ሐሙስ 24 ማርች 2022

DIA 25 DE MARÇO - Data Magna do Ceará.

A data que hoje se comemora vale sublinhar é resultado de longo processo de lutas e embates ideológicos da sociedade cearense do século XIX contra a lei de propriedade do elemento servil. Processo esse que teve início tempos antes do galardoado engajamento do Dragão do Mar.

O cearense sempre deu mostras comportamentais contrários à escravidão, prevalecendo historicamente entre a população sentimentos de igualdade entre conterrâneos e irmãos de outras terras.  

Emprestando um olhar sociológico nota-se que não se constituiu no Ceará nos séculos XVIII e XIX costumes no trato urbano e rural que correspondessem a uma sociedade escravocrata como a estabelecida nos moldes das antigas capitanias, posteriormente, províncias a exemplo Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, tema esse estilizado no clássico (Casa Grande e Senzala) de Gilberto Freire.

A índole do cearense sempre apontou para uma desconstrução do processo escravista. Em meados do século XIX, O Padre Martiniano de Alencar já propusera a substituição de nossos escravos por colonos estrangeiros, antecipando uma ideia que só seria efetivada no final da centúria vigente.

No ano de 1850, nosso parlamentar Pedro Pereira da Silva Guimarães, nos honrou com um projeto na Câmara Geral, que deveria beneficiar daquela data em diante o nascituro filho de escravo.   Óbvio que os escravistas de plantão barraram.

Efetivamente as alforrias espontâneas tornaram-se frequentes no Ceará após a emancipação norte-americana em 1865.

Em 1868 em Resolução nº 1.254 da Assembleia Provincial sancionada em 28 de dezembro pelo presidente Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque autorizava o Executivo a

“despender a quantia de quinze contos de réis com a emancipação de cem escravos que forem nascendo, de preferência os de sexo feminino, os quais serão libertados na pia, cem mil réis cada um” (art. 1º ).

O governo deveria distribuir a quantia pelas diferentes comarcas da Província, disso encarregada em cada termo uma comissão constituída do pároco, do juiz municipal e do presidente da Câmara do Município (ART. 2º).

Logo o sertão imita a capital, e quase todas as comarcas do Ceará passaram a criar comissões semelhantes a de Fortaleza, prosseguindo com as indenizações.  Essa Resolução, com algumas emendas, torna-se a Lei de nº 1.334, de 22 de outubro.

No ano de 1870, surge no Ceará a primeira sociedade libertadora, a de Baturité, instalada em 29 de junho daquele ano, e tem entre o seu quadro de sócios pessoas gradas e intelectuais da época. No mesmo ano (25 de junho), Sobral funda a Sociedade Manumissora Sobralense.

A seca dos três anos 1877-1879, fora inclemente. Houve muitos que se valeram desse triste episódio vendendo clandestinamente escravos a províncias do Vale do Paraíba. Muitas fugas também ocorreram nesse período diminuindo consideravelmente o número de cativos na província.

De sorte prevaleceu entre cearenses o ideal da liberdade o que propiciou a criação da Perseverança e Porvir, que foi oficialmente instalada em 28 de setembro de 1879, data escolhida em homenagem aos oito anos de existência da Lei do Ventre Livre. A sociedade idealizada por dez moços de fé manteria um fundo de emancipação, que ia sendo alimentada com a contribuição espontânea dos associados e uma percentagem nos ganhos obtidos em cada operação mercantil.

Durante a sessão de dia 28 de novembro de 1880, fica determinada uma reunião para o dia 8 de dezembro seguinte, onde seria inaugurada a Sociedade Cearense Libertadora. Essa nova agremiação de pronto recebeu o engajamento de todo o povo cearense na luta sem trégua contra o fim da escravidão negra em nossa província.

Muito contribui a causa libertadora as greves da praia lideradas pelo liberto Antônio Napoleão e Chico da Matilde.

Anos mais tarde, no dia 25 de Março de 1884 uma campanha de êxito encheu de orgulho, luz e glória o povo cearense com a conquista da liberdade do elemento servil na província do Ceará.

Fac símile Revista do Instituto Ceará  publicado no Libertador


Armando Farias 

GIRÃO Raimundo. Abolição no Ceará. 3a. ed. melhorada. Fortaleza: Secretaria de Cultura e Desporto, 1984.


ዓርብ 18 ማርች 2022

DIA DE SÃO JOSÉ

O dia 19 de março é dedicado a São José, instituído desde o ano de 1621 por decreto do Papa Gregório XV. No Ceará ele é padroeiro oficial do estado. Para o cearense, no folclore local, determina se haverá estação chuvosa abundante naquele ano, caso ocorram precipitações pluviométricas em seu dia.

São José em madeira policromada, lírio e resplendor em prata, olhos de vidro. Escultura proveniente de Pernambuco, 1° quartel do Século 18.

Não se pode dissociar São José a fé católica e consequentemente a estruturas físicas que o fiel construiu ao longo dos séculos para abrigar essa devoção.

No Ceará temos vários templos católicos tendo São José por orago. Por razões óbvias as mais notáveis são a Sé de Fortaleza e a Matriz de Aquiraz Igreja de São José de Ribamar, essa última exemplarmente preservada.

Junto ao santo ao qual se dedica no caso São José, o termo “Ribamar” complementa o nome do templo. Originalmente “riba-mar”, a palavra significa local próximo ou à beira do mar e revela detalhes da geografia local na época de construção do monumento.

Em outras capitais do Nordeste também encontramos aspectos a essa devoção.

Em Salvador também existiu uma igreja por invocação de São José de Ribamar, infelizmente foi demolida em meados do século XX. Nos dias atuais uma forte devoção a São José ocorre em dependências da Igreja do Corpo Santo, local que abriga a imagem do santo a cerca de 200 anos.

Em São Luis existe a Igreja de São José do Desterro. Sua história remonta ao ano de 1640 quando era apenas uma ermida. Arruinada e reconstruída por vezes. O edifício atual é de 1869. O templo sem um estilo definido apresenta simplicidade tanto no exterior quanto no interior (MEIRELES, 1964, p. 40).

