ረቡዕ 24 ማርች 2021

25 DE MARÇO: ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA NO CEARÁ

Na historiografia brasileira, apenas os feitos das regiões Sul e Sudeste são galardoadas, deixando aos leigos a impressão que o Nordeste é desfavorecido de glórias. Justamente ocorre o contrário. Aqui está o nascedouro da Pátria Brasil, e consequentemente grandes acontecimentos históricos e feitos heróis.

O Ceará dá sua grande contribuição à formação cívica da nossa sociedade brasileira ao promover uma engajada campanha contra a escravidão ainda na década de 1870.

Em Fortaleza aparece a Perseverança e Porvir em 1879, agremiação que tinha por objetivo libertar legalmente os escravos através de cartas de alforria. Porém o espírito de igualdade e liberdade do povo Cearense logo percebe que os métodos teriam que ser mais agressivos para alcançar objetivos mais expressivos, então em 1880 surge a Sociedade Cearense Libertadora, que formada por Comerciantes e Jornalistas entre outros passa a adotar meios que fugiam a legalidade. Seu lema “ Libertar escravos por todos os meios ao seu alcance”.

De pronto os “Libertadores” recebem o apoio e engajamento de toda a sociedade cearense. Um jovem guarda-livros, Pedro Artur de Vasconcelos tem a ideia de procurar os jangadeiros para propor a ideia de interromper o embarque de escravos no porto com destino a outras províncias. Recebe o apoio incondicional do Grande Libertador José do Amaral. A ideia é posta em prática com a ajuda de José Napoleão, chefe de capatazia do porto, e logo toma vulto através da adesão de outros jangadeiros, agora liderados por Chico da Matilde que era prático da barra, apelido de Francisco José do Nascimento, mais tarde nosso Dragão do Mar.

Ilustração da capa da edição 376 da Revista Illustrada, de 1884


A Luz libertadora dissemina-se por toda a então Província do Ceará. Fortaleza liberta todos os seus cativos em 24 de maio de 1883. Ao final deste ano, 21 dos 58 municípios estavam livres da escravidão. No início de 1884, Sobral até então contando com o maior número de cativos adere a Causa Libertadora, libertando todos os seus escravos.

Todo o Ceará apresenta-se livre da escravidão no dia 25 de março de 1884, oficializando-se este termo em ato público realizado na Praça Castro Carreira em Fortaleza, com a presença do então Presidente Sátiro Dias e demais autoridades.

Assim o Ceará é aclamado por José do Patrocínio de "Terra da Luz".
 
A libertação dos escravos na província do Ceará muito repercutiu na imprensa de todo o Brasil da época. A exemplo segue duas publicações em periódicos pernambucanos, Folha do Norte e O Rebate.

  
Periódicos Folha do Norte e O Rebate, ambos de 25.03.1884.
SILVA (1988, n.p.)


Armando Farias

SILVA, Leonardo Dantas. A Imprensa e a abolição. Recife: Fundação Joaquim Nabuco / Editora Massangana, 1988.

ሐሙስ 18 ማርች 2021

DIA DE SÃO JOSÉ NO CEARÁ

Escultura de São José de botas, por Elias Sultanum
Escultura – replica barroca em pó de madeira de São José de Botas. Imagem em estilo semelhante a antiga existente no altar-mor da Igreja Matriz de Aquiraz. 
Autor – Engenheiro e escultor pernambucano Elias Sultanum
Peça do acervo particular


A introdução do topônimo São José está ligada ao surgimento da primeira vila criada na capitania do Siará Grande por Carta Régia de 1699, sob a invocação de São José de Ribamar, porém o documento não esclarece em que localidade isso se daria. Outro fato correlato é a criação da freguesia instituída em Aquiráz em 1700 sob o orago de São José de Ribamar. Tentando resolver a pendência em 1700 o governador de Pernambuco determina a instalação da vila onde assistia o Capitão Mor do Siará, Francisco Gil Ribeiro, ou seja, junto ao forte. “Em que atualmente existe essa pequena povoação”, assim feito em 25 de maio de 1700 “Junto a fortaleza, debaixo das armas dela”, com o juramento e posse dos oficiais da Câmara (BARROSO, 1962, p. 94).

