte de Schoonenborch pelos flamengos no monte ou duna chamado “Marajaitiba”. Segundo documentos chegou a ser ampliado.
Não se pode afirmar que tal expedição não tivesse entre seu objetivo o de fundar um núcleo urbano, isso poderia ocorrer como uma consequência natural dessa empresa. Vencidos os flamengos em Pernambuco em 1654, após cinco anos deixam pacificamente a capitania. A mesma fortificação é imediatamente tomada pelas tropas lusas que o ocuparam e rebatizam. “O Schoonenborch foi levantado por Matias Beck a margem esquerda do riacho Pajeú em 1649, e não sofreu qualquer solução de continuidade em sua existência, sendo ocupado pacificamente pelos portugueses em 1654, após a rendição holandesa na Campina do Taborda, ocasião em que ganhou a denominação de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção”. p.73
Há aqui uma plena continuidade de uma praça fortificada com habitações indígenas em seu entorno que muito lentamente evolui a ponto de décadas depois fazer-se vila. É importante ressaltar que essa fortificação tornou-se o motivo pelo qual esse incipiente núcleo cresceu, inclusive abrigando um contingente populacional da vizinha Aquiraz acossadas por ataques dos aborígenes em 1713.
Desprezando a enfadonha definição de criação de cidade e vila e as probabilidades de suas respectivas fundações, pode-se sim atribuir a Matias Beck os primórdios do futuro aglomerado urbano que hoje é Fortaleza. Seu diário não deixa dúvidas das possibilidades favoráveis existentes nas proximidades do forte.
Não há necessidade de oficialmente considera-lo o fundador de Fortaleza, há necessidade de reconhecer sua primazia, seu pioneirismo e empreendedorismo. A população, estudantes e turistas merecem deter essa informação para livremente poder formar conjecturas e o cruzamento com outros fatos históricos que estão diretamente ligados a esse evento.
Hoje não há nada em Fortaleza que rememore Matias Beck. Raimundo Girão ousou propor por em uma avenida o nome do “Experimentado Aventureiro, preposto da Companhia”, o que lhe custou o cargo de Secretário de Urbanismo na gestão do então prefeito Manuel Cordeiro Neto. Fica a ideia, homenageemos nossos precursores, isso é História.
Armando Farias
AMORIM, J. Terto de (Org.). O Siara na rota dos neerlandeses. Utrecht/Fortaleza: Augusto César Barbosa, 2014.
ረቡዕ 10 ፌብሩዋሪ 2021
OS HOLANDESES NO NORDESTE E AS CONSEQUÊNCIAS PARA O BRASIL
O açúcar, e não a esperança de encontrar minas foi a motivação ao ataque a Pernambuco, que como as demais colônias portuguesas se encontrava à época sob o domínio da Espanha, em guerra com a Holanda, que refinava todo o açúcar produzido no Brasil
Desde a formação da Companhia das Índias Ocidentais (1621), passando pela invasão em Salvador (1624/1625), Pernambuco (1630) e a Guerra da Restauração (1645/1654), vê-se um dos capítulos mais importantes e ricos em acervo documental da historiografia brasileira na primeira metade do século XVII.
Há relatos documentais a partir de 1623 que vinham sendo reunidos na Holanda sobre dados e informações sobre a Capitania de Pernambuco. São depoimentos de vários navegantes holandeses, índios levados por Boudewyn Hendriksz para a Holanda e na colaboração de judeus comerciantes que moravam em Pernambuco na remessa de informações para a Holanda. Grande também é a documentação produzida pelos holandeses durante os 24 anos de dominação do Brasil Holandês. Essa produção continuou ocorrendo no editorial europeu mesmo após o fim da ocupação dos Países Baixos no Brasil.
A produção historiográfica brasileira no tema é razoável. Esse conteúdo é regularmente exposto e prestigiado apenas em Pernambuco, ficando os demais estados do Nordeste que pertenceram aos domínios dos Países Baixos distantes desses fatos. Em nível nacional é insignificante a importância dada pela historiografia (IHGB). Facilmente constata-se nos livros didáticos que apenas superficialmente expõe o conteúdo sobre o domínio holandês. Da mesma forma a imprensa de forma geral procede.
Para além do acervo documental, o que de mais importante se pode ressaltar como consequência positiva para o Brasil do período Holandês no Nordeste:
- a fundação da cidade do Recife;
- o embrião de Fortaleza;
- o sentimento do nativismo. (Os primórdios da formação do conceito de identidade de povo brasileiro);
- destaca-se a formação de exercito brasileiro.