No Recife duas importantes igrejas podem ser citadas: A Igreja Matriz de São José, sede paroquial do bairro homônimo e a Igreja de São José de Ribamar.

A Matriz de São José teve sua construção iniciada em setembro de 1845 a partir da criação da paróquia. Seu grande benfeitor foi o Bispo Dom João da Purificação Marques Perdigão e foi inaugurada em dezembro de 1864 com grandiosa solenidade para prestigiar o monumento de grandes dimensões, beleza arquitetônica e primorosos aspectos construtivos.

Matriz de São José, Recife-PE
Foto do acervo particular

A Matriz de São José de severo aspecto neoclássico foi tombada por sua importância cultural para o estado de Pernambuco. Atualmente passa por processo de restauração (SALAZAR, 1995, p. 12)

As origens da Igreja de São José de Ribamar remontam ao ano de 1653 quando existia no local uma capelinha mantida por carpinteiros. A atual irmandade constituiu-se no século XVlll. A pedra fundamental do atual templo foi lançada em 1752 tendo a obra se estendido por várias décadas. O surgimento desse templo, portanto, representou uma obra de devoção popular a São José.

Igreja de São José de Ribamar, Recife-PE
Foto do acervo particular

A Igreja de São José de Ribamar apresenta feições barrocas com destaque ao trabalho de cantaria lavrada em seu frontispício. Atualmente encontra-se em processo de restauração pelo IPHAN.

O conjunto encontra-se inscrito como Monumento Nacional nos livros das Belas Artes v. 1, sob o n* 535, em 8 de abril de 1980; Histórico, v. 1, n* 469, em 8 de abril de 1980 (Processo n* 923-T/75). (SILVA, 2002, p. 211)

Apesar de antigas e grandiloquentes as igrejas do Recife, é na simplicidade do Ceará que São José reina absoluto com direito a dia feriado, procissões e festejos.

Viva São José!

Armando Farias

MEIRELES, Mario M. São Luis, Cidade dos Azulejos. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1964.
SALAZAR, Alberto Neves. Memória: um passeio pelas igrejas de nossa arquidiocese, Jornal A Mensagem Católica, Recife, Arquidiocese de Olinda e Recife,1995.
SILVA, Leonardo Dantas. Pernambuco preservado: histórico dos bens tombados do Estado de Pernambuco. 2002. 

ሰኞ 14 ማርች 2022

DIA NACIONAL DA POESIA 14 de Março

PASSEIO PELA HISTÓRIA


 








Á História à deusa Clio exalto

Dos cimos montes o nosso arauto.

Admirar as Três Graças ao pedestal, não falto

Apreciar a exuberante Agláia, bem ao alto.

 

Foi um capítulo da História

 

O pálio episcopal ricamente bordado reluz

Eminentes prelados, Torquemada e a cruz.

No fausto Rodrigo Borgia conduz

Alexandre VI a santidade papal, sombrio capuz.

 

Foi um capítulo da História

 

As torres da Fortaleza de Médici fascina.

Hoje prisão nos altos de Volterra, para além a Cochinchina.

Velho mundo, antigos castelos, a bruxa vaticina

Cruzados e seus estandartes, chacina.  

 

Foi um capítulo da História

 

No tinir de pretéritos chicotes sofre,

No bruxulear de antigos archotes, ocre.

Grave ferimento se abre

Em duelos de antanho, no acutilar do sabre.

 

 Foi um capítulo da História

 

Na península Ibérica a gente moura arcabuzada

Sob o exército sangrento da última cruzada

Expulsava a população em vestes andrajada

Fugindo, deixaram tesouros, em Granada.

 

Foi um capítulo da História

 

Os contrafortes do Alcazar de Sevilha aprofunda

O Palácio de Mafra a feiticeira Blimunda,

Bartolomeu e Baltazar mente fecunda

Todos envoltos em magia profunda.

 

Foi um capítulo da História

 

Reis, rainhas e ducados, cobertos de joias, engastado

Envoltos em névoa, no passado.

No farfalhar de amareladas sedas, amassado.

Fulgurante arquitetural ficou de legado.  

 

 Foi um capítulo da História.

 

O Castelo Grande Trianon uma época ecoou

A flor de lis, fé sabedoria e valor.

Na Avenud Foch o Palácio Rosa tombou

Amantes, intrigas, carruagens, tudo em Versalhes a Madame de Pompadour

 

Foi um capítulo da História

 

Em Viena surge ideia exortativa

Transfigurada na colossal Igreja Votiva.

Torres em agulha, vitral cadeiral refletem a fé que cultiva

Pobre romeira, procissão extensa e rica comitiva.

 

Foi um capítulo da História

 

Martin Soares Moreno destino heroico a desbravar,

O Padre Antonio Vieira Inaugurando o Ceará.

Vetusto José de Alencar a brilhar

E o ilustre Coronel Antonio Diogo de Siqueira a nos brindar; empreendedorismo, fortuna e milhar.

 

Foi um capítulo da História


Armando Farias,14 de março 2022.

ዓርብ 11 ማርች 2022

ANIVERSÁRIO DO RECIFE E DE OLINDA 2022

Data especial tem que ser memorada.
Parabéns às Cidades Irmãs RECIFE/OLINDA.
Recife 485 anos – Olinda 487 anos.

Vista de Olinda com Recife ao fundo
Foto do acervo particular

Homenagem do Atacadão de Papelaria
Diário de Pernambuco, 12 de Março de 1999.

Armando Farias

ማክሰኞ 8 ማርች 2022

DIA INTERNACIONAL DA MULHER 2022: Dona Ana Paes senhora do Engenho Casa Forte

É com grande satisfação que trazemos a história de vida de uma mulher do século XVII, Dona Ana Paes. Exemplo de empreendedorismo, bravura e coragem quebrando as regras de submissão às mulheres ao mundo luso-brasileiro.