Ocorreu que forças locais contrárias a vila nessa localidade urdiram para que a mesma fosse transferida para outras localidades, culminando com a definição pela povoação do Aquiráz, o que de fato ocorreu em 27 de junho de 1713 com a instituição da vila de São José de Ribamar do Aquiraz, voltando a fortaleza a simples povoado. Fato que não diminuiu o desejo dos habitantes a reaver a dita vila, inclusive do próprio Capitão-mor Manuel Francês que reivindicava a Metrópole retornasse a vila para a fortaleza (1722).

A deliberação real veio no sentido de se criar outra vila junto a fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, ao que se deu em 13 de abril de 1726. A população local clama pela proteção de São José ao edificar e dedicar a pequena ermida defronte ao forte sob sua invocação como se depreende do texto do Professor Liberal de Castro (2012, p. 13):

Quando dos primeiros dias da Vila, como os habitantes somente dispunham da capela da Fortaleza para assistir aos ofícios religiosos, as mulheres muitas vezes se sentiam constrangidas pela importunação dos soldados. A fim de contornar a situação desagradável e para geral alívio dos aborrecimentos, foi erguida uma Igrejinha no exterior do quartel, em suas proximidades, dedicada a São José. A população logo demonstrou simpatia pela nova capela e por seu orago, cuja devoção fortaleceu-se com o estabelecimento de correlações entre o dia da festa do santo e a confirmação do inverno ou da deflagração de uma seca. Transcorrido o tempo, a pequena igreja de São José, demolida, reconstruída e aumentada mais de uma vez, tornou-se matriz da Vila, transformando-se, por fim, na atual Catedral Metropolitana fortalezense.

A data exata da construção da primitiva igrejinha é imprecisa, porém na planta rascunhada pelo Capitão-mor Manuel Francês de 1726 já registrava “No ângulo superior esquerdo da Praça, em frente a Câmara, um pouco ao lado, a capela ou igreja de São José de Ribamar”, “com a nota: reedificou o Capm. Mor” (GIRÃO, 1962, p. 86). Passou a igrejinha de São José décadas até ser oficializada a instituição da freguesia de Fortaleza que ocorreu em 1761 sob a invocação de Nossa Senhora da Assunção e São José de Ribamar.

Assim ficou as duas primeiras vilas da capitania do Siará Grande sob a proteção e benção do atual padroeiro do estado, São José de acordo com a fé católica, devoção que já perdura por quase 300 anos.

Ocorre que em Aquiraz a população soube preservar os signos ligados a temática de São José. Preservou-se o bem maior que é a igreja matriz de São José de Ribamar, segunda mais antiga do estado e sua imagem do padroeiro, escultura do século XVIII envolta em muitas lendas. Encontra-se em bom estado de conservação os demais bens integrados do templo como pinturas religiosas, altar mor, púlpito e imaginária.

Barroso (1962, p. 85)

Em Fortaleza ocorreu o “apagamento” dos bens materiais ligados ao santo padroeiro. Foi demolida a igreja matriz de São José, construção de meados do século XIX e seu cruzeiro que segundo Gustavo Barroso é obra de 1847 do frei Serafim de Catânia. A maioria das peças e bens integrados que pertenciam a igreja de São José, antiga catedral foram perdidas.

Em Fortaleza sobreviveu às comemorações relativas ao dia de São José, que na ausência de bens tangíveis poderia ser alçado a condição de patrimônio imaterial considerado sua relevância para a população local. Fica a sugestão.

Nota: Para atender às determinações legais e criar instrumentos adequados ao reconhecimento e à preservação desses bens imateriais, o Iphan coordenou os estudos que resultaram na edição do Decreto nº. 3.551, de 4 de agosto de 2000 - que instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial e criou o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) - e consolidou o Inventário Nacional de Referências Culturais (INCR). (IPHAN, online).

Armando Farias

BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.
CASTRO, José Liberal de. Bicentenário da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção: o caso singular de uma obra de arquitetura militar com função simbólica. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, 2012.
GIRÃO, Raimundo. Geografia estética de Fortaleza. Fortaleza: Imprensa Universitária, 1959.
IPHAN. Patrimônio imaterial. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/234. Acesso em: 18 mar. 2021.

ሐሙስ 11 ማርች 2021

ANIVERSÁRIO DO RECIFE E DE OLINDA

Olinda com Recife ao fundo
Olinda com Recife ao fundo 
Quadro óleo sobre madeira - acervo particular

As cidades irmãs estão de primaveras.
Cidades repletas de vida e de contraste,
Ora Solenes e vetustas, ora solarengas e viçosas, ora avoengas e recatadas, ora rebeldes e agitadas.