A FUNDAÇÃO DA CIDADE DO RECIFE
Até a chegada de Nassau a Pernambuco (1637), na povoação do arrecife era apenas o porto e suas instalações, assentadas no estreito istmo, que com a chegada da Companhia das Índias (1630) passou a abrigar um continente habitacional maior que a capacidade dos imóveis oferecia. A capital da capitania era Olinda.
Nassau assume o comando do Brasil Holandês com o cargo de governador geral. Aporta no Recife em 23 de janeiro de 1637 e trás em sua comitiva soldados e a primeira missão científica a cruzar a linha do equador, fato que propiciou “o mais completo levantamento artístico, paisagístico, cartográfico e científico desta parte do Novo Mundo no século XVII”. (DP, 2003, D2)
Para sanar o problema habitacional Nassau viabiliza projetos arquitetônicos para a construção, urbanização e ocupação da Ilha de Antônio Vaz que seria a Cidade Maurícia, oficializada em 17 de dezembro de 1639. As construções mais vultosas foram o Palácio de Friburgo ou Palácio das Torres, a Casa da Boa Vista e a construção de três pontes, as primeiras de grandes dimensões do Brasil. Tantas outras obras ainda nos dias atuais podem ser identificados seus vestígios. Acabava de nascer O RECIFE.
O EMBRIÃO DE FORTALEZA
Com a implantação do primeiro Fortim de São Tiago na Barra do Rio Ceará por Pero Coelho de Sousa e sua continuidade em 1612 sob o comando de Martin Soares Moreno, redenominado Forte de São Sebastião existiu a vontade do colonizador português em criar um núcleo civilizatório na Capitania do Siará Grande até então despovoada do elemento europeu. Com a saída de Moreno em 1631 outras autoridades portuguesas assumiram a titularidade do São Sebastião.
Em outubro de 1637 cai a frágil fortificação na mão dos batavos sob o comando do major Joris Garstman e do Capitão Hendrick Huss que receberam ajuda estratégia dos indígenas Potiguaras chefiados pelo Cacique Algodão e Koigava. Esse continente militar holandês permaneceu no Forte de São Sebastião, consta em documentação pertinente que reformaram, ampliaram e municiaram o reduto passando a chama-lo de Forte do Siará (Arx in Siará).
Os objetivos da ocupação era manter um entreposto entre o Rio Grande do Norte e o Maranhão, capitania ambicionada pelos batavos. Havia também a extração do sal, que tinha elevado valor no mercado europeu, e o extrativismo e exportação do algodão, pau violeta e âmbar-grils. Durante o comando de Gedeon Morris de Jonge revelou-se ele um apaixonado pelas terras cearenses e como tal tentou promover seu desenvolvimento. Explorou áreas de salinas desde o Camocim até Mossoró, região que por muito tempo pertenceu a Capitania do Siará. Gedeon também introduziu o cultivo de vários vegetais nos arredores da fortificação. Fontes da época e historiadores modernos referem-se a Gedeon como ‘aventureiro” ou homem dotado de “muitas qualidades”. Era natural da Zelândia – Holanda. Na sua documentação pessoal percebe-se que passou cerca de oito anos prisioneiro nas terras do Maranhão (1628/1636), período que aprendeu a falar o português e a linguagem indígena.
O ambicioso projeto de desenvolver a exploração das salinas e exportação do sal fracassou diante dos poucos recursos disponibilizados pela Companhia WIC e pela malograda conquista do Maranhão (1641/1643) que ocasionou muitas dívidas e baixas no contingente de soldados e indígenas aliados. Em janeiro de 1644 Gedeon e toda guarnição neerlandesa do Siará foram trucidados por índios revoltosos, que depois se descobriu terem agido com terrível brutalidade.
Até o final da primeira incursão holandesa na Capitania do Siará Grande temos um insistente conceito por parte do colonizador de fixar-se na Barra do Rio Ceará, que por várias razões se mostrava para a época um inapropriado local para implantação de um futuro aglomerado urbano. Voltou a Capitania do Siará Grande a relativo abandono.