Ana Paes Gonsalves de Azevedo nasceu em 1617. Os pais Jerônimo Paes de Azevedo e Isabel Gonsalves Paes tinham muitas posses e concedeu uma educação primorosa à Ana que além da leitura, falava e escrevia em latim, aprendeu a lidar com os fornecedores de cana, feitores, escravos, comerciantes etc. Posteriormente aprendeu o idioma alemão.

Ana Paes recebeu o engenho que fora batizado originalmente de Casa Forte, o maior da Várzea do Capibaribe, como dote nupcial ao casar-se com o fidalgo português Pedro Correia da Silva. Pedro faleceu precocemente em 1635, lutando contra a invasão holandesa a Pernambuco.

Nesse momento, Ana Paes mostra seu lado de bravura e empreendedorismo. Ao contrário da maioria das famílias de posses que nesse período de conflitos migram para a Bahia, Ana permanece viúva na propriedade. Como senhora de engenho Ana conhece e casa-se no ano de 1637 com o Capitão Carlos de Toulon, oficial do exército inimigo. Por razões óbvias esse fato escandalizou a sociedade da época, acrescido do fato de serem os invasores considerados hereges pela igreja católica e a conversão de  Ana ao calvinismo.

Acusado de conspirar contra o governo holandês, Toulon é deportado para Amsterdã por ordens de Nassau. Ao chagar na Europa Toulon vem a falecer.

Ana Paes mais uma vês surpreende ao casar-se novamente com outro oficial da infantaria holandesa: Gilbert de With. O casamento ocorre em uma extensa área do engenho chamada de Campina de Casa Forte, hoje Praça de Casa Forte.

O engenho sofreu várias alterações de nome chamou-se Toulon, Nassau e por último Engenho de With. Voltando a chamar-se Casa Forte após a Restauração Portuguesa.

Ocorre que o Engenho de Casa Forte é tomado pelos flamengos em 3 de agosto de 1645 e nele encarceradas como reféns várias mulheres de chefes revolucionários pernambucanos. Esse fato propiciou uma das batalhas mais importantes e sangrentas travadas entre lusos brasileiros e holandeses no dia 17 de agosto. Os lusos saíram vitoriosos.

Vemos que estamos diante de fatos de extrema relevância para a formação do Brasil como nação e um lugar de muita importância histórica. Em seu livro “Arredores do Recife” o historiador Pereira da Costa afirma que o local era uma das melhores propriedades agrícolas de Pernambuco “pela sua vantajosa situação, com matas, terras, vales férteis e facilidade de comunicação fluvial com a Praça do Recife. Ao seu lado a capela belamente construída”.

Com a capitulação holandesa Ana foi considerada da mesma nacionalidade que o marido e partiu com ele para a Holanda local que faleceu em 1674 em Dondrecht onde morava.

Com a partida de Ana Paes o engenho passa a ser administrado por seu sobrinho João de Freitas da Silva, filho de sua irmã D. Jerônima Paes de Azevedo.

O legado de Ana Paes vai para além dos remanescentes do seu engenho, bairro de Casa Forte e a Avenida 17 de agosto. Fica o exemplo de alguém que soube conquistar um lugar na sociedade como mulher, mãe e administradora em distante época.  

A capela tornou-se a Matriz de Casa Forte (1911) e no local da casa grande, adquirida em 1907 e reformada foi instalado o Colégio da Sagrada Família. A área relativa a Campina de Casa Forte como já foi dito hoje Praça de Casa Forte que foi o primeiro jardim público projetado pelo paisagista Roberto Burle Marx em 1935.

Matriz de Casa Forte

Os tanques da Praça de Casa Forte
Pintura de André Nóbrega.

 
IPHAN inicia processo de tombamento de jardins de Burle Marx no Recife.

A decisão do tombamento foi do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se reuniu em Brasília. O pedido foi realizado pelo Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2008, com o apoio da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP) e do Committee on Historical Gardens and Cultural Landscapes, organismo britânico que presta consultoria para a Unesco.

Armando Farias

 

DANTAS, Rafael. A batalha que se fez barro. Publicado em 15 de setembro, 2015. https://revista.algomais.com/a-batalha-que-se-fez-barro/. Acesso em: 07 Mar. 2022.

DIÁRIO DE PERNAMBUCO (Blog). Ana Paes, uma mulher à frente do seu tempo. Disponível em: Ana Paes, uma mulher à frente do seu tempo | Pernambuco, História & Personagens (diariodepernambuco.com.br). Acesso em: 07 Mar. 2022.

G1 PE. Iphan inicia processo de tombamento dos Jardins de Burle Marx no Recife. 22/11/2014 Disponível em: G1 - Iphan inicia processo de tombamento dos Jardins de Burle Marx no Recife - notícias em Pernambuco (globo.com). Acesso em: 07 Mar. 2022.

JORNAL DO COMÉRCIO. Dona Ana Paes senhora do Engenho Casa Forte – Uma mulher a frente do seu tempo. Recife, 18 de fevereiro de 1999. p. 2.

RODRIGUES, Maria de Lourdes Neves Baptista. Engenhos de Pernambuco. Casa Forte/Recife - Casa Forte. 03/11/2014. Disponível em: http://engenhosdepernambuco.blogspot.com/2014/11/engenhode-jeronimo-paes-de-gonsalves.html. Acesso em: 07 Mar. 2022.

እሑድ 13 ፌብሩዋሪ 2022

PATRIMÔNIO PRESERVADO

Fortaleza recebeu o Parque da Liberdade restaurado.

Entre períodos de abandono e revitalizações ao longo de sua existência o Parque na sua fase atual conserva de forma satisfatória parte de seus elementos decorativos originais.

 
Acervo particular
 
Acervo particular

Não foi sempre assim. A edição da Gazeta de Notícias do dia 17 de março de 1973 traz reportagem “CIDADE DA CRIANÇA, Um Barreiro Cercado de Detritos por todos os lados”. Foi um período de total abandono desse espaço.