Com a permissão da Deusa Clio, empanando a História, evocando a prosa e poesia a espraiar-se, e erguendo-se exaltar suas belezas, riquezas e grandezas. Olinda, Recife.

Sensibilidade que aflora em Duartinos de nascimento e de adoção! Imortais, filhos ilustres versaram e versa embriagados em paixão, pintar seus encantos e recantos forma uma constelação. Olinda, Recife.

Do passado da Nova Lusitânia, vossas muitas glórias ninguém as tira. Do presente de conquistas, a todos contagia. O dia de hoje mereceis homenagens, honrarias. Por tanto mais vossas primazias. Olinda, Recife.

A quem não conhece um convite! Permita a seus olhos essa visão, sinos em repique.   Alumbramento. Agigantando-se arrebatar seu coração com magia nesse evento. Olinda, Recife.

Olinda e Recife
Olinda e Recife
ABAD (2011, p. 177)


VIVAS

Olinda marés de morros encapelados em verde nuance.
O Recife luminosidade mágica, translúcida, romance.
Olinda iluminura do Brasil, letra capitular, fanal diante do oceano a brilhar.
O Recife dos flavores em suspensão, paixão a brotar em turbilhão.
Olinda memorável Marim dos Caetés, ladeiras, ondulação.
O Recife planície monumental, flamboaiãs, sublime perfeição.  


Armando Farias

ABAD, Gisela (org.). Linda Olinda. Fotografia de Pedro Lobo. Textos de Edson Nery da Fonseca e outros. Recife: Caleidoscópio, 2011.

እሑድ 7 ማርች 2021

DIA INTERNACIONAL DA MULHER – BEATRIZ DE ALBUQUERQUE A PRIMEIRA GOVERNANTE DAS AMÉRICAS

Foram inúmeras as mulheres que fizeram História no Nordeste do Brasil. Falar de todas seria tarefa impossível. Assim optei por citar apenas uma, porém emblemática. Beatriz (Brites na grafia da época) de Albuquerque.

Dona Brites de Albuquerque era uma nobre portuguesa, esposa do primeiro donatário de Pernambuco, Duarte Coelho e filha de Dona Joana de Bulhões e Lopo de Albuquerque, Conde de Penamacor. Por ter assumido o governo da capitania por mais de uma vês é reconhecida como a primeira governante das Américas.

Brites de Albuquerque nasceu em Portugal em 1517, portanto chegou bem jovem ao Brasil. Beatriz fazia parte da poderosa Família dos Albuquerque, arrolados entre os “barões assinalados” do poema Os Lusíadas.

Brites de Albuquerque teve dois filhos, ambos nasceram em Olinda, Duarte Coelho de Albuquerque e Jorge de Albuquerque Coelho. Assumiu interinamente o governo da capitania de Pernambuco pela primeira vês quando o marido, Duarte Coelho foi envolvido em uma intriga e teve que viajar a Lisboa, ocasião que aproveitou para levar os filhos pequenos para completar os estudos no Reino.

Principiou-se esse mal entendido quando da criação do governo Geral do Brasil com sede em Salvador em 1549. Essa forma de governo fora criada pela coroa pelo fato de terem arruinado o sistema de capitanias, porém Pernambuco ficara de fora por ter tido pleno êxito. Administrativamente Olinda passou a ser assistida com uma Câmara Municipal, uma das primeiras criada no Brasil, o Senado de Olinda, informações que constam em carta datada de 15 de abril de 1548 de Duarte Coelho para o Rei Dom João III. Em 1554 Duarte Coelho viaja para Portugal para audiência com o rei, porém como já era idoso vem a falecer em Lisboa.

Com a morte do marido Dona Brites permanece como regente, ocupando o cargo com todas as honras e obrigações devidas, recebendo, inclusive o título de Capitoa. Brites permanece governando até a maioridade dos filhos. Estes regressaram de Portugal por volta de 1660, quando Duarte de Albuquerque assume como segundo donatário. Os dois filhos de Dona Brites tiveram que voltar a Portugal para serem incorporados a armada do rei Dom Sebastião em 1572, aonde feridos vieram a falecer.

Mais uma vez dona Brites assume o comando da capitania de Pernambuco permanecendo no cargo até a sua morte em 1584.