Em 1645 voltaram os batavos ao Siará em breve missão comandada por Roeloff Baro. Somente em 1649 é que a WIC envia Matias Beck ao Siará com o objetivo de localizar e explorar suposta mina de prata. A expedição partiu para o Siará em 20 de março, chegando ao Mucuripe a 3 de abril. Matias Beck rapidamente concluiu que a localização da antiga fortificação era inadequada. A água do Rio Ceará salobra, a barra assoreada e a distancia do “porto” eram fatores que o levaram a escolher as margens do Rivierbeken Genaalmd Marajaitiba (Riacho Pajeú) e do Bergh Marajaitiba (Morro do Pajeú) para instalar seu novo forte, denominado Schonenborch. Beck reforça sua escolha relatando em cartas aos superiores o cuidado com a defesa e que desde as encostas do morro do forte até as serras existiam grandes bosques e um grande estoque de madeira in natura. O fracasso das minas de prata relatadas pelos índios levou Beck a aproveitar os diversos recursos naturais e humanos da região propiciando a construção de um posto colonial. Acreditando no sucesso de sua empresa Beck chegou a escrever para Pernambuco solicitando a vinda de sua esposa. Não há comprovação se de fato ela veio.
Matias Beck aceitou a capitulação dos neerlandeses a 1 de maio de 1654, passando a administração da Capitania do Siará Grande ao português Álvaro de Azevedo Barreto. Sem saber do seu grande feito havia deixado como legado o embrião da futura cidade de Fortaleza.
O Sentimento do Nativismo. (Os primórdios da formação do conceito de identidade de povo brasileiro).
Durante os primeiros anos que os holandeses estiveram no Nordeste do Brasil existiam capitanias autônomas, a despeito de haver um governo central não havia uma unidade como nação. Uma referencia anterior, análoga a esse movimento foi a participação do olindense Jerônimo de Albuquerque deslocado para o Maranhão para debelar os franceses, convocado na qualidade de militar. Martim Soares Moreno atuou como seu comandado. Não houve o engajamento de civis até porque a população de São Luiz era diminuta.
Um sentimento de nação começa a despertar em Pernambuco durante o período chamado de Guerra da Resistência (1630/1635). O general Matias de Albuquerque acompanhado de centenas de “pernambucanos” fundou a improvisada fortificação do Arraial do Bom Jesus (hoje Bairro de Casa Amarela) resistindo bravamente por cinco anos aos poderosos exércitos holandeses.
“Ao Arraial do Bom Jesus compareceram com seus comandados Luiz Barbalho e Martins Soares Moreno, Filipe Camarão com seus índios e Henrique Dias com seus negros, resolutos em manter uma guerra diuturna que veio a incutir na gente de Pernambuco o sentimento do nativismo”. (DP, 2003, D2) Diante de tremendos padecimentos, rendeu-se o Arraial sob o comando do Governador André Marim e seus capitães em 6 de junho de 1635.
Destaca-se a Formação do Exercito Brasileiro.
Passados dez anos da rendição do Arraial do Bom Jesus, voltam os pernambucanos a perseguir o ideal libertário. Liderados por João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros teve adesão de senhores de engenho, entre eles Antônio Cavalcanti e o Capitão Antonio Dias Cardoso, veterano em técnicas de guerrilha, e da população civil em geral. Eclodiu o movimento chamado Insurreição Pernambucana, mais precisamente no dia 13 de junho de 1645, no engenho São João da Várzea. A senha era a palavra açúcar. O movimento objetivava o fim do Brasil Holandês, consequentemente restituir a coroa portuguesa das capitanias do norte.
“Foi a Guerra da Liberdade Divina, como fora definida a Insurreição Pernambucana, eclodida em 1645, um movimento surgido a revelia da Coroa Portuguesa, da parte dos moradores de Pernambuco, destinado a expulsão dos holandeses do território compreendido entre o Rio São Francisco e a capitania do Maranhão”. (SILVA, p. 26)
“Antes dos Guararapes, os nascidos no Brasil mesmo quando filhos de portugueses eram simplesmente chamados de mazombos. O gentílico brasileiro, do qual tanto nos orgulhamos, é fruto desses nossos ancestrais que, a custa do seu sangue de suas vidas e suas fazendas, lançaram as sementes da nossa nacionalidade”. (SILVA, p. 26)
“Foi no calor da “guerra brasílica”, assim chamada para denominar a ampla utilização dos métodos e táticas de guerrilhas até então desconhecidos dos exércitos europeus que pela primeira vês mazombos e reinóis, índios brasilianos, negros de nação, crioulos e mulatos, formaram os seus terços e juntos lutaram pela restauração desta terra”. (SILVA, p. 26)
Em 1645 Fernandes Vieira da início a obras do novo forte denominado Forte Real do Bom Jesus. Em 7 de outubro d 1645 João Fernandes Vieira é aclamado “Governador da Liberdade”. No documento firmado constam de 133 nomes de moradores de Pernambuco entre senhores de engenho, clero, milícia e agricultores.