Gazeta de Notícias, março / 1973

Gustavo Barroso nos informa no seu livro A Margem da História do Ceará que existiu no centro da “lagoa” do Parque uma escultura de Netuno com seu respectivo tridente. Era proveniente do antigo Passeio Público, onde ornamentava o nível mais baixo correspondente à praia. Quando do seu desmanche foi levado para o Parque e de lá desapareceu. (BARROSO,  1962, p. 278)

Já Otacílio de Azevedo nos informa em seu livro Fortaleza Descalça alguns detalhes anteriores à urbanização do logradouro, “Em frente a Igreja do Coração de Jesus existia em 1913, um grande quadrilátero de muro bem alto, sem portões e cheio de árvores.” (AZEVÊDO, 1992, p. 82)
[...]
“Ao lado do castelo, quatro fileiras de muro baixo revestidas de pedrinhas acastanhadas e, ao lado, uma imensa estátua de uns dez metros, de ferro, oca e toda enferrujada. Ao seu lado outra menor, também ameaçada peã ferrugem. Está ultima, anos depois, vim a saber que representava Netuno, o deus do mar, com o seu tridente. A maior era Apolo – O Apolo de Belvedere." (AZEVÊDO, 1992, p. 82)

Pelo que se depreende dos textos é que a escultura do Netuno teve uma sobrevida antes de desaparecer, sorte igual não teve a do Apolo, que não fosse a crônica de Otacílio de Azevedo o fortalezense jamais saberia da sua breve existência.

O Parque da Liberdade foi inaugurado em 26 de maio de 1937 fazendo parte dos atos comemorativos do segundo ano de administração do Interventor Menezes Pimentel, construído na gestão do Prefeito Raimundo de Alencar Araripe. Dentre seus visitantes ilustres consta o Presidente Getúlio Vargas, que na ocasião “teceu os maiores elogios”. As duas primeiras décadas seguintes a sua inauguração manteve-se bem cuidado e bem frequentado, época que eram concorridos os seus eventos como a comemoração da Libertação dos Escravos, apresentação de um coral e uma orquestra de cordas que davam espetáculos aos domingos.
 
Foto aérea da Igreja do Sagrado Coração de Jesus
Foto aérea  do Parque da Liberdade, Igreja do Sagrado Coração de Jesus e adjacências
Foto do acervo particular
 
Fica o apelo à população para manter o excelente grau de qualidade da obra que nos foi entregue, para nós, turistas e futuras gerações.

Armando Farias

AZEVÊDO, Otacílio. Fortaleza Descalça. 2, ed. Fortaleza: UFC / Casa José de Alencar, 1992.
BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.
CIDADE da Criança: um barreiro cercado de detritos por todos os lados. Gazeta de Notícias, Fortaleza, 26 março 1973. Caderno Cidade, p. 5.

ዓርብ 28 ጃንዋሪ 2022

PATRIMONIO HISTÓRICO DO CEARÁ

Hoje, 28 de janeiro, se comemora o dia da fundação do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco (160 anos). Exemplar instituição com alto grau de visibilidade que poderia ser “copiada” em sua expertise pelo nosso empedernido e escondido Instituto Histórico Cearense. 

Fotos do interior do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco
Acervo particular

O Ceará deveria, a exemplo de Pernambuco, dar maior destaque e acesso às instituições que abrigam e constituem em si elementos pertinentes ao nosso patrimônio histórico. Já vai longe a ideia de que o Instituto era do Barão de Studart. É do povo cearense e a ele tem que se voltar.

É praticamente impossível o cidadão conhecer o seu interior, inviolável e inexpugnável. Na mais favorável das hipóteses, até se consegue transpor suas “muralhas”, porém o pesquisador é induzido a uma edícula no fundo do lote, onde com muita sorte é recepcionado em um balcão, quase que nos jardins do prédio, e assim constrangido, tentar efetuar sua pesquisa. Fisicamente não consegue. O atendente promete enviar-lhe seu conteúdo via e-mail. Isso bem antes da pandemia. Hoje se encontra fechado. 

A ideia é copiar o que há de bom. O congênere pernambucano dispõe de um excelente espaço museológico aberto à visitação, democrático, fora a parte de pesquisas, também de fácil acesso. 

O fomento às tradições, à intimidade com nosso passado e o contato físico com esses aspectos que remanesceram só trarão fortalecimento à temática da conservação patrimonial, que não se faz apenas em gabinetes, faz-se com o conhecimento e engajamento da população. Alheia a esses elementos, o cidadão leigo não o valorizará, e por vezes até será um agente destruidor do mesmo, simplesmente por não compreender o significado da palavra PATRIMÔNIO.

Armando Farias

እሑድ 16 ጃንዋሪ 2022

DIA DO CEARÁ 17 DE JANEIRO

Para além das datas e decretos reais que marcam oficialmente o dia instituído como “Dia do Ceará” podemos fazer outras considerações abordando essa interessante temática nos aspectos históricos e sociológicos.

A questão imagética é uma delas. Diferentemente de outras capitanias que tiveram suas cidades e vilas nos séculos XVll e XVlll representadas através de pinturas tanto acadêmicas quanto científicas, a Capitania do Siará Grande nesse aspecto foi pouco prestigiada. Mesmo as vilas mais prósperas como Aracati, Sobral e Icó, de imagem desse período pouco ou nada ficou registrado.

Pelas comemorações do Dia do Ceará é que mais evidente fica essa lacuna, ou melhor, a falta dela, tendo que contentar-se o autóctone com descrições esparsas do seu meio físico registradas em diário de viagem de um ou outro estrangeiro que aqui passou, ou as cartas oficiais enviadas à Coroa dando conta da situação de extrema pobreza que vivia a Capitania com suas vilas e povoados.