A revista do IAHGP, (Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco) ano 1947, transcreveu o registro da transmissão de poder do filho para a mãe:

“Passar cartas de ofícios e serventes deles e de confirmações, e de tudo o mais que ela vir que é necessário e que cumpra a governança da terra, e possa dar terras de sesmarias, e licenças para se fazer engenhos de águas, e trapiches, e marinhas de sal, e todos os engenhos que se houverem de fazerem toda essa capitania, conforme capítulo de doação...” (CAVALCANTI, 2012, p. 223)

Diante de tão importantes fatos relacionados ao pioneirismo de Dona Brites fica o orgulho de nós nordestinos por termos acolhido em nossa região uma mulher admirável sob todos os aspectos de sua personalidade.

"Dona Beatriz é considerada pelos especialistas como uma das mais ilustres brasileiras, sendo que durante o seu governo, manteve a ordem e a paz da Capitania de Pernambuco, combatendo as insurreições indígenas, legislando e controlando os assuntos dos colonos e construindo e urbanizando núcleos, como Olinda, onde faleceu, provavelmente entre junho e outubro de 1584." (WIKIPÉDIA)

Brasão de Duarte Coelho
Brasão de Duarte Coelho
Freyre (1960, p. 04)

Armando Farias


CAVALCANTI, Carlos Bezerra. Olinda: um presente do passado. Olinda: 2012. 

FREYRE, Gilberto. Olinda: 2º guia prático, histórico e sentimental de cidade brasileira. 3. ed. rev. atual. aum. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1960.

ዓርብ 5 ማርች 2021

A "PARTICIPAÇAO" do Ceará na REVOLUÇAO PERNAMBUCANA

Considerada por historiadores como o único movimento reacionário no Brasil colônia que se pode chamar revolução foi a Revolução Pernambucana ou “Revolução dos padres” que, de fato, trouxe a independência do país de Portugal.

Foi gestada no Seminário de Olinda por padres e seminaristas entre os quais o cearense subdiácono José Martiniano de Alencar. Também teve adesão de ricos comerciantes ligados a  maçonaria e militares, ganhou a participação imediata do Rio Grande do Norte e Paraíba.

O Ceará não chegou de fato a aderir, pois o que seria seu representante, o seminarista e membro da Academia do Paraíso Martiniano de Alencar fora preso em sua terra natal logo que começara a divulgação dos ideais do movimento.

O estopim foi o motim de 6 de março de 1817 no Recife que culminou com o assassinato do comandante da guarda por um oficial. As causas principais que levaram ao movimento foi a insatisfação com as regalias das elites e com a elevação de impostos desde a chegada da família real portuguesa.

Após derrotarem as tropas de Portugal, os revoltosos formaram um governo provisório e difundiram as ideias em outras regiões do Brasil.

Na capitania do Siará foi sob as ordens do governador Francisco Sampaio que o coronel Alexandre Leite Chaves de Melo se aquartelou em Ruças com as forças de Linha, Milícias e até de índios auxiliares do seu comando de fronteira para combater os revoltosos. Dali partira toda a sua ação, prendendo posteriormente no Crato os padres Carlos de Alencar, José Martiniano, Tristão Gonçalves e Dona Bárbara de Alencar, todos engajados no movimento emancipado republicano. Segundo o Historiador Paulino Nogueira, presos, os três últimos foram trazidos para Fortaleza onde ficaram reclusos “em estreitíssimo e imundo calabouço no antigo quartel da 1* linha, entre a cadeia do crime e a fortaleza”. Dona Bárbara ocupou cela separada dos dois filhos que ficaram juntos. Posteriormente por ordem do governador Sampaio todos foram conduzidos a acomodações mais espaçosas e arejadas. Por fim os presos foram conduzidos à Bahia para julgamento.

Falsa prisão de D. Bárbara de Alencar´
BARROSO (1962, p. 305)

A Constituição da nova república, muito avançada para a época, causou dissensões enfraquecendo o movimento. Entre os artigos mais polêmicos estavam o da igualdade de direitos que levaria a emancipação de escravos, e livre culto religioso indo de encontro ao monopólio da Igreja Católica.

Em 19 de maio de 1817 o governo provisório da República de Pernambuco apresenta sua capitulação perante o comando da esquadra que havia sitiado o  porto do Recife.

Pernambuco teve por castigo imposto por Dom Joao VI a perca territorial referente ao hoje estado de Alagoas onde alguns senhores de engenho não aderiram ao movimento, território então de Pernambuco, passando a constituir uma capitania autônoma.

 

 Armando Farias

BARROSO, Gustavo. À margem da história do Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962.