O governador Geral do Brasil, Antônio Teles da Silva enviava reforços da Bahia.
"Há um ponto muito importante a acentuar: é que a revolta contra o domínio holandês teve a justificativa religiosa, como disse Vieira –'a guerra se fazia pela honra de Deus e defesa da fé católica'". (p. 19, Santiago). (PEREIRA, 1995)
Os holandeses passaram a ficar sitiados no Recife, chegando a passar privações. Receberam reforços em 22 de junho de 1646. Animados mandaram cunhar duas moedas comemorativas, as primeiras que se tem notícia no Brasil.
“Reunidas as forças luso-brasileiras, formadas pelos terços de Vieira, André Vidal de Negreiros, os índios de D. Antonio Filipe Camarão, e os negros de Henrique Dias, os luso-brasileiros foram a luta contra as tropas holandesas. Seguiram-se as vitórias dos nossos em Tabocas e Casa Forte respectivamente a 3 e 17 de agosto de 1645, epopeia depois coroada nas duas batalhas dos Montes Guararapes, 1648 e 1649, antecedendo a rendição do Recife em 27 de janeiro de 1654”. (DP, 2003, D5)
Nos anos seguintes os luso-brasileiros continuaram em vantagem e reconquistaram as vilas de Penedo e Porto Calvo, seguida de Itamaracá deixando os holandeses sitiados no Forte Orange. Em 1647 o rei de Portugal envia para Pernambuco Francisco Barreto de Menezes para assumir o comando dos insurretos.
Foram sob o comando de Francisco Barreto que os luso-brasileiros derrotaram as duas tentativas dos holandeses de furar o cerco, encurralados nas duas Batalhas dos Guararapes em 1648 e 1649 respectivamente, piorando muito a situação dos flamengos.
Contribui a colaboração de integrantes da frota anual da Companhia de Comércio do Brasil que chegou ao Recife em 20 de dezembro de 1653, ficando acertado com o comando da guerra que os mesmos fariam o bloqueio da costa do Recife e Olinda. A partir de então foram caindo uma a uma às bases holandesas até a rendição a as 11 horas da noite do dia 26 de janeiro na Campina da Taborda depois de transcorridas 62 horas de negociações. Na mesma noite houve a entrega das chaves da cidade a Barreto de Menezes.
Com a capitulação foi entregues pelos holandeses além das praças do Recife e Maurícia, as de Itamaracá, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, rendição definida pelo Barão do Rio Branco “como a mais importante que registra a História Militar na América do Sul”. (SILVA, p. 29)
Litografia em rótulo de cigarros com os quatro heróis: Vidal de Negreiros, Fernandes Vieira, Henrique Dias e Felipe Camarão. (WIKIPÉDIA)
Em 6 de agosto de 2012, a Lei Federal nº 12.701[7] determinou a inscrição dos
nomes de André Vidal de Negreiros, Francisco Barreto
de Menezes, João Fernandes Vieira, Henrique Dias, Antônio Filipe
Camarão e Antônio Dias Cardoso no Livro de Heróis da Pátria (conhecido como "Livro de
Aço"), depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, um cenotáfio que homenageia os heróis nacionais
localizado na Praça dos Três Poderes,
em Brasília.
O Salão Guararapes foi inaugurado
em 1997 como um Espaço Cultural na Entrada Principal do Quartel-General do
Exército, local de acesso a autoridades civis e militares, nacionais e
estrangeiras, em visita à sede do Comando da Força Terrestre do Brasil.
TAPETE GUARARAPES
Este tapete, doado pela Fundação Habitacional do Exército para compor a decoração do Salão Guararapes, no Quartel-General do Exército, é uma reprodução da obra do pintor catarinense Victor Meireles, a qual representa um momento épico de nossa História: a Primeira Batalha dos Guararapes, ocorrida em 19 de abril de 1648, nos Montes Guararapes, próximo à cidade de Recife, Pernambuco, considerada o marco de criação do Exército Brasileiro.