Raimundo Girão nos dá uma ideia dessa precariedade que permeava todos os níveis da vida da capitania, “Muitas Câmaras, talvez a maioria, não tinha casa própria e funcionava pobremente em casas alugadas. Haja vista a do Aquiraz que, depois de trinta anos de instalada, ainda se reunia em prédio de aluguel, mísero e sem conforto”. (GIRÃO, 1962, p. 138)

Luis da Mota Féo e Torres foi o último Capitão Mor e Governador do Ceará com dependência de Pernambuco, nenhum legado nos deixou nesse sentido quando do término do seu mandato em agosto de 1799, passou o cargo a um governo de interinidade. João Brígido “pinta-o como homem de grande avareza e de espírito tacanho. (Res. Cron., pág. 120) e Araripe diz a pág. 107 de sua História do Ceará: ‘Foi este capitão-mor de caráter fraco e sumamente tíbio no governo’.” (INSTITUTO DO CEARÁ, 1890, p. 38)

Bernardo Manuel de Vasconcelos nomeado pela Rainha Dona Maria l como o primeiro governador livre das peias administrativas de Pernambuco, aqui chegando, logo elaborou um minucioso relatório sobre os aspectos gerais da Capitania do Siará Grande com informações que colheu de Targine e outros que o precederam. O documento privilegia relatos pertinentes à economia da Capitania. Pouco fala dos aspectos físicos e nenhuma imagem foi produzida nesse período.

D. Maria I
s.d., óleo sobre tela
Museu Imperial, Petrópolis, Brasil
___________________________________
Quadro de autor anónimo. 
D. Maria I subiu ao trono em 24 de Fevereiro de 1777, 26.º monarca português.
Disponível em: Arqnet


Esse relatório foi registrado pelo Barão de Studart e publicado em seu livro “Notas para a História do Ceará” e aqui replico alguns trechos por ser o documento deveras extenso.

“Ela não é datada mas de seu conteúdo infere-se perfeitamente a época e o local em que traçou o autor”

“É a Capitania do Ceará Grande bem considerável pela sua grandeza, como mostra um mapa bem circunstanciado, que o mesmo hábil Targine traçou de todo o seu território. Pela sua ilustração se conhece ser o ar saudável, o céu sereno, campinas amenas, serras fertilíssimas, rios caudalosos, maiormente na estação das águas”.

“Examinando o mapa vejo a Capitania do Ceará tem sete povoações de índios denominadas – Arronches, Messejana, Soure, Monte-mor-velho, Vila Viçosa, e Crato, hoje consideravelmente diminutas pelo vexame que lhe causa o bárbaro costume dos governadores, ouvidores, diretores e viários arrancarem os filhos dos braços dos seus pais, e os mandarem a servir em diferentes Capitanias, donde jamais voltam a sua pátria debilitando-se assim a cultura tão necessária à cultura daqueles terrenos”.
“Das vilas e povoações da Capitania estabelecidas pelos europeus e seus descendentes a que tem a primeira preferência é a vila de S. Cruz de Aracati, situada as margens do rio Jaguaribe, aonde a oportunidade da barra estabelece a principal feitoria das carnes secas e morrem todos os anos para cima de cinquenta mil reses, se embarcam mais de vinte mil arrobas de algodão: A segunda grandeza é a de Sobral assentada as margens do Rio Acaracu, de igual feitoria e comércio para muitas embarcações e especuladores das Capitanias de Pernambuco e Bahia; a que entra na terceira ordem é a Vila do Icó, estabelecida no centro da Capitania na distancia de mais de sessenta léguas do porto do mar, que serve de único depósito das produções do interior do país para serem conduzidas as vilas marítimas no tempo oportuno da navegação. A Vila de Granja, que domina a foz do Rio de Camocim, tem em si um grande comércio de carnes e algodão, que atrai pelo seu cômodo muitas embarcações e traficantes das Capitanias circunvizinhas, vila tão celebrada na história do Padre Vieira, pela pesca, que nela havia do coral e âmbar-gris. É de menor extensão e povoação a Vila da Fortaleza onde reside o governador e se acha acantonada uma única companhia de tropa paga, que guarnece a fortaleza da Assunçao estabelecida nas praias do oceano. O mesmo se observa na Vila de Aquiraz, cabeça de Comarca, e residência do ouvidor-geral, aonde os jesuítas tinham o seu colégio”. (STUDART, 2004, p. 493-500)

Raimundo Girão destaca Aracati, de comércio próspero e um bom grau de civilidade da população, “fazem a vila assás recomendável, juntamente a isso uma agradável e regular arquitetura nas suas casas, e de grande número delas os donos possuem avultados cabedais.” (GIRÃO, 1962, p. 152)

Uma pequena descrição de Fortaleza já do ano de 1810 (NETTO, 2014, p. 17) nos dá uma pálida ideia da precariedade das habitações e instituições na capital,

"Em 1810, as casas de Fortaleza tinham apenas o pavimento térreo. Havia poucas ruas – todas sem calçamento –, três igrejas, o palácio do governador, a Casa de Câmara e Cadeia, a Alfândega e a Tesouraria. O porto era ruim e eram grandes as dificuldades e os acidentes no momento de embarque e desembarque dos ‘vapores’."

Os aspectos administrativos também merecem ser citados. Depois da autoridade do capitão mor a figura do ouvidor despontava. A Provedoria de funções fiscais no Ceará passou a ser exercida pelo Ouvidor após a separação da Capitania do Rio Grande do Norte por Ordem régia de 16 de setembro de 1697.

As mudanças na administração fazendária e contábil na capitania do Ceará coincidiram com a instituição do governo autônomo, ou melhor, a instituição do governo autônomo possibilitou a instalação desse importante órgão administrativo. A Junta da Fazenda era de grande importância por ser responsável pela administração da arrecadação nas capitanias, e sua criação foi uma tentativa de modernização do aparelho de estado visando uma revitalização econômica. A criação da Junta da Fazenda na capitania do Ceará é de 24 de janeiro de 1799 e substituiu a antiga provedoria real da fazenda que acumulava as funções judiciárias e administração fazendária. Era subordinada ao Real Erário, sendo aqui presidida pelo governador ou capitão general da capitania. O Ouvidor acumulava a função de jurisdição contenciosa, quando atuava para solucionar um litígio. (GIRÃO, 1962, p. 147-148)

Com relação ao edifício que abrigou a Junta da Fazenda, o Barão de Studart esclarece;

”O lugar que primitivamente funcionou a Junta da Fazenda foi por cima do antigo calabouço no prédio que é hoje ocupado pelo 11º Batalhão; dai passou-se para o edifício à Rua Conde d`Eu, hoje Sena Madureira, em que também residiram os Governadores e os membros da Comissão Militar, e cujo atual proprietário é o Sr. João da Silva Vilar”. (STUDART, 2004, p. 501)

É fato que a situação econômica da capitania, tanto tempo sujeita as ordens de Pernambuco tenha inibido ou retardado seu desenvolvimento, consequentemente um ambiente deveras pobre e rústico não suscitasse maiores arroubos artísticos por parte de uma população pouco erudita. Mesmo da parte dos governantes, os mais dedicados e esclarecidos, desenhos e pinturas poderiam parecer supérfluos diante de dificuldades financeiras, secas constantes e por vezes epidemias contagiosas.

Quanto ao processo administrativo, sem dúvida o grande salto foi a separação da capitania de Pernambuco, que introduziu avanços, entre tantos benefícios propiciou a comercialização direta com a Europa.

Para o Dia do Ceará é interessante lembrar-se da origem pobre da Capitania nos séculos XVll e XVlll, para se valorizar o espírito desbravador do seu povo, que com empreendedorismo e dedicação à terra cearense, consegue colher os primeiros frutos a partir de século XlX, num crescente de desenvolvimento de sua economia, educação e cultura.

Viva o CEARÁ!

Armando Farias

GIRÃO, Raimundo. Pequena história do Ceará. 2. ed. Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1962.
INSTITUTO DO CEARÁ. Seiscentas datas para a Chronica do Ceara na 2ª metade do Século XVIII. Revista trimestral do Instituo do Ceará, Fortaleza, Anno IV, p. 38 -40, 1º trimestre de 1890, Tomo IV. Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/144843/per144843_1890_00001.pdf. Acesso em 05 jan. 2022.
NETTO, Raymundo. Centro: O “coração” malamado. Fortaleza: Secultfor, 2014. 192p. (Coleção Pajeú). Disponível em: https://acervo.fortaleza.ce.gov.br/download-file/documentById?id=228253a1-659e-4354-ab8f-4a7cb8b93f97. Acesso em 05 jan. 2022.
STUDART, Guilherme. Notas para a História do Ceará. Brasília: Edições do Senado Federal – Vol. 29, 2004. p. 493-500. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/sf000042.pdf. Acesso em 10 jan. 2022).

ሰኞ 31 ሜይ 2021

LUIZ GAMA: ABOLICIONISTA

Luiz Gama
Luiz Gama 
Jornal do Comércio (Foto reprodução do livro Advogado dos escravos)
FERNANDES (2010, p.15)


Luiz Gonzaga Pinto Gama nasceu em 1830 na cidade de Salvador - Bahia. Era filho de uma escrava livre e o pai segundo o próprio Gama era um fidalgo pertencente a uma das principais famílias da Bahia com origem em Portugal. Gama permaneceu livre até os dez anos quando o pai arruinou-se nos negócios e o vendeu como escravo. Foi levado para o Rio de Janeiro, após cerca de um mês foi comercializado com o contrabandista Antonio Pereira Cardoso que o levou para Santos e depois a Campinas. Não conseguiu vende-lo pelo fato de ser os negros baianos considerados rebeldes.

Permaneceu na casa do comerciante desempenhando várias atividades até alfabetizar-se os 17 anos através da amizade com o jovem Antonio Rodrigues de Araújo que era contrário a escravidão. Através de informações na área jurídica, Gama reúne documentos que atestam sua condição de homem livre, entre os quais a Lei de 1831 que considerava ilegal o tráfico de negros. Com esses conhecimentos deslocando-se para São Paulo.

Começava a trajetória de muitas lutas pelo ideal abolicionista e republicano que se iniciou com a conquista da liberdade. Foi fundador da loja maçônica América, como autodidata conquistou o direito, a literatura e o jornalismo. Não conseguiu ser bacharel pela Faculdade de Direito paulista diante da execração dos estudantes da instituição, tornando-se rábula, nome dado àqueles que advogam sem formação acadêmica. No âmbito jurídico Gama teve atuação memorável, bem como na área literária, onde publicou a obra Primeiras trovas burlescas de Getulino, 1859.

Atribui-se as poucas referências a Luiz Gama ao fato dele ter morado em São Paulo do século XlX, cidade provinciana sem repercussão nacional para a época. Também o fato do seu falecimento ter ocorrido em 1882, anos antes da Lei Áurea.

Luiz Gama recebeu muitas homenagens após a sua morte. Entre elas o epíteto de “Apóstolo Negro da Abolição”. É patrono da cadeira de número 15 da Academia Paulista de Letras e é considerado o Patrono da Abolição da escravidão no Brasil. Recebeu o título de “advogado” concedido pela Ordem dos Advogados do Brasil Secção São Paulo, em 3 de novembro de 2015.

Armando Farias

FERNANDES, Samara. A Redescoberta do negro abolucionista. Jornal do Comércio, Recife, 11 jul. 2020. História, p. 15.

እሑድ 30 ሜይ 2021

ANDRÉ REBOUÇAS: ABOLICIONISTA

André Rebouças
André Rebouças [Busto exposto na Biblioteca do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro]
CARPEGGIANI (2001, p. 6)

O engenheiro baiano André Rebouças foi parceiro incansável nas lutas contra a escravidão ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Joaquim Serra e outros quando em 1880 fundaram a Sociedade Brasileira contra a escravidão. Sobre ele Nabuco escreveu,

“De todos, aquele com quem mais intimamente vivi, com quem estabeleci uma verdadeira comunhão de sentimento, foi André Rebouças... nossa amizade foi por muito tempo a fusão de duas vidas em um só pensamento; a emancipação”. (REBOUÇAS, 1988, p. inicial)

De forma paradoxal pouco lembrado, atribui-se o fato ao seu temperamento considerado solitário e introspectivo no contato com o público, não apresentando aptidão a oralidade, obscurecido por sua por sua proverbial modéstia e timidez.

Era de origem negra e suas ideias de vanguarda causavam polemica, deixou diários e manuscritos de opiniões pessoais de conotação sociológica para a época, em especial em relação à problemática da terra. A despeito de suas opiniões mantinha estreitos laços de amizade com o imperador Pedro ll e a Princesa Isabel.

Rebouças, para além da libertação dos cativos, preocupava-se com o sofrimento do escravo e como esse continente de mão de obra, uma vês livre se daria o seu direcionamento educacional e ocupacional associando ao trabalho agrícola, o latifúndio e a monocultura. Relacionava ao “feudalismo” a sistemática de distribuição de terras no Brasil,

“A nossa propriedade territorial está tão concentrada, tão mal dividida, que neste vasto império, afora os sertões e os luares incomunicáveis, não há terras para serem cultivadas pelos brasileiros e estrangeiros, que não tem outra esperança senão nas subdivisões tardias que a morte e as sucessões podem operar”.(REBOUÇAS, 1988, citado por CARPEGGIANI, 2001, p. 6)

Em seu tratado Agricultura Nacional Estudos Econômicos – Propaganda Abolicionista e Democrática, Rebouças antecipou-se a questão servil cerca de dez anos a Joaquim Nabuco, quando começou a compilar suas ideias em 1872 sob forma de artigos publicados em jornal e se publicaria o clássico de Nabuco O Abolicionismo apenas em 1883, obras complementares que se ocupam do mesmo tema, porem sob diferentes ponto de vista. A Obra de Rebouças expõe sua proposta de mudança “Um estudo crítico da estrutura fundiária do país, propostas consideradas pelo autor como as ideias para solucionar os problemas da agricultura nacional”. (JUCÁ,1988, p. VII).


Armando Farias

CARPEGGIANI, Schneider. O Líder abolucionista esquecido. Jornal do Comércio, Recife, 11 dez. 2001. Caderno C, p. 6.

JUCÁ, Joselice. Estudo introdutório. In: REBOUÇAS, André. Agricultura nacional: estudos econômicos. Propaganda abolucionista e democrática, setembro de 1874 a setembro de 1883. 2.ed. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1988.

REBOUÇAS, André. Agricultura nacional: estudos econômicos. Propaganda abolucionista e democrática, setembro de 1874 a setembro de 1883. Estudo introdutório de Joselice Jucá. 2.ed. fac-similar. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana, 1988.

ቅዳሜ 29 ሜይ 2021

OUTROS HERÓIS DA ABOLIÇÃO: JOSÉ MARIANO E OLEGÁRIA

Muitas pessoas que foram engajadas na luta para a abolição da escravatura são pouco reverenciadas. Vários motivos levam a esse “esquecimento” em detrimento aos considerados ícones como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Rui Barbosa e outros.

José Mariano Carneiro da Cunha e sua esposa Dona Olegária da Costa Gama foram pernambucanos ferrenhos defensores da liberdade dos escravos, chegando ao ponto de esconderem em sua residência escravos fugitivos para dar-lhes fuga, geralmente em uma barcaça coberta por feno descendo pelo Capibaribe até atingir o porto do Recife.
 
José Mariano Carneiro da Cunha Olegária da Costa Gama
José Mariano Carneiro da Cunha e Olegária da Costa Gama
Gouvea (1988, p. 150 e 158)

Dona Olegária chegou a assumir tarefas do marido quando este esteve preso inclusive vendendo joias de família para adquirir cartas de alforria de escravos, carinhosamente chamada de Olegarinha, ficou conhecida como “a mãe dos escravos” e “a mãe dos pobres”.

Também na casa de José Mariano localizada no Poço da Panela, por algumas vezes, abrigou a sede itinerante do Clube do Cupim, agremiação de inspiração carbonária que não tinha estatutos, sendo seu único fim a libertação dos escravos por todos os meios.

Residência de José Mariano no bairro Poço da Panela, em Recide-PE
O POÇO DA PANELA
Desenho de Mário Túlio. A esquerda, o antigo sobrado de José Mariano.
 Gouvea (1988, p. 136)

José Mariano além de abolicionista foi político, jornalista, bacharel em direito, deputado geral, deputado provincial e vereador da cidade do Recife. Recebeu muitas homenagens entre elas a nomeação da Câmara dos Vereadores do Recife, que a partir de 1940 passou a se chamar de Casa de José Mariano.

Armando Farias

SILVA, Leonardo Dantas. A Abolição em Pernambuco. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, 1988.

ሐሙስ 13 ሜይ 2021

13 DE MAIO

No dia 11 de Março de 1888, João Alfredo, parlamentar pernambucano, conselheiro e ministro já se encontrava nomeado chefe do “Ministério da Abolição”. Reservou para si a pasta da Fazenda. O presidente do gabinete escolhe os seguintes ministros para compor o grupo dos políticos que ele julgava capaz de com a maior brevidade possível resolver o problema servil no Brasil, eram eles: Rodrigo Silva, para a Pasta da Agricultura, Tomás Coelho, ministro da Guerra, o senador Luis Antonio Vieira da Silva, ministro da Marinha, o conselheiro José Fernandes Costa Pereira, Ministro do Império, o senador Antônio Prado, ministro dos Negócios Estrangeiros e Justiça Ferreira Viana.

A ampla maioria da imprensa da época refuta aos novos ministros como homens de talento e provados nos trabalhos parlamentares. É chamado de “o gabinete dos notáveis”.

Em maio de 1888 dar-se a abertura dos trabalhos da câmara e do senado. No dia 3 de maio, Antônio Prado apresentou na Assembleia Geral um projeto de lei favorável aos interesses aos fazendeiros de café de São Paulo com compensação monetária aos proprietários e a obrigatoriedade dos escravos trabalharem por ainda três meses o que asseguraria a colheita da safra de café já madura. A proposta foi considerada superada no tempo. A abolição teria que ser incondicional e sem indenização. “Nenhum projeto poderia passar de todo, contudo sem a cooperação da maioria do Partido Liberal no Senado, e, no dia 7 de maio, durante as negociações sobre o projeto, João Alfredo foi informado de que a maioria liberal recusaria apoiar qualquer projeto de abolição a não ser que este proclamasse o imediato e incondicional fim da escravatura” (GOUVEA, 1988, p. 199).

João Alfredo
Abolucionista João Alfredo
Gouvea (1988, p. 46)

No dia 8 de maio de 1888 o governo através do ministro da Agricultura, conselheiro Rodrigo Silva apresenta ao parlamento em nome da Princesa Imperial Regente sua proposta de abolição em uma memorável sessão da câmara.  À época presidia a câmara o Sr. Henrique Pereira de Lucena, futuro Barão de Lucena, político de Pernambuco e membro do Partido Conservador.

No dia 10 de maio, o projeto abolicionista aprovado fora emitido ao senado. No dia 11, montou-se uma comissão especial no Senado que logo divulgou o parecer favorável ao projeto. No dia 12 de Maio o Barão de Cotegipe pronuncia um discurso no Senado mostrando que entre outros motivos dos quais se mostrava contrário a abolição sem indenização da propriedade juntamente com os pares de sua classe de grandes proprietários, era que havia o temor de na sequência haver a repartição de terras nos moldes da desapropriação.
 
O projeto foi aprovado no senado. O senhor presidente Cruz Machado nomeou a comissão que levaria o mesmo para a sanção da Princesa Imperial Regente no dia 13 de maio.

***

LEI N 3.353 DE 13 DE MAIO DE 1888

Declara extinta a escravidão no Brasil

Art. 1* - É declarada extinta desde a data dessa Lei a escravidão no Brasil.

Art. 2* - Revogam-se as disposições em contrário.

Manda, portanto, a todas as autoridades a que o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.

O Ministro de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de S. M. o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.

Dado no palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da independência e do Império.

Princesa Imperial Regente
Augusto Rodrigo Silva


Postal alusivo ao Centenário da Abolição da Escravatura, 
Museu da Abolição, Bairro Madalena  - Recife-PE (IBRAM)
Sobrado que foi sede do Engenho Madalena (sec. XVll) e posteriormente residência do conselheiro abolicionista João Alfredo
Acervo particular


Armando Farias


GOUVÊA, Fernando da Cruz. Abolição: a liberdade veio do Norte. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 1988.


ሐሙስ 6 ሜይ 2021

13 DE MAIO. ALGUNS ANTECEDENTES

Aproxima-se o dia 13 de Maio, quando se comemora a abolição dos escravos. De imediato vem a mente dos brasileiros a fulgurante imagem da Princesa Isabel, mais que justamente laureada com título de A Princesa Redentora. Para se efetivar esse fato consubstanciado na Lei Áurea muitos acontecimentos na labuta dos abolicionistas ocorreram, entre os quais a abolição dos escravos na Província do Ceará em 1884 e a intensificação do movimento em Pernambuco e no Rio de Janeiro.

Fac simile do periódico Lanterna Mágica figurando a Princesa Isabel na capa
Princesa Imperial Regente (Recife, edição de 20 de maio de 1888)
Gouvêa (1988, p. 19)

Figuras proeminentes como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e Rui Barbosa são galardoados e fielmente reconhecidos como tal. É a História fazendo suas escolhas. Aqui trarei vultos e fatos que igualmente se destacaram nessa árdua luta e são pouco ou nada lembrados, adiantando aguerrida participação de duas mulheres.

Na publicação Abolição: A Liberdade veio do Norte, Fernando da Cruz Gouvêa traz um bem elaborado cronológico dos anos que antecederam o “13 de Maio” no que toca a política emancipacionista praticada pelos então partidos Liberal e Conservador, que ora se alternavam no Poder Legislativo do Império, que era uma monarquia parlamentar. Esclarecendo que “Norte” na época era o que se compreende hoje por Norte e Nordeste.

Em meio a essa “ebulição” ocorre a terceira viagem de Pedro II a Europa no ano de 1887 com propósito de tratar da saúde, bastante abalada. Assume a Regência a Princesa Imperial já imbuída do propósito de conduzir a causa da abolição ao seu desfecho final. Isabel depara-se com o Barão de Cotegipe na presidência do Conselho. Cotegipe era natural da Bahia e fazia parte da política da velha guarda, considerado um dos principais estadistas do Segundo Reinado pelo Partido Conservador.
 
 
Cotegipe fora alertado pela Princesa Regente quando esta assumir o poder “que chegara a hora de se fazer alguma coisa para a abolição, pois o país inteiro discutia o problema e o clima de agitação que envolvia todas as classes não podia continuar” (GOUVÊA, 1988. p. 171). Cotegipe ficara indiferente, parecendo que queria ganhar tempo até a volta do Imperador. Cotegipe enfrentava duras críticas também por parte da imprensa abolicionista e problemas com oficiais da Marinha de Guerra, o que tornou inviável a manutenção do gabinete, sendo dissolvido no dia 10 de março de 1888.
 
À frente do poder a Regente escolhe o conselheiro e senador pernambucano João Alfredo Correia de Oliveira para chefiar e escolher os integrantes do novo gabinete a se formar, ciente que o político seria a pessoa capaz de levar a cabo a ideia dominante que era a resolução do problema servil.
 
Um militante do movimento de libertação do elemento servil, o jornalista José do Patrocínio, reconhecendo que o político pernambucano encontrara  uma situação política caótica, não hesitaria em afirmar no seu jornal Cidade do Rio, que com a participação decisiva de Joaquim Nabuco, José Mariano, Dantas, Rui e tantos outros, a liberdade afinal viria do Norte”. 
 
“O vaticínio de José do Patrocínio não demorou dois meses para se tornar realidade: A Abolição, a Liberdade veio do Norte”.(GOUVÊA, 1988, p. 11-14)

O autor foca sua narrativa através de consultas nos jornais ligados às facções que dominavam o cenário político, com destaque para publicações na cidade do Recife e da Corte acerca dos acontecimentos correlatos ao processo abolicionista, apresentado a Província de Pernambuco como protagonista nessa luta. A Província da Bahia com posição ao centro e o Rio de Janeiro contrário ao movimento.

 

Armando Farias

GOUVÊA, Fernando da Cruz. Abolição: a liberdade veio do Norte. Recife: Fundação Joaquim Nabuco; Editora Massangana, 1988.